Diplomata filho do poeta piauiense Da Costa e Silva morre aos 92 anos

A Academia de Letras informou que não terá velório aberto ao público e o diplomata será cremado nesta segunda-feira (27).

Alberto da Costa e Silva | Foto: Reprodução/ ABL
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O diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), Alberto Vasconcellos da Costa e Silva morreu neste domingo (26), aos 92 anos, em casa, no Rio de Janeiro. Alberto da Costa e Silva é filho do poeta piauiense, Da Costa e Silva (Antônio Francisco da Costa e Silva),  natural da cidade de Amarante. Ele era viúvo, deixa três filhos, Elza Maria, Antonio Francisco e Pedro Miguel, sete netos e uma bisneta. 

Conforme a família, o acadêmico morreu de causas naturais, enquanto dormia. A Academia de Letras informou que não terá velório aberto ao público e o diplomata será cremado nesta segunda-feira (27), em cerimônia exclusiva para a família.

“Um dos mais importantes intelectuais brasileiros, era especialista na cultura e na história da África, onde foi embaixador do Brasil por quatro anos, na Nigéria e no Benin. Sua obra é fundamental para o desenvolvimento dos estudos e do ensino da história do continente africano. Escreveu mais de 40 livros, entre poesia, ensaio, história, infanto-juvenil, memória, antologia, versão e adaptação”, disse a ABL por meio de nota.

Alberto da Costa e Silva foi o quarto ocupante da Cadeira de nº 9, da Academia Brasileira de Letras, sendo eleito em 2000. O filho de piauiense sucedeu o acadêmico Carlos de Chagas Filho. Ele também presidiu a ABL no biênio 2002 a 2003, além de ocupar cargos na Secretaria-Geral e ser sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa da História.

Alberto Vasconcellos da Costa e Silva nasceu em São Paulo, em 12 de maio de 1931, e fez os estudos primários e iniciou o curso secundário em Fortaleza. Em 1943, mudou-se para o Rio de Janeiro. Diplomou-se pelo Instituto Rio Branco em 1957.

DISCURSO DE POSSE

Em seu discurso de posse na ABL, Costa e Silva falou de sua “brasilidade”: “Carlos Chagas Filho desejou para esta Cadeira que fosse uma “cadeira cativa” carioca. Não o desapontará de todo estar eu aqui. Meu pai era de Amarante, no Piauí, de mãe maranhense, e estudou no Recife; minha mãe era de Camocim, no Ceará, criada em Manaus; tive um irmão carioca e dois mineiros, um deles educado em São Luís do Maranhão; de minhas irmãs, uma nasceu no Amazonas e a outra no Rio; deixei de ser gaúcho por três meses e fui nascer em São Paulo. Se me considero piauiense de coração, ancorado, pela infância, em Fortaleza, acabo de esboçar a ficha pessoal e familiar de um verdadeiro cidadão do Rio de Janeiro, cujas velhas ruas mais de uma vez percorri na companhia de um dos mais fraternos de meus amigos, Herberto Sales, e de um de seus amigos mais fraternos, Marques Rebelo.”

Foi Doutor Honoris Causa em Letras pela Universidade Obafemi Awolowo (ex-Uni­versidade de Ifé), da Nigéria, em 1986, e em História pela Universidade Federal Fluminense, em 2009, e pela Universidade Federal da Bahia, em 2012.

Em 2014, recebeu o Prêmio Camões; em 2003, o Prêmio Juca Pato – Intelectual do Ano de 2003, da União Brasileira de Escritores e Folha de S. Paulo; e em 2007, foi escolhido o Homem de Idéias pelo Jornal do Brasil.

Estudos africanos

O Acadêmico descobriu a África com Os Africanos no Brasil, de Nina Rodrigues, e Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre. Sua primeira viagem à África ocorreu no início de sua carreira, quando integrou a comitiva do ministro das Relações Exteriores Negrão de Lima, representante do Brasil nas cerimônias de independência da Nigéria, em 1960, como explica a historiadora Marina de Mello e Souza. “Desde então seu interesse pelo continente, conhecido pelos que com ele conviviam, fez com que fosse designado para missões na África.

No prefácio de seu livro A enxada e a lança, logo na primeira página ele revela que sua intenção com o livro era de "entregar ao leitor um manual – simples, claro, direto, embora emotivamente interessado – que lhe servisse como introdução ao conhecimento da África". A seguir diz que o livro contém basicamente o que aprendeu com os outros, com apenas "se tanto, uma dezena de ideias minhas". Com esse livro deu início à obra que presta um serviço inestimável ao estudo de história da África no Brasil, pois quase nada tínhamos em língua portuguesa sobre o tema, e certamente nada equivalente ao que ele fez. Dez anos depois dessa publicação, nos brindou com outro livro, intitulado A manilha e o libambo, de 2002, e que em 2003 ganhou o prêmio Jabuti e o prêmio Sergio Buarque de Holanda, atribuído pela Biblioteca Nacional.”

