“Meu pai é um herói popular”, afirma filho de João Cândido após manifestação da Marinha

O reconhecimento de João Cândido como herói nacional tem gerado controvérsias, especialmente após a Marinha posicionar-se contrária à inclusão do líder da Revolta da Chibata no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria. Em resposta, Adalberto Cândido, o único filho vivo do líder rebelde, criticou a instituição, revelando que os familiares nunca foram contatados pela Marinha e destacando uma aversão à figura de João Cândido.

"Ela não se envolve em nenhum evento relacionado com meu pai. Quando houve a cerimônia de instalação da estátua do meu pai na Praça XV, no Rio de Janeiro, não tinha ninguém da Marinha presente. Parece que nutrem um ódio. Eles deviam agradecer aos marinheiros por terem feito a Marinha evoluir. Mas não quero que meu pai seja herói da Marinha, quero que seja um herói do povo. Meu pai é um herói popular. A verdade é que a Marinha não se atualizou como deveria", disse seu Candinho, em entrevista à Agência Brasil.

Projeto de Lei e Resistência Marítima

A inclusão de João Cândido no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria depende do Projeto de Lei 4046/2021, em trâmite na Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados. A Marinha enviou uma carta oficial ao deputado federal Aliel Machado (PV), presidente da comissão, rejeitando a ideia, descrevendo a Revolta da Chibata como uma página "deplorável" e a ação de João Cândido como um exemplo "reprovável".

Debate e Tramitação Legislativa

O projeto, já aprovado no Senado Federal, aguarda deliberação na Câmara dos Deputados. A relatora, deputada Benedita da Silva (PT), considera a inclusão de João Cândido como uma "reparação histórica". Enquanto isso, o deputado federal Lindbergh Farias (PT) expressou indignação com a posição da Marinha e promete continuar lutando pelo reconhecimento do líder rebelde como herói nacional.

dalberto Cândido, o Candinho, filho de João Cândido Felisberto  (Foto:  Fernando Frazão/Agência Brasil )

O Legado de João Cândido

Filho de ex-escravos, João Cândido liderou a Revolta da Chibata em 1910, contestando os castigos corporais aplicados na Marinha. Após a mobilização, promessas de mudanças foram feitas, mas muitos revoltosos foram presos ou expulsos. João Cândido faleceu em 1969, sem receber reconhecimento oficial de seu papel histórico.

O Embate Histórico

A controvérsia em torno do reconhecimento de João Cândido reflete uma disputa sobre sua reputação após a revolta. Enquanto a Marinha o vilipendia, o movimento negro o exalta como herói. Seu legado ressoa como um símbolo de resistência contra práticas abusivas e desumanas, mas sua memória permanece sujeita a interpretações conflitantes.