Mecânico cria réplica de monociclo do filme ‘Homens de preto 3’

No exterior, esses monociclos são chamados de wheelsurf

Leandro Silva mostra o seu protótipo de monociclo | O Globo
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Sabe os monociclos motorizados usados pelos Homens de Preto no filme ?MIB³?, em cartaz desde o começo do mês? Quem pensa que é coisa de ficção está enganado... Descobrimos um modelo assim no bairro de Colégio, na Zona Norte do Rio. Foi construído pelo mecânico Leandro Troufas Silva ? e tivemos a ousadia de tentar pilotá-lo!

No exterior, esses monociclos são chamados de wheelsurf (algo como ?surfe sobre roda?) ou monowheel. Há exemplares artesanais em todo o mundo: de projetos movidos a pedal até delirantes modelos com motor V8.

Há cinco anos, Leandro viu a foto de um monociclo motorizado numa revista estrangeira e decidiu fazer igual. Sabia apenas que deveria começar pelo arco externo, que é a base de tudo, e que o motor tinha que ser bem centralizado, para garantir um perfeito centro de gravidade. Um amigo mecânico tentou e desistiu no meio do caminho, mas não ele. A motivação era curiosa.

? Queria fazer uma peça decorativa para a sala de casa. Mas uma peça que andasse ? diverte-se o mecânico.

No primeiro chassi, o motor estava mais à frente do que deveria, causando desequilíbrio. Na segunda tentativa, ficou alto demais e o monociclo pendulava para os lados. Um terceiro projeto baixou o centro de gravidade, melhorando as coisas.

Em teoria, o funcionamento é simples. O motor vai preso a um chassi interno flutuante (um tubo de metal), cuja ligação ao chassi externo (outro tubo) se dá por rodinhas de poliuretano, semelhantes às de patins. Uma roda pouco maior faz a tração.

A trapizonga usa uma salada de peças, mas sempre com a forma obedecendo à função. Para reduzir o peso, os dois descansos e o guidom são de bicicleta (e de alumínio). O banco é de Kawasaki ZX-11 cortado ao meio ? para ficar curto e abraçar o motor. Também entram na receita rodas de escada rolante e de carrinho de carga, além de duas menores, torneadas pelo mecânico.

O tanque é um cantil de alumínio da Segunda Guerra, as pedaleiras são de Yamaha RD 350 e a bateria é de Honda 150 Bros. O freio tem manete normal de moto, mas o sistema é de bicicleta, com aquelas borrachinhas que encostam nas laterais da roda ? funciona, acredite!

O tubo externo é um aro de 65 polegadas, revestido por três pneus de bicicleta cortados e emendados. O peso total do monociclo não passa de 75 quilos.

Teoricamente, basta ligar o motor de Honda CBX 150 Aero, segurar no guidom (que não vira), apoiar os pés nas pedaleiras e acelerar. A posição de condução é mais confortável do que parece e o piloto até fica bem encaixado e equilibrado. A pilotagem? É muito difícil, mas também divertida. Desde que se consiga manter o prumo, claro...

Primeiro é Leandro que se aboleta ao guidom para mostrar os macetes da pilotagem. Numa ruazinha de Colégio, anda para lá e para cá, apenas em trechos curtos. Não raro, bota pelo menos um dos pés no chão. E dá a dica:

- Saia em segunda marcha e freie devagar para não pendular demais, nem para a frente e nem para trás.

Minha vez. Sento, ligo o motor (partida elétrica, um luxo!) e engreno a segunda. Queimando embreagem, saio o mais lentamente possível. Mas não é o suficiente: o eixo interno corre para trás, por instinto aperto o freio e sou jogado para a frente. Sinto-me num daqueles balanços em forma de cavalinho, mas sem controle. Ao menos, o monociclo é baixinho e evitar uma queda iminente em baixa velocidade é fácil.

Nova tentativa. Arranco em terceira e a coisa funciona melhor. Incrível: até consigo andar uns poucos metros sem pôr os pés no chão.

Ao parar, lá vou eu para trás de novo. O repórter fotográfico não contém as risadas e a expectativa diante de possíveis ?fotocassetadas?.

Vou mais uma vez. Saio novamente em terceira, acelero progressivamente e há certa evolução. Mas preciso desviar de um carro estacionado e... como essa coisa faz curva? Não faz! Freio para não bater e lá estou eu catando cavaco.

É preciso inclinar levemente o joelho ou mesmo o corpo para ?puxar? o monociclo para o lado desejado e fazê-lo mudar de trajetória. Mas é algo dificílimo em um veículo alto, curto, sem roda direcional e com aderência ao piso limitada a uma tira de borracha com uns cinco centímetros de largura. Ao menor movimento lateral a impressão é que vou me estatelar como uma jaca. Já suando, tento mais algumas vezes...

A cada tentativa descubro novas referências de equilíbrio e consigo ir adiante. Mas o monociclo é, sem dúvida, o veículo mais difícil que já experimentei.

Um trapezista que soubesse andar de moto provavelmente aprenderia em menos tempo. É preciso recondicionar os reflexos e dominar as forças giroscópicas. É como andar de bicicleta: ninguém nasce sabendo, mas aprende-se treinando e, eventualmente, caindo.

A luz se vai e é hora de me despedir da trapizonga. Leandro, agora sem se sentir pressionado, pilota o wheelsurf com mais facilidade e por distâncias maiores. Mas nada de ir longe, já que esse tipo de veículo não é emplacado. O projeto não parou.

? Pretendo melhorar a dirigibilidade e experimentar um motor elétrico com menos torque. Isso vai facilitar a saída ? explica.

O monociclo foi o primeiro veículo terrestre que não consegui conduzir direito. Mas deixa essa encrenca comigo que eu aprendo... nem que leve anos!



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