Em seus livros e artigos sobre a história africana, continua Marina, vale destacar o sabor especial do seu texto, a beleza das imagens, a sonoridade das frases, o domínio de um vocabulário que pode parecer fora de moda, mas em suas mãos ganha novo sentido, suas opções narrativas, que expressam, por um lado, o poeta e escritor para quem as palavras são gemas a serem lapidadas, notas a serem combinadas de forma a criar uma melodia, e, por outro lado, o olhar com que a história é narrada, que transmite as informações. Se para o poeta o homem é o centro dos interesses, para o historiador, este homem é o africano, até então muito pouco conhecido entre nós. Transportando o leitor para a cena descrita, alcança momentos especiais quando isso é realizado da perspectiva que presume ser a do africano, mesmo deixando claro que se trata em boa parte de um exercício de imaginação. Ainda que fundamentado em fontes, os estudiosos de sociedades africanas não letradas do passado, que poucos registros deixaram de si próprias (concentrados em resquícios materiais e narrativas orais), precisam recorrer à imaginação para suprir lacunas na reconstituição de processos históricos e formações sociais. Segundo Costa e Silva, "por cima do ombro de todo bom historiador há um ficcionista a lhe falar ao ouvido, e vice-versa" 

Carreira diplomática

Secretário na Embaixada do Brasil em Lisboa (1960-63) e na Embaixada de Caracas (1963-64);

Cônsul em Caracas (1964-67);

Auxiliar do Secretário-Geral de Política Exterior (1967-69);

Secretário na Embaixada em Washington (1969);

Oficial de Gabinete e Assessor de Coordenação do Ministro das Relações Exteriores (1970-74);

Ministro-Conselheiro na Embaixada em Madri (1974-76);

Ministro-Conselheiro na Embaixada em Roma (1977-79);

Embaixador em Lagos, Nigéria (1979-83) e cumulativamente em Cotonu, República do Benim (1981-83);

Chefe do Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores (1983-84);

Subsecretário-Geral de Administração do Ministério das Relações Exteriores (1984-86);

Embaixador em Lisboa (1986-90);

Embaixador em Bogotá (1990-93);

Embaixador em Assunção (1993-95);

Inspetor-Geral do Ministério das Relações Exteriores (1995-98).

Representou o Brasil em numerosas reuniões internacionais, tendo sido delegado do Brasil na reunião da Comissão Econômica das Nações Unidas para a África, em Adis Abeba, em 1961; representante pessoal do Ministro das Relações Exteriores nos encontros ministeriais, realizados em São Domingos, em 1984, pela Organização dos Estados Americanos, para a preparação das comemorações do V Centenário do Descobrimento da América; e representante pessoal do Ministro das Relações Exteriores na Reunião dos Ministros das Relações Exteriores do Mecanismo Permanente de Consulta e Concertação Política (Grupo do Rio), em 1991.

Condecorações Brasileiras

Grã-cruz da Ordem de Rio Branco; grande oficial da Ordem do Mérito Militar; grande oficial da Ordem do Mérito Aeronáutico; comendador da Ordem do Mérito Naval; Comendador da Ordem do Mérito Cultural; Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico; grã-cruz da Ordem Estadual do Mérito da Renascença do Piauí; grã-cruz da Ordem do Mérito de Brasília; medalha do Pacificador; medalha do Mérito Tamandaré; medalha do Mérito Santos Dumont; medalha do Mérito Cultural Oliveira Lima, do Governo de Pernambuco; medalha do Mérito Cultural Da Costa e Silva, do Governo do Piauí.

Estrangeiras

De Portugal: grã-cruz da Ordem Militar de Cristo; grã cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada;  grã-cruz da Ordem do Infante Dom Henrique. Da Colômbia: grã-cruz de Boyacá; comendador da Ordem de San Carlos. Do Paraguai: grã-cruz da Ordem do Mérito. Do Peru: grã-cruz da Ordem do Sol; grã-cruz da Ordem do Mérito por Serviços Distinguidos. Da Espanha: comendador com placa da Ordem de Isabel, a Católica. Da Itália: grande oficial da Ordem do Mérito. Da Venezuela: Ordem de Francisco de Miranda, em sua segunda classe; comendador da Ordem do Libertador. Da Bolívia: comendador da Ordem do Condor dos Andes. Do Egito: comendador da Ordem da República. Do Equador: comendador da Ordem Nacional do Mérito. Dos Camarões: oficial da Ordem do Mérito. Da Costa do Marfim: oficial da Ordem do Mérito. Do Gabão: oficial da Ordem da Estrela Equatorial. Da Guatemala: oficial da Ordem do Quetzal. Da Nicarágua: oficial da Ordem de Rubén Darío. Do Togo: oficial da Ordem do Mono.



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