Resgate por acaso: remador é salvo por equipe que buscava outros náufragos

Em outubro de 2021, Aaron Carotta, um ex-repórter de TV dos Estados Unidos, embarcou em uma busca extraordinária

Resgate por acaso: remador é salvo por equipe que buscava outros náufragos | Reprodução
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Em outubro de 2021, Aaron Carotta, um ex-repórter de TV dos Estados Unidos, embarcou em uma busca extraordinária: tornar-se o primeiro homem a completar uma volta ao redor do mundo inteiramente por meio de remo, em um barco movido exclusivamente pela força humana. Sua jornada começou na costa oeste dos Estados Unidos. Após uma aventura que se estendeu por aproximadamente um ano e meio, chegou o último dia de maio, em que Aaron Carotta se encontrava remando solitário pelas vastidões do Oceano Pacífico. Nesse momento crucial, infelizmente, o sinal de satélite emitido por seu excepcional barco, um caiaque oceânico de alta tecnologia com 6,5 metros de comprimento, apelidado de Smiles ("Sorrisos" em inglês), deixou de funcionar. 

Embora a interrupção do sinal tenha sido causada apenas por uma falha no sistema de energia do barco, deixando Aaron Carotta sem meios de comunicação com sua rede de amigos em terra firme, o desenrolar subsequente da história se tornaria verdadeiramente dramático. No entanto, em meio a tudo isso, uma incrível reviravolta do destino estava prestes a acontecer. A ausência de notícias de Aaron devido à falha elétrica em seu barco gerou grande preocupação entre seus amigos, que desconheciam seu progresso em direção à Polinésia Francesa. Preocupados com sua segurança, eles entraram em contato com a Guarda Costeira dos Estados Unidos, que prontamente emitiu um alerta de busca e resgate no mar para equipes no Havaí e no Taiti.

Imagem: Aaron Carotta/Facebook/Reprodução 

Por vários dias, embarcações e aeronaves empreenderam uma busca incansável pelo remador perdido nas vastidões do oceano. No entanto, devido à falta de atualizações da posição do remador, que havia sido informada há muito tempo, não foram capazes de encontrá-lo. À medida que o tempo passava, as operações de busca foram interrompidas, mas o alerta permaneceu ativo para qualquer pessoa navegando ou sobrevoando a região, a fim de ajudar na localização do destemido aventureiro americano. Infelizmente, nenhum progresso significativo foi alcançado. 

Pedido de socorro

Quase um mês depois, o ensurdecedor silêncio do remador finalmente foi interrompido por um angustiante pedido de socorro, vindo diretamente de Aaron. Nas primeiras horas da manhã do dia 15, uma enorme onda atingiu o barco do remador, virando-o de cabeça para baixo e impedindo que ele o colocasse novamente na posição correta. Aaron lutou incansavelmente na água por um longo período, esforçando-se para desvirar o barco, até que, exausto, decidiu abandonar o casco invertido e transferir-se para a balsa salva-vidas inflável. 

Imagem: Aaron Carotta/Facebook/Reprodução

Em seguida, utilizando os últimos resquícios de energia de sua bateria, Aaron ativou seu localizador pessoal, um transmissor via satélite que emite sinais de emergência, e fez um apelo desesperado por ajuda. No entanto, as operações de busca pelo remador já haviam sido encerradas, e ele encontrava-se a uma grande distância da área em que havia sido presumido como desaparecido. Além disso, estava mais de 1.000 quilômetros afastado da terra firme mais próxima. Diante dessas circunstâncias desafiadoras, as chances de que o sinal de emergência emitido por Aaron fosse detectado eram mínimas.  

Pai e filho desaparecidos no mar

Uma semana antes do infortúnio que atingiu Aaron, o barco de outro navegante americano, David Wysopal, também interrompeu a transmissão de sua localização enquanto atravessava o Oceano Pacífico com seu filho Zachary, de apenas 12 anos. Eles estavam a bordo de um veleiro com pouco mais de 13 metros de comprimento. Coincidentemente, essa interrupção ocorreu na mesma região do oceano.

Imagem: Daivd Wysopal/Facebook/Reprodução

O desaparecimento do veleiro, agravado pela presença de uma criança a bordo, desencadeou uma intensa operação de busca. No entanto, assim como a busca pelo remador americano, ela não obteve sucesso. Até o momento, o paradeiro do pai e do filho permanece desconhecido, sendo oficialmente considerados "desaparecidos". Essa situação tem causado angústia e aflição à mãe do menino, Belkis González, de origem nicaraguense, que teve um relacionamento anterior com David Wysopal. No entanto, de forma irônica, foi o desaparecimento de David e seu filho que acabou resultando no resgate do remador Aaron Carotta, graças a uma extraordinária reviravolta do destino. 

