Celulares BlackBerry se tornam motivo de vergonha para donos

O BlackBerry costumava ser ostentado pela elite e pelos poderosos.

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Rachel Crosby fala sobre seu celular BlackBerry da mesma maneira que alguém poderia falar sobre um parente que causa embaraços. "Tenho vergonha dele", disse Crosby, representante de vendas em Los Angeles, que conta não mostrar mais seu BlackBerry quando participa de jantares e conferências de negócios. Em reuniões, ela diz esconder o BlackBerry por sob seu iPad, por medo de que os clientes formem opinião negativa sobre ela caso o vejam.

O BlackBerry costumava ser ostentado pela elite e pelos poderosos, mas as pessoas que ainda têm um deles dizem que o aparelho se tornou motivo de zombaria e desdém da parte das pessoas equipadas com o iPhone e os mais recentes celulares Android.

A Research in Motion (RIM) talvez continue a encontrar sucesso com a venda do BlackBerry em países como a Indonésia e a Índia, mas nos Estados Unidos ela se vê reduzida a menos de 5% do mercado de celulares inteligentes --ante dominantes 50% apenas três anos atrás. O futuro da companhia depende de uma nova família de modelos cujo lançamento foi postergado diversas vezes e agora devem chegar ao mercado no ano que vem.

Enquanto isso, a RIM registrou prejuízo líquido de US$ 753 milhões no primeiro semestre deste ano, ante lucro de mais de US$ 1 bilhão no período em 2011.

Entre os mais recentes sinais de perda de prestígio: quando Marissa Mayer assumiu como presidente-executiva do Yahoo, um dos seus primeiros passos para reconstruir a imagem antiquada da companhia foi substituir os BlackBerrys dos funcionários por iPhones e celulares Android. O BlackBerry talvez persista em Washington, Wall Street e entre os profissionais de Direito, mas no Vale do Silício eles são tão raros quanto gravatas.

A lista de amigos que no passado costumavam se comunicar regularmente pelo serviço de mensagens instantâneas do BlackBerry, o BBM, não para de encolher, e os proprietários do aparelho não economizam palavras sobre o que gostariam de fazer com seus celulares.

"Gostaria de destrui-lo com um bastão de beisebol", diz Crosby, depois de esperar três minutos pelo carregamento do navegador em seu BlackBerry, e aí perder a conexão porque acabou a bateria. "Não se pode fazer nada com ele. Teoricamente seria possível, mas é tudo uma grande enganação".

A animosidade cultural entre os devotos do BlackBerry e todo mundo mais só se agravou ao longo dos últimos 12 meses, quando empresas que anteriormente forneciam BlackBerrys --e nenhum outro celular-- aos seus funcionários começaram a ceder aos pedidos de seu pessoal e substituir os modelos antigos por iPhones e celulares Android.

O Goldman Sachs recentemente ofereceu ao seu pessoal a opção de trocar o BlackBerry por um iPhone. O importante escritório de advocacia Covington & Burling fez o mesmo por insistência dos advogados mais jovens. Até mesmo a Casa Branca, que usava o BlackBerry por motivos de segurança, recentemente começou a permitir o uso do iPhone.

(Alguns membros da equipe do presidente suspeitam que a decisão tenha sido influenciada por Obama, que prefere usar o iPad em seus briefings de segurança nacional. Consultado, um porta-voz da Casa Branca não quis comentar.)

REJEIÇÃO

Lá fora, no mundo, os insultos continuam. Victoria Gossage, 28, que trabalha no departamento de marketing de um fundo de hedge, participou de um retiro empresarial no Piping Rock Club, um country club fino em Locust Valley, Nova York, e pediu um carregador de celular ao recepcionista. "Primeiro ele respondeu que sim, mas ao ver meu celular falou: "mas não para isso".

"Você termina se acostumando a esse tipo de rejeição", disse.

"Os usuários do BlackBerry são como os do MySpace", desdenha Craig Robert Smith, músico em Los Angeles. "Devem usar o AOL Instant Messenger para seus chats".

Os condenados ao BlackBerry dizem que sofrem vergonha e humilhação pública ao verem seus colegas usando aplicativos de redes sociais que não estão disponíveis para seus aparelhos, tirarem fotos com resolução mais alta e navegarem com sucesso pelas ruas --e pela internet-- com browsers superiores e um sistema de GPS mais eficiente.

Novas indignidades surgem porque eles precisam terceirizar tarefas como procurar endereços, comprar passagens, fazer reservas em restaurantes ou procurar placares de esportes, recorrendo a namorados, amigos ou colegas equipados com iPhones e celulares Android, que atendem esse tipo de pedido a contragosto.

"SINTO-ME INÚTIL"

"Sinto-me completamente inútil", diz Gossage. "Você vê as pessoas fazendo tudo isso com seus celulares e tudo que tenho a alegar em resposta é que posso conversar com minha família em nosso grupo no BBM".

Ryan Hutto, diretor de uma companhia de informações de saúde em San Francisco, diz que frequentemente precisa recorrer a outras pessoas, usualmente sua mulher, para ouvir música, procurar informações de navegação e descobrir placares de jogos. "Depois de duas ou três perguntas, as pessoas começam a se irritar", diz.

Sua mulher, Shannon Hutto, diz, com um suspiro: "Sempre que saímos juntos, preciso procurar o mapa com meu celular. Se estamos procurando um restaurante, eu é que tenho o aplicativo do Yelp. Se precisamos de reserva, eu é que recorro ao Open Table. Parece que sou a secretária dele".



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