Festa do Divino: uma história de tradição e fé.

Festa do Divino: uma história de tradição e fé.

Festa do Divino (2009) | Foto: Denison Duarte
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A Igreja Católica celebra o Dia de Pentecostes após cinqüenta dias da Páscoa, uma das mais importantes festas móveis do calendário litúrgico, também chamada Festa do Divino. Em várias partes do mundo, as comemorações são feitas com grande pompa e manifestações populares, antecedidas de peregrinações ou peditórios destinados a arrecadar recursos para o grande dia.

A Festa do Divino tem sua origem atribuída a uma promessa feita, ainda no Século XIV, pela rainha D. Isabel, de Aragão, casada com o rei D. Dinis, de Portugal, ao invocar o Espírito Santo em favor da pacificação dos conflitos familiares que punham em risco a própria unidade do reino. Com o tempo, espalhou-se pelas colônias portuguesas e pelo mundo ibérico, e, atualmente, pode considerar-se como uma festa universal das mais ricas em simbologia. Até mesmo os países da América do Norte incorporaram essa secular tradição, realizando cortejos e solenidades com extraordinária afluência popular.

Em todo o Brasil, grandes e variadas são as manifestações religiosas alusivas ao Dia de Pentecostes, especialmente nos Estados do Maranhão, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Goiás, Tocantins, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em vários Estados, Governadores, prefeitos, parlamentares e outras personalidades costumam prestigiar a Festa do Divino, inclusive participando do Cortejo Imperial.

Pela participação ativa nos eventos, autoridades e outras personalidades dos cenários social e político auferem prestígio e reconhecimento públicos.

Comenta-se que, em Santa Catarina, o esplendor da Festa do Divino deve-se à força que lhe emprestavam os colonos açorianos, reproduzindo os elementos e personagens da cerimônia com que, sob influência da Rainha Santa, os membros da realeza (imperador, imperatriz, alferes, capitães, damas e pagens) passaram, anualmente, a entregar suas insígnias numa igreja, em penhor de agradecimento pela graça alcançada.

No Piauí, sabe-se que algumas cidades, como Valença, Simplício Mendes e Amarante, mantiveram, por longos anos, a tradição de verdadeiras ?desobrigas? masculinas à cata de esmolas. Um grupo de homens percorria os povoados, carregando os símbolos do Divino (pomba e bandeira), em peditórios com muita cantoria de caixa e rabeca. Em Oeiras (antiga Capital), destaca-se o envolvimento de pessoas abastadas, que distribuem grandes quantidades de carne bovina para os pobres. Noé Mendes de Oliveira(1) designa esses cortejos como ?Bandeiras do Divino?.

Em Amarante, segundo Nasi Castro (2), a Festa se caracterizou também, desde o início do Século XX (há registros de 1907) , como encargo de famílias de operários. A descendência de uma dessas famílias tem garantido a continuidade da ?promessa?, mas, nos últimos anos, a Festa vem ganhando expressão e atraindo pessoas de várias localidades, especialmente pela beleza plástica da Procissão das Insígnias (Cortejo Imperial), antes da Missa Solene, com acompanhamento da Banda Municipal Nova Euterpe.

O Tríduo do Divino, que era realizado em ambiente doméstico e em círculo restrito às pessoas mais próximas, ultimamente vem sendo desenvolvido com uma procissão luminosa, em cujo trajeto é recitada a Coroa do Divino (devoção originária de uma exortação do Papa Leão XIII), com paradas estratégicas em algumas residências, a cada Mistério. Escolhem-se três mordomas, em cujas residências se dá o pernoite da Pomba e da Bandeira, cada uma ficando responsável pelo cortejo de seu dia.

No quarto e último dia, o Terço de Encerramento da Festa reúne muitas famílias da Vila Nova e de outros bairros da cidade, após o que, ao estilo dos ?bodos? açorianos, distribuem-se bolo, café e chocolate quente, enquanto rabequeiros e caixeiros desenvolvem a última cantoria.

Os esforços de Josefa Pereira de Araújo (D. Dedé), desde o início dos anos 1940 até sua morte, em 1984, para dar continuidade à Festa do Divino e emprestar-lhe feição de festa para os pobres, merecem toda a reverência. Pouco antes de falecer, D. Dedé pediu aos atuais festeiros que não deixassem o povo da Vila Nova esquecer essa devoção.

Por tudo isso, e por reconhecer a importância da preservação das tradições da cidade e da valorização das manifestações religiosas de seu povo, a Paróquia de São Gonçalo, através da Comissão Organizadora, convida a comunidade piauiense para a FESTA DO DIVINO 2010.

1) OLIVEIRA, Noé Mendes. Folclore brasileiro: Piauí. 3. ed. Teresina: Fundação Cultural Mons. Chaves, 1999. p. 67.

2) CASTRO, Nasi. Amarante: folclore e memórias. [Teresina]: [s.n.], [1993?]. [Projeto Petrônio Portella]. p. 109.



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