“Só quero ir para casa”, diz homem que vive há cinco dias em aeroporto

Sensibilizados, funcionários pensam em fazer vaquinha para ajudar homem de 31 anos.

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Nos terminais do aeroporto internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, existe uma pergunta que não espanta os funcionários. Questionar e procurar por uma pessoa que está morando por ali é visto com certa naturalidade por quem está no saguão todos os dias. "Ixi, são tantos que ficam uns dias por aí", diz uma faxineira. "Homem não lembro de ter visto, mas tinha uma senhora... Mas já foi embora", confirma a atendente de uma cafeteria.

Sentado em um dos clássicos bancos azuis com suporte para braços separando os assentos, está J*. Exatamente no local em que uma sorridente funcionária, que não quis se identificar, disse que estaria. "Ah, só pode ser o J.", afirmou quando questionada sobre o mais novo "morador" do aeroporto.

? Ele fica no outro mezanino e só chora. Está aí desde domingo. A gente está querendo fazer uma vaquinha para comprar a passagem para ele.

A indicação foi precisa. O único equívoco foi em relação ao choro. Com calça jeans, sapatos sociais pretos e um casaco marrom ? doado por um funcionário do aeroporto ? J., de 31 anos, segura um livro de passagens da Bíblia e lê tranquilamente.

? Nem lágrimas eu tenho mais para chorar. Chorei muito sem parar já.

Desde domingo (21), o rapaz se instalou no mezanino do terminal de passageiros 2, ala D, ao lado da delegacia da Polícia Civil do aeroporto de Guarulhos. Não sai do lado de sua mochila, de sua pequena mala de rodinhas e do cobertor, recebido do mesmo funcionário que deu o casaco. Nascido em Rio Largo, Alagoas, J. morava em Maceió e estava desempregado quando, após conhecer uma pessoa na internet, recebeu uma proposta de trabalho em São Paulo.

? Eu conheci uma pessoa por um joguinho chamado Tibia, é um joguinho de RPG e muita gente joga. Eu jogava em uma lan house e acabei conhecendo um homem e ele perguntou se eu tinha Facebook, MSN e eu não tinha, e ele falou pra gente conversar em uma sala de bate papo.

Depois de cerca de três semanas de troca de e-mails e conversas por chat, J. ficou convencido de que sua vida poderia mudar em São Paulo.

? Caí na lábia porque é uma conversa muito bonita, que eu ia arranjar emprego aqui em um instante. Perguntou se eu sabia dirigir e falou que aqui eu conseguia rapidinho trabalho de motorista e que ia me dar uma cortesia, uma passagem.

Com R$ 120 no bolso, embarcou. No entanto, quando chegou a Guarulhos, o suposto empregador levou J. para uma casa e o prometido emprego não existia. Seu dinheiro ficou com ele e J. diz que se tornou um ?prisioneiro?.

? Não sei onde era [a casa], só sei que o nome do bairro é São Bernardo. Nos primeiros dias ele foi um amor de pessoa, mas depois me trancou em casa eu comecei a lavar prato, lavar roupa e ele me trancava no quarto. Tinha vezes que me dava comida, tinha vezes que não dava.

Após diversos dias nessa situação ? J. calcula que tenha ficado quase um mês assim ? ele conseguiu fugir após um descuido de seu empregador que, segundo ele, foi tomar banho e não trancou a casa.

? Não queria denunciar, não queria nada. Só queria fugir. Se eu visse ele de novo, eu diria que não vou julgar, não vou brigar, que eu perdoo.

Fugiu. Na rua, após longa caminhada, J encontrou um grupo de pessoas que o ajudou.

? Falei que queria ir para o aeroporto porque eu me sinto mais seguro. Me deram dinheiro e fizeram um mapa. Ficaram comigo no ponto de ônibus e me ensinaram a chegar aqui.

Com as indicações do grupo, J. chegou ao metrô, fez baldeação, pegou mais um ônibus até Guarulhos e, finalmente, encontrou o aeroporto. Desde então, os funcionários têm sido, como ele mesmo os define, seus ?anjos da guarda?.

? Eles me deram comida, foram anjos que nem sei como explicar. Me levaram para a assistência social aqui do aeroporto e eles me levaram a um abrigo, mas não quis ficar lá.



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