Neta de Jorge Amado leva “Capitães da areia” para o cinema

Cecília Amado escolheu obra do avô para dirigir primeiro longa-metragem

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Atriz durante as filmagens | Divulgação
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Foi aos 14 anos que a carioca Cecília Amado leu pela primeira vez aquela que considera ?a mais cinematográfica? das obras de seu avô, ?Capitães da areia?. ?Foi o livro que marcou minha adolescência. Ficava imaginando aquela molecada correndo pelas ruas de Salvador, dormindo na praia... Lia cada capítulo com a sensação de que estava assistindo a um filme?, conta.

Agora, aos 33, a neta cineasta de Jorge Amado (1912-2001) coloca em prática as impressões da juventude e leva às telas um dos romances mais famosos do escritor baiano. Em fase de pós-produção, ?Capitães da areia? tem estreia prevista nos cinemas para 12 de novembro.

Pedro Bala, Volta Seca, Gato, Boa Vida e os menores abandonados que movimentam o romance são interpretados por jovens desconhecidos do público. Para seu primeiro longa-metragem, Cecília foi buscar atores em oficinas culturais de ONGs que atuam na periferia soteropolitana, como o Olodum, o Ilê Aiyê e o Projeto Axé.

?A seleção foi a parte mais interessante. Trabalhamos com 90 adolescentes por quase um ano até chegar ao elenco principal, com 12 meninos?, explica a diretora. ?O processo de preparação da turma foi emocionante! Eles se abriram, contavam suas histórias de vida, as dificuldades, a superação?.

A opção de trabalhar com atores formados em comunidades carentes foi baseada em experiência anterior da cineasta. Cecília foi assistente de direção da série ?Cidade dos homens? (2004-2005), da TV Globo. ?Acho estimulante trabalhar dessa forma, o resultado é autêntico. Os meninos são da periferia, do Pelourinho principalmente, então havia uma identificação grande com os ?capitães? do livro?.

Jorge Amado comunista

Escrito em 1937, quando Jorge Amado tinha apenas 24 anos e era um defensor ferrenho do comunismo, ?Capitães da areia? carrega no teor político ao falar de jovens em situação de abandono que cometem pequenos delitos em Salvador. Mas Cecília garante que a crítica social presente na obra original não dá o tom de sua adaptação.

?Convivi com meu avô quando ele já passava dos 70 anos. Sua visão de vida já não tinha mais aquele frescor juvenil de quando o livro foi escrito. O Jorge que conheci tinha valores mais maduros, humanistas?, relembra a diretora. ?E o filme terá esse ponto de vista. Falamos da pobreza, das dificuldades e do preconceito que os ?capitães? sofrem. Mas, antes de tudo, é um filme sobre a amizade, de como escolhemos uma família quando não temos uma, da dificuldade em ser adolescente independente da condição social?.

Cecília acredita que Amado aprovaria a releitura cinematográfica de sua história, que, segundo ela, já foi lida por mais de 5 milhões de pessoas no mundo todo. "O Jorge gostava muito de cinema, chegou a escrever um roteiro com o [cineasta] Nelson Pereira dos Santos".

Mas a neta do escritor certamente esperaria ouvir algumas ressalvas - plenamente compreensíveis para ela. "Meu avô tinha muita dificuldade em ver as adaptações que faziam dos livros... Mas consigo entendê-lo. Deve ser estranho ver materializado todo aquele universo que um dia ele inventou".



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