Morre escritor O. G. Rego de Carvalho na manhã de hoje

Ele ocupava a cadeira de número 6 da Academia Piauiense de Letras.

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Faleceu, por volta de 10 horas de hoje, o escritor piauiense O. G. Rego de Carvalho. Ele estava internado no Hospital São Paulo em Teresina e era natural de Oeiras. A causa da morte ainda não foi divulgada.

Um dos mais ilustres nomes da literatura piauiense, ele ocupava a cadeira de número 6 da Academia Piauiense de Letras.

O primeiro livro da obra de O. G. Rego de Carvalho, foi o romance ?Ulisses Entre o Amor e a Morte?. Mas foram os clássicos ?Rio Subterrâneo? e ?Somos Todos Inocentes?, este segundo, que conquistou o Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras.

Biografia do escritor

O. G. Rego de Carvalho nasceu em 25 de janeiro de 1930, em Oeiras, Piauí. E atualmente residia em Teresina.

Aos 10 anos de idade, incentivado por uma tia-professora, passou a escrever num jornalzinho destinado aos trabalhos dos alunos. Aos 23, lança seu primeiro livro ?Ulisses Entre o Amor e a Morte? (já com 13 edições), romance que foi muito bem aceito pela crítica, no qual o autor mostrou sua arte em condensar, de forma impressionante, a narrativa. Veja como ele descreve o falecimento do pai: ?Quente era a manhã, em julho, quando meu pai se deitou, as pálpebras baixando. E puro, e distante, e feliz, encarou o céu e o tempo.? Por incrível que possa parecer, esse é um capítulo completo e não apenas um de seus parágrafos.

Na região em que foi criado, os casamentos eram feitos entre familiares para a conservação dos bens da família, o que fazia com que surgissem muitos casos de loucura. Orlando Geraldo Rego de Carvalho diz que Oeiras era ?famosa por seus poetas, músicos e loucos?. Baseando-se nesse clima, testemunhando casos de pessoas ligadas a si, ele escreve sua obra-prima, ?Rio Subterrâneo? (1967, já na 9.ª edição). Adquiri esse romance antes de 1970. Li-o. O enredo e a forma de ele narrar me impressionaram. Consegui seu endereço, e ele o autografou para mim. Devo tê-lo lido umas quatro vezes, de lá para cá. O próprio autor, a partir de então, tomou a iniciativa de me enviar os outros livros que publicou ou reeditou depois. Agora a esposa o tem feito.

Mas esse ?Rio Subterrâneo? não foi o segundo e sim o terceiro livro escrito por ele. O segundo, ?Somos Todos Inocentes?, num estilo mais tradicional, menos profundo, porém com enredo também fascinante, estava guardado e teve lançamento posterior (1971), com o qual, no ano seguinte, conquistou o Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras.

O.G. Rego de Carvalho é, sem dúvida, um grande romancista brasileiro, não devendo nada aos maiores do País. Todos os seus romances são de fundo psicológico. Ele não é um simples contador de histórias nem um regionalista a copiar costumes e linguajar local. Mesmo sendo do Piauí, seu estilo é universal. Vai fundo na alma de suas personagens, perscrutando suas ânsias, medos, seus ?fantasmas interiores?. Suas frases são buriladas, medidas. Embora prosador, existe musicalidade, compasso, em seus textos. O crítico Vidal de Freitas encontrou cerca de 800 decassílabos distribuídos em ?Rio Subterrâneo.?

O seu amor pelas letras é imenso. Para escrever ?Rio Subterrâneo?, abriu mão de postos mais elevados no Banco e até mesmo do casamento na época. Seu esforço mental foi tão grande que foi adoecendo enquanto o escrevia e, à medida que adoecia, passava para o papel suas sensações. Com receio de que o romance não fosse concluído, passou a escrever dia e noite. Terminada a tarefa, teve de entrar em intensivo tratamento.

Cada reedição de seus livros recebe novas correções, novos ajustes. O.G. é um perfeccionista. Nunca se dá por satisfeito. A revisão é lenta e cansativa. Certa vez ele me havia falado que estava trabalhando em um novo romance: ?Era Noite, Afonsina?. Mais tarde me diria que o havia jogado fora, pois estava sob o efeito de remédios que inibiam a criatividade. Ele é tão exigente com o que escreve que de sua bibibliografia constam mais dois livros: ?Amarga Solidão? (1988), mas ele geralmente nem o menciona, e ?Amor e Morte? (1956), que ele proibiu que seja reeditado, proibição válida até para seus herdeiros.

Em 1981 foi lançado o volume ?Ficção Reunida? (hoje na 4.ª edição) e em 1989 o livro-depoimento ?Como e por que me fiz Escritor? (em 2.ª edição). Em 2007 Kenard Kruel publicou o volume ?Fortuna Crítica de O.G. Rego de Carvalho?, com 356 páginas, do qual retiro alguns dados, onde, inclusive, consta um artigo meu. Sua obra também foi analisada a fundo pelo crítico-literário Francisco Miguel de Moura, em um excelente ensaio intitulado ?Linguagem e Comunicação em O.G. Rego de Carvalho? (1.ª ed. 1972; 2.ª ed. 1997).

Em 23 de março de 1996 casou-se com uma grande admiradora, a simpática poetisa Divaneide (Maria Oliveira de) Carvalho, pessoa de elevada cultura, que, à frente da Editora Renoir, além de estar reeditando obras de piauienses famosos, inclusive do próprio O.G., já traduziu ?Ulisses Entre o Amor e a Morte? e um livro de poemas de H. Dobal para o espanhol. É uma dedicada companheira, que tem estado a seu lado, sofrendo com suas dores e se alegrando com suas vitórias.

Infelizmente O.G. teve de parar de escrever. Mas suas obras jamais poderão ser esquecidas.



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