Investigado por envolvimento com milícia é aprovado em concurso da PM

os primeiros dias de curso, em julho, o aluno aparece em foto formado com seus colegas no Centro de Formação.

Avalie a matéria:
|
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

Em 24 de junho de 2013, o nome de Rodrigo Souza dos Santos, 30 anos, apareceu na relação dos aprovados na Pesquisa Social e Documental para ingresso na Polícia Militar. Um mês depois, mais uma boa notícia para Rodrigo: a lista de recrutamento foi divulgada e, novamente, seu nome estava lá. Nos primeiros dias de curso, em julho, o aluno aparece em foto formado com seus colegas no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap), em Sulacap. Entretanto, o novo recruta da PM era investigado pela 33ª DP (Realengo) desde dezembro de 2011: Rodrigo é apontado como chefe da milícia do Morro Cosme e Damião, localizado a pouco mais de um quilômetro de distância do Cfap.

O inquérito foi concluído em maio - dois meses antes de Rodrigo começar o curso - e teve como resultado o pedido de prisão preventiva pelos crimes de extorsão e formação de quadrilha. Atualmente, o caso está na Justiça. Somente em 2 de setembro do ano passado a PM comunicou em seu boletim interno que voltou atrás na aprovação de Rodrigo e sua ?condição passou de ?aprovado? a ?reprovado? na Pesquisa Social?.

Ao longo das investigações, a polícia apreendeu um livro de anotações da milícia em que estavam registrados nomes de moradores que pagariam pelo ?serviço de segurança? o valor de R$ 20 mensais. Dezenove pessoas foram localizadas e relataram que o grupo criminoso, autointitulado ?Amigos Unidos?, mantinha o domínio sobre a favela à base de extorsões, ameaças de morte e assassinatos.

Em depoimento, uma testemunha contou que ?teve sua casa invadida pelos bandidos, que violentaram sexualmente sua esposa? e que ?foi ameaçado de morte caso levasse adiante? a comunicação de extorsão feita à polícia. Após a expulsão do Cfap, Rodrigo não foi mais visto.

Segundo relatório assinado pelo delegado Carlos Augusto Nogueira Pinto, o grupo de milicianos do qual Rodrigo é chefe ?nos impressiona com atos de panfletagem de serviços e propaganda, em verdadeira exteriorização do mais profundo sentimento de impunidade?. O delegado pediu a prisão de outros três suspeitos de integrar da milícia: Anderson Luiz dos Santos, Renan Campos Nunes e Everaldo Mota de Oliveira.

Um dos depoimentos de um morador da favela Cosme e Damião revela que os milicianos usam uma espingarda calibre 12, um fuzil e pistolas para manter o controle sobre a região. A mesma testemunha afirma que o grupo é ?aliado de Batman?, o ex-PM Ricardo Teixeira Cruz, preso desde 2009 sob a acusação de comandar uma das maiores milícias da Zona Oeste.

Segundo informações do inquérito, os milicianos usavam a associação de moradores da favela como QG. No local, a polícia apreendeu uma pistola 9mm, munição e coletes à prova de bala. Os pagamentos também eram feitos na associação ou a um funcionário.

Rodrigo foi chamado para prestar depoimento em dezembro de 2011. Na ocasião, seu carro havia sido apreendido na comunidade com as portas abertas. Ele negou ser miliciano e informou que foi à favela levar sua mulher à casa de uma costureira.

Batalhão de Bangu pesquisou o aluno

O batalhão responsável pela pesquisa social que aprovou Rodrigo foi o 14º BPM (Bangu), responsável por patrulhar a área onde atua a milícia da Cosme e Damião. Procurada para explicar o motivo da aprovação de Rodrigo, apesar de investigado por ligação com uma milícia da região, a PM explicou que o primeiro informe de fatos ilícitos referente ao então candidato só foi anexado a sua ficha em 8 de agosto. Segundo nota da corporação, ?uma denúncia anônima motivou a reabertura das investigações ao candidato, colhendo fatos que culminaram por reprová-lo?.

Ainda de acordo com a PM, a investigação da Polícia Civil, que começou em dezembro de 2011, só ?veio ao conhecimento da administração após a incorporação do candidato. Até o momento da conclusão da Pesquisa Social do candidato, não se vislumbrava qualquer motivo que pudesse reprová-lo?. O texto também sustenta que o documento da 33ª DP informando que o candidato era investigado só foi impresso no dia 10 de setembro, portanto após a exclusão de Rodrigo.

A nota também informa que foram feitas consultas ao banco de dados da Polícia Civil, ao Portal da Segurança e às Justiças Federal e estadual ? todas elas sem resultados negativos para o então candidato. Entretanto, a primeira vez em que Rodrigo é apontado como chefe da milícia nos registros da Polícia Civil data de 6 de janeiro de 2012, quando um morador da favela Cosme e Damião fez o reconhecimento do acusado por foto. Antes, somente seu apelido, Rodrigão, constava nos registros.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES