“Teresina é a capital do calazar no país”, diz infectologista

A afirmação é do infectologista Carlos Henrique Nery, que constatou que a doença, em 12 anos, matou mais que a dengue.

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Este ano já foram registrados 63 casos com uma morte. | Reprodução
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Embora a dengue tenha atraído mais atenção das autoridades de saúde nos últimos anos, outra ameaça, que mata ainda mais, está à espreita: a leishmaniose visceral, ou calazar. Recentemente, foi divulgado que, de 2000 a 2011, a doença matou mais que a dengue em nove estados brasileiros.

A leishmaniose visceral, ou calazar, é uma doença transmitida pelo mosquito-palha ou birigui (Lutzomyia longipalpis) que, ao picar, introduz na circulação do hospedeiro o protozoário Leishmania chagasi.

Os sintomas começam com uma febre leve, mas que pode durar vários dias. Em seguida a pessoa fica pálida e percebe-se geralmente aumento do baço e do fígado, entre outros problemas.

Em Teresina, apesar dos números ainda preocupantes, dados do Centro de Controle de Zoonoses mostram que a quantidade de casos e de óbitos vem caindo nos últimos anos. De 1999 a setembro deste ano, foram registrados 1.746 casos da doença em humanos, com 102 óbitos.

De janeiro a setembro deste ano, foram identificados 63 casos de calazar humano, com um óbito. O mesmo número de casos foi registrado ao longo de todo o ano passado ? no entanto, 2011 registrou seis óbitos pela doença. Em 2010, foram 73 casos, com nove mortes.

Em 2011, o centro de zoonoses examinou 13.255 cães, dos quais 5.389 mostraram-se sororreagentes (positivos) para a doença. Isso perfaz um total de 40,66% dos cães. Até junho deste ano, o centro havia examinado 7.470 cachorros, com 2.199 resultando como sororreagentes ? um total de 29,44%.

No entanto, o médico Carlos Henrique Costa Nery, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e estudioso da doença, alerta que o calazar está em plena expansão e fora de controle.

?Antes, essa zoonose era encontrada apenas no meio rural, mas hoje está difundindo-se nos espaços urbanos. Teresina é um dos primeiros pontos pelos quais essa expansão começou. Por isso, podemos dizer que é a capital do calazar?, argumentou o médico.

Mas por que a leishmaniose visceral não chama tanto a atenção quanto a dengue? ?Embora mate mais, o calazar é mais específico. A dengue atinge um público bem maior, chegando a todas as camadas sociais, pois tem uma transmissão mais intensa?.

O médico criticou a abordagem das tentativas de combate ao calazar atualmente realizadas no país. ?Toda política pública de combate a uma doença deve ter embasamento científico.

O que vemos é que as campanhas de combate ao calazar, infelizmente, ainda focam bastante nos animais doentes, ou seja, no reservatório. Isso não resolve.

Seria muito mais eficiente combater o vetor, que é o inseto. No caso dessa doença, a ciência é claramente desafiada pelas autoridades públicas?, declarou Nery.

O médico finalizou argumentando que os recursos hoje empenhados no sacrifício de cães contaminados seriam melhor aplicados em ciência e em pesquisas voltadas para o controle do mosquito palha, que pode aparecer em jardins e quintais, por exemplo.



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