“Audácia com tolice”, diz piloto de helicóptero sequestrado por bandidos

Ele revelou que os criminosos ficaram escolhendo em que comunidade iriam pousar, antes de ficar perto da comunidade do Caramujo.

"Audácia com tolice', diz piloto de helicóptero sequestrado por bandidos | Reprodução
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O piloto da Polícia Civil Adonis Lopes de Oliveira, que foi mantido refém por criminosos que queriam libertar um preso do Complexo de Gericinó, contou que ficou 50 minutos sob o poder dos suspeitos. Ele revelou que foi chamado para buscar um casal que estava hospedado em um hotel em Angra dos Reis. Ele estava em casa, neste domingo, quando foi “fazer um favor para um amigo que estava adoentado”. Ele lembra também que os criminosos, na volta para Niterói, ficaram escolhendo em que comunidade iriam pousar, antes de ficar perto da comunidade do Caramujo. Adonis, de 57 anos, vai  prestar depoimento na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) que investiga o caso. 

— Eu só fui atender um pedido para ajudar um piloto que tinha adoecido. Não sei por que os bandidos foram parar em Angra. Eles estavam em um hotel. O pessoal pediu para pegar um casal lá. Eu disse que iria sem problemas. Chegando lá, havia dois homens. Eles embarcaram e logo em seguida anunciaram que iriam tentar resgatar um preso — lembrou Adonis.

Adonis Lopes, piloto sequestrado que frustrou resgate de bandido no Complexo de Bangu de helicóptero Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo 

O piloto relatou que os criminosos pegaram armas e colocaram toucas logo em seguida:

— Eles entraram sem capuz, e logo em seguida pegaram os fuzis e colocaram as toucas. Não falaram quem seria resgatado, só que era um amigo e que teriam que resgatá-lo de qualquer jeito. Eu também não perguntei nada. Me fingi de bobo e tentei convencê-los de que aquilo não daria certo. Mas eles estavam convencidos do contrário.Não perceberam que eu sou policial. Até porque estavam com medo e ansiosos. Acho que aquilo uma grande tolice. Fazer uma coisa dessas não iria dar certo. Alguém falou: “Vai lá e vai dar tudo certo”. Foi um mix de audácia com tolice — destacou o comandante.

Adonis disse que alertou as autoridades que estava sequestrado.

— Eu tomei todas as providências para demonstrar para os órgãos aeronáuticos de que a aeronave estava sob interferência ilícita. Eu não vou explicar como foi o código para o caso de um dia alguém passar por isso os bandidos não interfiram.

Após notarem que o plano não prosperaria, os criminosos decidiram abortar a missão. No trajeto de Bangu para Niterói, eles decidiram em que comunidades poderiam descer.

— Depois da ação, eles pediram para ir para Niterói. Quando eu volto, sigo as rotas das aeronaves, eles comentam: "Aqui é o Complexo da Penha". Eles ficaram escolhendo onde descer, mas o objetivo era ir para Niterói. Quando cheguei perto da comunidade do Caramujo, eles mandaram eu pousar em um platô e fugiram. Eu pensei que seria morto, estava muito vulnerável — desabafou.

Piloto é rendido por passageiros e faz manobra em cima de batalhão 

Para o piloto, sua experiência na polícia o ajudou:

— Acredito que outros colegas aceitariam essa ordem deles, e o desfecho seria ruim. Eu não aceitei. Primeiro, que não daria certo. Segundo, eu não iria conviver com a estigma de resgatar preso, já que passei a vida inteira combatendo-os.

O policial disse que consegue fazer o retrato falado do bandidos. 

Viagem paga em dinheiro vivo

Os investigadores apuraram que os criminosos pagaram em espécie a viagem. Foram desembolsados R$ 14,5 mil em dinheiro vivo pelo traslado. Os criminosos fugiram para uma área de mata que fica no entorno do Morro do Caramujo.

Na manhã desta segunda-feira, durante entrega de equipamentos para o Instituto de Criminalística Carlos Éboli, o secretário de Polícia Civil, o delegado Allan Turnowski, disse acreditar que ainda nesta segunda-feira vai se saber qual foi a facção que encomendou o resgate do preso:

— A gente já tem alguns suspeitos para serem identificados. Acredito que hoje ainda a gente saiba qual foi a facção criminosa responsável por esse sequestro. A gente espera em breve dar uma resposta. Falo também do Adonis, um piloto que preferia a morte do que resgatar um bandido. Isso é pertencimento para Polícia Civil. A gente vai descobrir quem fez e vai fazer uma operação contra esses traficantes e fazer cumprir a lei — disse o secretário.

O helicóptero está passando por perícia. 

Procurado, o delegado William de Medeiros Pena Júnior, titular da Draco, afirmou que não dará informação sobre as investigações.

A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) afirmou que aguardará “a evolução da investigação realizada pela Draco e que medidas internas foram adotadas, de imediato, para continuar garantindo a segurança do sistema prisional”. A pasta destacou ainda que vai apurar a participação de algum preso no caso. Por fim, a instituição disse que “todas as unidades possuem equipes de segurança prontas para intervir em caso de alguma tentativa de fuga ou de invasão.”

Traficante Escadinha fugiu da Ilha Grande de helicóptero

Em janeiro de 1986, o traficante José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, protagonizou uma ação ousada contra a polícia do Rio de Janeiro. Usando um helicóptero ele, conseguiu escapar do Instituto Penal Cândido Mendes, na Ilha Grande. O bandido aproveitou o momento em que parentes visitavam os internos, em razão do fim de ano. Nem os agentes penitenciários nem policiais militares chegaram a atirar na aeronave, que pousou e decolou rapidamente. Dois carros teriam dado cobertura ao traficante. O então secretário de Justiça, Vivaldo Barbosa, admitiu que a fuga havia sido espetacular.

O Departamento de Investigações Especiais mobilizou 300 agentes na caça a Escadinha. No morro do Juramento, houve comemoração pela fuga e pelo retorno do traficante. Com prisão decretada, o piloto da aeronave Marcos Gonçalves Maia, de 21 anos, disse que foi ameaçado por um cúmplice do bandido com uma metralhadora.

À polícia, ele disse que o contratante atendia pelo nome de Rony. Mais tarde, através de fotografias, descobriu que o homem, na verdade, se tratava de José Gregório, o Gordo. A cúpula da facção tramou a fuga de Escadinha durante três meses.



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