“Cadeira sambista” criada por internas adolescentes ganha prêmio robótica

As adolescentes, que cumprem medidas socieducativas por infrações à lei, criaram o protótipo

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Deu samba o projeto que dez adolescentes internas no Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase), no Rio, apresentaram na semana passada em um dos maiores concursos de robótica estudantil do mundo, o First LEGO League 2013, na Alemanha. As meninas foram premiadas com o segundo lugar no concurso, que reuniu 54 equipes de 35 países, ao encontrarem uma solução para facilitar a evolução de integrantes da ala das baianas da Velha Guarda da Escola de Samba União da Ilha. Por causa da idade avançada, elas têm dificuldade em desfilar com as fantasias, que pesam até 30 kg.

As adolescentes, que cumprem medidas socieducativas por infrações à lei, criaram o protótipo de uma cadeira capaz de imitar os tradicionais giros da baiana na avenida. Com isso, podem desfilar sentadas, controlando com os pés os movimentos da máquina, usando apenas dois botões. O vídeo de animação apresentado no torneio mostra outra criação das meninas: uma Sapucaí formada com peças de Lego, onde uma arquibancada lotada de bonecos aplaude o desfile do casal de mestre-sala e porta-bandeira, carros alegóricos, o recuo da bateria, e finalmente, a ala das baianas.

Embora a ?cadeira sambista? tenha sido desenvolvida por 10 adolescentes, apenas duas foram à cerimônia na Alemanha, e, ainda assim, porque, duas semanas antes da viagem, a Justiça modificou o regime de internação das meninas, que passou de internato para semi-liberdade. As outras oito, por não poderem deixar as dependências do Degase, ficaram no Brasil, torcendo pelo prêmio. Convidada em fevereiro para participar da competição, a equipe teve de desenvolver a ?Cadeira Sambista? em apenas três meses. E para isso, contou com a consultoria de outra equipe carioca, os FrancoDroids, do colégio Liceu Franco-Brasileiro.

O trabalho das meninas contou com a coordenação da professora Sandra Caldas, que, há 13 anos, dá aulas no Degase. Em 2011, com outro grupo de internos, Caldas bateu mais de 250 mil projetos inscritos por 107 países e venceu o Prêmio Microsoft Educadores Inovadores, nos Estados Unidos, também com um protótipo de Lego. No entanto, naquele ano, ela teve de representar o grupo sozinha no exterior.

? Ficar em segundo lugar dessa vez foi ótimo para nós. Essa é uma das maiores competições de robótica do mundo. Só estavam ali os melhores de cada país. Elas viram que são capazes de fazer alguma coisa boa. E isso é ótimo para a auto-estima delas. Muda paradigmas ? disse Caldas.

Projeto Lego

Em 2008, a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc), a Lego Foundation e o Degase firmaram acordo para criar oficinas de arte da construção em Lego. O objetivo é estimular menores que cumprem medidas socioeducativas na busca de soluções responsáveis e criativas na produção de animações e peças de robótica.

Para o torneio, as meninas tiveram de procurar um problema na comunidade e tentar solucioná-los. A ideia da ?cadeira sambista? surgiu após o grupo conversar com membros da União da Ilha, escola de samba vizinha a uma das unidades do Degase.

? Nós prestigiamos a União da Ilha até porque elas queriam levar o samba para a competição. Daí nós ouvimos os relatos da Velha Guarda da escola e decidimos criar a cadeira ? contou Caldas.

O sucesso do protótipo foi tamanho que a professora já chegou a conversar com engenheiros de mecatrônica para tentar criar uma ?cadeira sambista? em tamanho real. Até o custo já foi estimado: U$ 2.400.

? Seria ótimo que as baianas e toda a Velha Guarda pudessem ter uma cadeira dessas, pois nós trabalharíamos contra a depressão ao reincluí-los no contexto social onde viveram por toda a vida ?avaliou a psicóloga Sueli Schutof, pesquisadora em terceira idade.

Degase

Mas o ambiente onde as meninas elaboraram o projeto ainda está longe de ser propício ao empreendedorismo. No último sábado, três menores fugiram da unidade do Degase na Ilha do Governador, mas dois foram recapturados momentos depois. Já na semana anterior, outros 26 internos conseguiram escapar, e oito continuam foragidos. A unidade abriga 133 menores, mas tem capacidade para apenas 120.

Em entrevista ao RJ TV, o diretor geral do Degase, Alexandre Azevedo de Jesus, afirmou que o departamento registrou um aumento de apreensão de menores na marca de 122%. Ainda segundo Azevedo, 376 novos servidores serão incorporados ao departamento ?nas próximas semanas?. O Degase não realizava concurso público desde 1998.



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