Alerta na hora certa

 No mesmo dia em que o barco do remador virou e ele ativou seu localizador de emergência, coincidiu com a última operação de busca em andamento realizada pela equipe de resgate baseada no Taiti, em busca do veleiro do pai e filho desaparecidos. Em um momento de sincronicidade extraordinária, o sinal de socorro emitido por Aaron foi captado por um dos aviões envolvidos na busca pelo veleiro, a muitos quilômetros de distância. Ao receber o sinal, a equipe de resgate reorientou-se imediatamente em direção ao local, acreditando encontrar pai e filho à deriva no mar. No entanto, para surpresa de todos, quem estava lá era o próprio remador, lutando contra uma balsa inflável danificada, com água alcançando seus tornozelos e um tubarão ameaçador ao redor. Apenas algumas horas haviam se passado desde que Aaron acionara o alarme com a carga restante de sua bateria. Foi verdadeiramente um golpe de sorte monumental. 

Navio só chegou depois

Quando a equipe de resgate alcançou o local onde o remador náufrago estava, flutuando em uma balsa cada vez mais murcha e inundada, uma dificuldade inesperada surgiu. A equipe estava a bordo de um avião e não de um helicóptero, o que impossibilitava o desembarque de resgatistas no mar e o embarque do náufrago. Além disso, a distância até o ponto de resgate era longa demais para a autonomia limitada dos helicópteros. Diante dessa situação desafiadora, a solução encontrada foi lançar suprimentos e equipamentos, incluindo um novo localizador, bem próximo à balsa, e solicitar que Aaron aguardasse o resgate, que teria que ser realizado por meio marítimo.

Imagem: Reprodução

O centro de operações de busca foi informado sobre a descoberta inesperada (procurando por dois náufragos e encontraram um terceiro completamente alheio ao caso) e orientou alguns navios que estavam na região a resgatar o remador. Apesar disso, a embarcação mais próxima, o cargueiro Baker Spirit, levou aproximadamente 30 horas para chegar ao local. Ao embarcar na embarcação, o remador fez questão de posar para uma foto com toda a tripulação que o resgatou no mar. Em seguida, o navio seguiu viagem em direção ao Havaí, levando consigo o náufrago, que só desembarcou em Honolulu no último domingo, em excelentes condições físicas, conforme ele mesmo celebrou em suas redes sociais. No entanto, a situação não é a mesma para o pai e o filho que estavam a bordo do veleiro desaparecido, e que acabaram, de forma indireta, contribuindo para a sobrevivência do remador. Até o momento, não há informações sobre o paradeiro deles. Os acontecimentos que vieram à tona nos últimos dias apenas levantaram mais questionamentos sobre o caso, aumentando ainda mais as incertezas e dúvidas envolvendo essa trágica situação. 

Menino teria sido sequestrado

De acordo com a mãe do menino desaparecido, a nicaraguense Belkis González, ele teria sido "sequestrado" pelo pai, David Wysopal, quatro anos antes. "Ele me pediu para passar um tempo com o menino, no México, onde morava, no próprio barco, mas nunca mais o devolveu", disse a mãe de Zachary, ao noticiário nicaraguense Onda Local, esta semana. "Eu, então, registrei queixa e ele passou a ser investigado por sequestro. Nunca tornei isso público, porque temia que o David, por ser um sujeito violento quando bebe, descontasse no menino. Mas, agora, que eles estão desaparecidos, isso talvez ajude nas buscas". Belkis acredita que David Wysopal possa ter apenas "fugido com o menino e se escondido em alguma ilha", daí ter desligado os equipamentos que permitiriam rastrear o seu barco no mar, embora amigos do navegador garantam que o veleiro dele, por ser antigo, não possuía recursos como rastreadores automáticos nem telefone via satélite - apenas um localizador manual, que ele mesmo acionava, quando desejava informar onde estava.

Imagem: Arquivo Pessoal

Na última comunicação que fez, no dia 13 de maio, um mês após ter partido do México com o filho (que ligou para a mãe na véspera da partida, dizendo que "ficaria fora uns 3 ou 4 meses"), David informou que "navegava a cerca de 900 milhas náuticas da Marquesas", uma das ilhas que formam a Polinésia Francesa - mesma região onde, por sorte, estava o remador americano. Mas David, talvez, não estivesse rumando para lá, como se supôs — e sua rota sugeria —, e sim na direção de outras ilhas do Pacífico, bem mais adiante, como Fiji ou Samoa, onde, de acordo com o que teria comentado com amigos, "buscaria emprego em algum estaleiro". "Torço para que isso seja verdade", diz a mãe do menino desaparecido. "Ele é um garoto muito esperto, e tenho certeza que fará contato comigo, assim que desembarcar em alguma ilha", diz, esperançosa.

Em busca da mesma sorte

Embora as buscas pelo veleiro de pai e filho sumidos há quase 50 dias já tenham sido "oficialmente encerradas", como informam os comunicados emitidos pela Guarda Costeira dos Estados Unidos, as equipes de resgate adotaram a mesma conduta do caso do aventureiro americano: pediram a todos os navegantes e moradores das ilhas da região que fiquem "atentos" quanto a algum sinal do barco e seus dois ocupantes. Uma das esperanças é que eles venham a ter a mesma sorte do remador, que graças a uma simples casualidade (a busca por um acabou salvando a vida de outro) foi salvo. Não fosse isso, o destino de Aaron Carotta fatalmente teria sido outro, e bem mais trágico, como já ocorreu com outros aventureiros que também tentaram cruzar a remo o maior oceano do planeta movidos apenas pela força dos braços, e ficaram pelo meio do caminho.

(Com informações do UOL)



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