Juan ainda tentou fugir antes de ser morto por policiais, afirma irmão

Juan foi alvejado por policiais em favela do Rio de Janeiro

O menino Juan, morto por policiais. | Reprodução
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O jovem Wesley dos Santos, 14, que estava com o irmão, o estudante Juan Moraes, 11, quando o menor foi assassinado na comunidade do Danon, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, no ano passado, afirmou à Justiça nesta quinta-feira (15) que a vítima tentou correr antes de ser alvejado por policiais militares do 20º BPM (Mesquita) e morrer no local.

De acordo com o depoente, Juan se assustou com alguma movimentação suspeita e sua primeira reação foi correr. Os PMs começaram a atirar segundos depois e a vítima acabou sendo atingida no pescoço por um disparo de fuzil, na versão do jovem.

Wesley, que também foi baleado na ocasião, a mãe, Rosineia Moraes, e o avô, José Salvador de Jesus --todos cadastrados no programa de proteção à testemunha do Ministério da Justiça-- vieram de Brasília para prestar depoimento na 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu.

Segundo informações do Fórum de Nova Iguaçu, o irmão de Juan só conseguiu sobreviver depois de ter sido ajudado por uma moradora do Danon. Em seguida, ele teria telefonado para a mãe, que se dirigiu ao local da tragédia na companhia do avô. Wesley foi imediatamente levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Cabuçu, onde recebeu os primeiros socorros.

A audiência de instrução e julgamento desta quinta-feira (15) foi a terceira desde o início das oitivas. As próximas sessões acontecerão nos dias 22 e 27 de março. Outra testemunha-chave que estava na cena do crime, o jovem Wanderson dos Santos de Assis, 19, foi interrogado no dia 24 de janeiro deste ano.

Os acusados --os cabos Edilberto Barros do Nascimento e Rubens da Silva, e os sargentos Isaías Souza do Carmo e Ubirani Soares-- respondem a dois homicídios duplamente qualificados (pelas mortes de Juan e do adolescente Igor de Souza Afonso, 17, que supostamente teria ligações com o narcotráfico local), duas tentativas de homicídio duplamente qualificado (o irmão de Juan, Wesley Moraes, e a testemunha Wanderson dos Santos de Assis, 19, também baleados) e ocultação de cadáver (de Juan).

Cena de horror

"A bala virou a cabeça dele". Assim a testemunha Wanderson dos Santos de Assis, 19, que presenciou a morte do menino Juan Moraes, em junho do ano passado, descreveu o momento no qual viu a vítima ser atingida por um projétil de fuzil disparado por um policial militar. O depoimento do jovem ocorreu na primeira audiência de instrução e julgamento sobre o caso, no fim de janeiro.

A testemunha afirmou à Justiça que ainda tem receio em relação a possíveis tentativas de represália por parte dos PMs acusados do crime. Questionado em juízo se ele se incomodaria com a presença dos réus durante o depoimento, e o jovem solicitou que os PMs se retirassem do tribunal da 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu.

Questionado pelo defensor público Antônio Carlos de Oliveira, representante do cabo Edilberto Barros do Nascimento, um dos acusados, sobre os motivos pelos quais a testemunha não se sentiria confortável na presença dos réus, Wanderson se limitou a responder que o temor existe em razão dos "fatos em si". O rapaz prestou depoimento com um boné e óculos escuros a fim de dificultar a sua identificação.

O jovem disse ao juiz da 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, Márcio Alexandre Pacheco da Silva, que ele, Juan e o irmão da vítima fatal, Wesley Felipe Moraes dos Santos, estavam caminhando por um beco da comunidade quando foi possível ouvir os primeiros tiros. Na versão da testemunha, Juan caminhava à frente dos demais e foi o primeiro a ser alvejado. Segundo Wanderson, mais de 30 tiros foram disparados naquela noite.

Segundo Wanderson, o fato de ter visto Juan ser baleado fez com que ele perdesse o controle. "Eu entrei em desespero. Os tiros não paravam. Eram muitos tiros, trinta ou mais. Era uma carreira de tiros. Eu me virei para poder sair do beco e senti a minha perna esquerda dormente", disse.

Na versão da testemunha, ele foi socorrido pelo irmão, Francisco dos Santos de Assis, que foi ao local de carro e o encaminhou para a Unidade de Pronto Atendimento de Cabuçu, também na Baixada Fluminense. "Quando cheguei lá, soube que o Wesley já estava na UPA. Fui atendido pelos médicos, e depois transferido em uma ambulância para o hospital da Posse. O Wesley chegou a perguntar pelo irmão, e eu disse que ele tinha sido alvejado no beco", afirmou.

A testemunha revelou ter ficado algemado durante nove dias no período em que ficou em recuperação no hospital. Questionado sobre os motivos pelos quais foi detido sob custódia, Wanderson afirmou que os PMs tentaram incriminá-lo por tráfico de drogas e posse de arma.

"Pelo menos foi o que eu soube pelos jornais. Os PMs e o delegado [cujo nome não foi mencionado] tentaram me incriminar. Falaram que eu estava com armas, bomba, rádio, e que eu resisti à voz de prisão. Também soube pelo jornais que a versão dos policiais era a de que eles tinham me socorrido", explicou.



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