Condenado por morte na USP quer voltar à faculdade

Preso logo após o crime, Nanni havia conseguido um habeas corpus em abril de 2008

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Libertado do presídio há mais de um ano, o ex-estudante de jornalismo Fábio Le Senechal Nanni, de 25 anos, condenado a 18 anos de prisão pelo assassinato do seu colega de comunicação Rafael Azevedo Fortes Alves no campus da USP, em 2005, quer voltar a estudar. Alves foi morto com uma facada no peito dentro da Rádio USP, onde estagiava.

Preso logo após o crime, Nanni havia conseguido um habeas corpus em abril de 2008. E mesmo condenado à prisão em regime fechado no julgamento em junho deste ano, ele nem chegou a voltar ao presídio, pois conseguiu novo habeas corpus logo após a decisão. Veja acima o vídeo sobre o dia do julgamento.

A advogada de Nanni, Sônia Maria Ramos de Carvalho Santos, disse que a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo que o libertou garante ao acusado responder ao processo em liberdade até se esgotarem as chances de recurso.

Morando com os pais e dois irmãos no Cambuci, na Zona Sul da capital paulista, Nanni agora se dedica aos estudos para voltar à universidade. Segundo sua mãe, a professora aposentada Maria Helena Ortiz Le Senechal Nanni, de 55 anos, ele ainda não decidiu que curso irá fazer, mas pensa em administração e também em teologia. Por orientação dos advogados, ele não dá entrevistas. ?Ele está bem, estudando e fazendo curso de inglês?, conta. Segundo ela, o rapaz não quer voltar a estudar na USP nem foi ao campus depois do que aconteceu. Ele também perdeu o contato com os colegas da faculdade.

Segundo a mãe do rapaz, ele procura ter uma vida normal, e não trabalha por causa do tratamento psiquiátrico que é feito com base em remédios muito fortes e um dos efeitos colaterais é a sonolência. De acordo com a família, o jovem sofre de transtorno obsessivo compulsivo. A doença o faz, conta a mãe, oscilar momentos de alegria com outros depressivos. Atualmente, conta a mãe, o filho atua como voluntário em asilos e creches pelo menos duas vezes por semana.

Maria Helena diz que depois do crime, Nanni passou a sair menos de casa, se tornou evangélico, e hoje frequenta uma igreja adventista. ?Quando ele sai é para algo light, vai fazer um lanche, comer uma pizza com os amigos ou sai com o pessoal da igreja?, diz a mãe. A professora afirma não temer que ele ande sozinho porque o jovem está sob tratamento. No entanto, ela diz ter incertezas sobre como ficará a vida do filho depois do que aconteceu. ?Não tenho a mínima ideia. Mentalmente ele terá condições [de ter uma vida normal]?, afirma.

Revolta

A família da vítima diz ter ficado revoltada ao saber da libertação do acusado poucas horas após a condenação no tribunal do júri. ?Ele foi condenado pelos jurados, saiu do julgamento algemado e passou apenas algumas horas preso. É revoltante?, afirmou a mãe de Alves, a dona de casa Maria Luiza Fortes, de 54 anos. ?Ele interrompeu a trajetória de vida do Rafa, um futuro que ele tinha, sem dar a mínima chance de defesa para o Rafa?, acrescentou a mãe.

A família não concorda com a justificativa da defesa de que o acusado sofre de problemas psiquiátricos. ?Ele sofre de problemas psiquiátricos e passou em nono lugar na USP?. Se ele tem desequilíbrio psiquiátrico como é que ele está solto? Ou estão esperando ele cometer outro desatino??, questionou a dona de casa. Ela diz que a família teve de mudar de cidade para tentar recomeçar a vida após o crime.

Questionada sobre a reação da família da vítima, a mãe do acusado diz compreender o sentimento. ?Qualquer um na situação deles estaria sentindo a mesma coisa, mas eles não têm ideia do que realmente aconteceu. Ele estava doente. Ele tem problemas psiquiátricos. Ele não fez o que fez por ser um bandido. Ele fez por causa da doença?, afirmou. ?Esse estar solto é estar entre aspas porque ele precisa fazer esse tratamento que está fazendo?, acrescentou.

Ela disse que Nanni não comenta sobre o dia do crime. ?Ele diz que não lembra do que aconteceu, de ter entrado na rádio. Só lembra de sair de lá correndo?, afirmou. Segundo ela, a família também não pergunta do episódio por orientação dos psiquiatras. Antes do crime, a família não desconfiava do problema de Nanni, alega a mãe.

Crime

Na época em que ocorreu o crime, a vítima e o acusado dividiam a mesma república e o acusado estava cobrando mais atenção do amigo. ?Ele achava que tinha ajudado o amigo num momento de dificuldade e, como ele estava com problemas pessoais, achava que o amigo deveria lhe dar mais atenção que o normal?, afirmou a promotora do caso, Mildred Gonzales. Uma noite antes do crime, a vítima dormiu na casa de uma amiga e o acusado foi para a república. Lá, segundo a promotora, Nanni pegou roupas da vítima que estavam no varal, queimou e depois seguiu em direção ao prédio da Rádio USP.

A promotoria também não aceita a tese da defesa de que o réu sofre de transtorno obsessivo compulsivo. Segundo a promotora, um laudo feito por peritos do Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (Imesc) atestou que Nanni é uma pessoa normal. ?O parecer do psiquiatra particular foi negado, o que vale é o laudo oficial?, afirmou. ?A sociedade já decidiu o caso. Os jurados já condenaram ele?, acrescentou. A família diz que os psiquiatras do Imesc conversaram poucos minutos com o jovem para fazer a avaliação e que o médico particular é uma pessoa qualificada para falar sobre a doença.

O Ministério Público informou que o promotor que agora é responsável pelo caso, Antonio Carlos da Ponte, pediu que fossem reunidos alguns documentos e aguarda isso para decidir o que fazer quanto ao caso.

Julgamento

O julgamento de Nanni foi realizado no 5º Tribunal do Júri do Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste, e durou 11 horas. De acordo com a sentença proferida pelo juiz Cassiano Ricardo Zorzi Rocha, do 5º Tribunal do Júri de São Paulo, o réu deveria cumprir a pena de 18 anos de prisão em regime fechado.



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