Pai cria máquina para realizar o sonho de filho com paralisia; veja

Pai sonha ver filho andar e se baseou em modelo feito na Argentina.

Avalie a matéria:
Pai cria máquina para realizar o sonho de filho com paralisa | Carolina Paes/ G1
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

Uma máquina de 2 metros de altura e cerca de 40 quilos ganhou lugar especial na casa do ambulante José Dimas da Silva, em Santa Isabel (SP). Para recebê-la foi preciso mudar os hábitos da família: onde antes era a sala virou quarto e vice-versa. ?Foi bom ganhar um quarto novo. Aqui é mais bonito, arejado e me deixa mais perto da máquina?, diz o estudante Hugo Aparecido da Silva. Finalmente, um ano após o pai de Hugo, José Dimas, decidir criar uma máquina que ajudasse o filho a andar, o equipamento começou a ser usado pelo jovem de 16 anos.

Hugo nunca andou sozinho. Uma experiência que desde o começo de novembro está chegando cada vez mais perto de ser realizada. ?Estou andando pela quarta vez já?, dá risada o estudante. ?Nunca fiz isso. É gostoso e diferente, mas muito bom. Quero mais. Não imaginava que andar mexia todas essas partes?. Aos 11 meses a família descobriu em Hugo uma paralisia cerebral, que afetou a parte motora dos membros inferiores do adolescente.

A ideia do simulador veio depois que o pai dele encontrou na internet um equipamento feito na Argentina. Segundo José Dimas, um mecânico fez uma máquina parecida para o filho. Ele tentou comprar, mas custaria US$ 30 mil. Apesar de não ter habilidades práticas, o pai de Santa Isabel, tinha o mesmo combustível que o pai argentino: o desejo de ver o filho caminhando. Depois de alguns meses de trabalho, de investir R$ 2,5 mil e de contar com a ajuda de amigos, Dimas esperou ansioso para que o filho pudesse usar o aparelho.

O uso do equipamento só foi liberado depois que Hugo se recuperou de uma cirurgia feita no joelho, em julho deste ano. Só então as sessões de fisioterapia voltaram e o simulador pode ser testado.

O fisioterapeuta que acompanha Hugo, Silvio Massaki Igarasi, se impressionou com a história. ?Nunca tinha visto algo assim sendo usado para caso de paralisia, em que não se tem uma resposta muscular. Foi a primeira vez. Normalmente usamos esse tipo de máquina em atletas para dar mais mobilidade. Não imaginava que alguém poderia fazer um estímulo mecânico e usar um motor para fazer a função do cérebro. Achei muito interessante?, diz.

Movimentando as pernas

?Com ela meu filho fez algo que nunca tinha feito na vida e isso que é importante. Já é um sonho realizado, o que vier é lucro. Estamos muito animados?, diz Dimas.

Já foram 15 sessões de fisioterapia, mas apenas há quatro o estudante tem usado o simulador. Além de ter que fazer alguns ajustes no equipamento, como a colocação de fivelas nas costas e pernas para dar mais segurança e conforto para Hugo, foi preciso cuidar de alguns detalhes antes de estrear a máquina. ?O uso dela atrasou em um mês, pois tivemos que curar algumas feridas no corpo por ele ter ficado muito tempo deitado no pós-operatório. Além disso tivemos que fazer com que os joelhos dele dobrassem de novo com exercícios manuais?, explica o fisioterapeuta.

Desde que inventou o simulador, Dimas tinha receio do equipamento não ser aprovado. Um medo que dia a dia foi ficando cada vez mais distante. ?Estava com medo dos médicos recusarem, mas toda a equipe olhou a foto que levei no dia da consulta e gostou. Ai você fica aliviado e contente. Depois disso minha esperança na máquina aumentou mais. Por alguns minutos achei que não iam aprovar?, lembra. A opinião do fisioterapeuta só confirmou as expectativas do ambulante. ?Quando as sessões começaram aqui em casa perguntei para ele o que precisávamos para melhorar o Hugo. Ele respondeu muita caminhada. Ai mostrei a máquina.?

E em pouco tempo de uso todo o esforço já vem dando resultado. Hugo vem correspondendo bem ao tratamento sem dores na perna e com alguns efeitos positivos. ?Nas últimas vezes ele está sentindo as pernas formingando, o que no caso dele é um sinal de que os nervos estão melhorando a sensibilidade. Depois disso vem o estímulo motor e a contração muscular. Ai estamos perto para ele conseguir andar?, diz Igarasi.

O fisioterapeuta ainda explica que tudo isso também depende das respostas do organismo e dos estímulos. É preciso muita persistência. ?Tratar o Hugo é bom porque ele é um paciente motivado que tem força de vontade e procura sempre te ajudar quando precisamos dar uma reposta positiva. Além de tudo, ele tem força para vencer mais essa etapa da paralisia cerebral que é bem complicada. Nem todos os pacientes têm essas respostas que ele está tendo. Ele tem bons resultados apesar da doença e chances de um dia andar sem muleta, mas é preciso muito estímulo. Não temos certeza que ele vai ter toda a recuperação que esperamos, mas depende da persistência?, afirma o fisioterapeuta.

De acordo com Igarasi isso deve acontecer pelo estímulo que a máquina causa na articulação do tornozelo, do joelho e do quadril. ?Apenas com exercício manual não conseguimos isso. O estímulo da máquina é contínuo e ajuda na contração da musculatura. Esperamos então desenvolver mais a área motora do cérebro dele para desenvolver a marcha?, explica.

Mas para o pai essa resposta do corpo já é a faísca necessária para ele não parar. ? A resposta foi boa. Fico feliz. O formigamento é bom porque é um sinal que está mexendo algo lá. Está dando certo então?, afirma o ambulante.

Bem calmo e tranquilo, diferentemente do pai agitado, Hugo revela sua opinião sobre a nova "queridinha da família". ? Eu gostei de usar. Gosto de ficar nela. No começo tinha medo de cair?, desabafa. ?Mas depois criei coragem e fui. A vontade de melhorar é maior. Quero sair da cama e devo isso a meu pai também. A sensação das pernas mexendo sozinhas, como se estivesse andando, é gostoso?.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES