Política Fim de Feira

Política Fim de Feira

DEIUSVAL COMENTA A POLÍTICA | DIVULGAÇÃO
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Deusval Lacerda de Moraes

Pós-Graduado em Direito

No fim dos anos 1960, eu era garoto em São João do Piauí e meu pai Dico Moraes exercia atividade comercial na Praça Noé Carvalho, onde ficava o Mercado Público que, por ser na área central da cidade, nos anos 1980 foi removido para a Praça do Manuca (Praça em que foi criada a valorosa deputada petista Rejane Dias). No dia da feira, nas segundas, cedinho vinha o pessoal vender ao redor do mercado produtos de origem rural e das vazantes do Rio Piauí, que à tarde, por ser inviável voltar para casa com o restante desses alimentos perecíveis, começava a barateá-las, e quando chegava ao fim da feira, que só tinha bêbados, encrenqueiros e desocupados e que ninguém mais se interessava pelas compras, aí alguns feirantes ofereciam a sobra até de graça.

Volvendo à política como mecanismo de fazer o bem à sociedade, sabemos que o bom governante quando se encaminha para o fim do mandato e que por isso tem a função de preparar o seu partido juntamente com as agremiações coligadas para a disputa sucessória com vistas a continuar a sua obra meritória em favor da coletividade, o que sempre se viu na grande maioria das democracias modernas em qualquer parte do mundo foi que os postulantes ao cargo governamental gravita em torno do mandatário apresentando credenciais políticas, administrativas e éticas necessárias para granjearem credibilidade perante o poder político decisório capitaneado pelo governante. Ou seja, o governante inarredavelmente é o epicentro atrativo e indutor do seu processo político-eleitoral sucessório.

Mas pelo andar da carruagem não é o que está acontecendo com a sucessão do governador Wilson Martins (PSB). O descompasso vem desde o começo do governo em 2011. Primeiro, o vice-governador Zé Filho (PMDB) sempre disse que se assumir o governo do Estado, com a desincompatibilização do titular para a disputa do Senado Federal, é candidato à reeleição. Mas se percebe que nunca reuniu condições eleitorais ideais para tornar exequível o seu projeto de cunho eminentemente pessoal. Segundo, o próprio governador, em esparrela política primária, disse no dia 21 de junho nos festejos de São João do Piauí que o seu candidato sucessor seria peemedebista, e por direito adquirido, já que os petistas e pessebistas já tiveram os seus governadores, como se a política fosse uma ciência exata.

Dito isso, o senador Wellington Dias saiu do governo Wilson Martins e criou uma ruptura político-eleitoral nas entranhas da sua governabilidade sem precedentes na historiografia política do Piauí, pelo fato do governante simplesmente menosprezar aquele que além de ser o seu candidato natural e consagradoramente eleito foi o responsável direto pelas suas candidaturas vitoriosas nas eleições de 2006 e 2010. Nunca se viu tamanha soberba. Mas paga preço alto, pois daí para cá nunca mais teve sossego para governar em razão dos problemas políticos sobrepujarem os problemas administrativos. E para piorar, veio o rompimento do PSB com o governo Dilma que agrava o já anêmico governo piauiense.

Como o PSB não tem liderança com musculatura estadual, pois chegou ao Palácio de Karnak pelas mãos dos outros, o senador Wellington Dias ser o candidato que vai enfrentar os governistas e Zé Filho sem qualquer chance por pura escassez de votos, sobrou o Sílvio Mendes (PSDB) que, segundo os debates eleitorais em 2010, tem repulsa pessoal pelo governador do Piauí. E considerando a entrevista dada pelo tucano na segunda-feira, dia 28 último, fazendo o papel do antipolitico, com escaramuças com o PMDB, quando um diz que não aceita ser o vice do outro, e a falta de perspectiva para triunfar, é evidente que em Teresina Wellington Dias se sairá muito bem e no interior do Estado não há que falar, é maioria acachapante.

Para realçar, reproduzimos trechos do que disse o jornalista Paulo Fontenele (Portal Az) em reflexão com o título O canto de agonia (postado em 30/10/2013): ?O debate da sucessão estadual no Piauí ganhou um capítulo especial nesta semana onde o ex-prefeito de Teresina Sílvio Mendes acabou se transformando em pivô de um episódio envolvendo ele, o PMDB e integrantes do seu próprio partido, o PSDB. Sílvio Mendes reagiu, ao seu estilo ? com arrogância -, à rejeição ao seu nome, pela cúpula peemedebista, como candidato a governador se o PMDB assumir o governo com o vice-governador Antônio José de Moraes Souza Filho?. E disse mais: ?Aliás, desde que entrou no processo sucessório o ex-prefeito de Teresina só cometeu equívocos políticos. O maior deles foi cair no canto da sereia do governador Wilson Martins que prometeu apoiar ele para o governo se ficasse no PSDB. Achando que no colo do governo as coisas ficariam mais fáceis, Sílvio Mendes abandonou Ciro Nogueira. Porém, ao contrário, o canto da sereia parece estar se transformando no canto de agonia?.

Assim, a julgar os acontecimentos sucessórios do Wilsão se chega à conclusão que perdeu a liderança para estabelecer harmonia entre aliados. Pois em vez de aglutinar, ao contrário, espalha, e que instaura desordem político-governamental, pois ninguém se entende e torna qualquer candidatura inconsistente, ora por não ter apoio dos coligados, ora por não ter respaldo popular. Tudo isso é reflexo de governo inerte, que cuidou mais dos interesses da família que do Piauí e através do endividamento do Estado. Enfim, é um final melancólico em que cada um diz o que quer contra o outro à revelia do governante e que por isso vai se esgarçando ainda mais politicamente e se exaurindo os votos, mais ou menos como ocorria na balbúrdia que se instalava no fim da feira de São João do Piauí.



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