Motoboy do YouTube é sondado por atropelar e matar pedestre

Kleber Atalla dirigia carro que atingiu homem que atravessava rua na faixa

Antonio Luís Tuckumantel, delegado do 3º distrito policial | Reprodução
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O comerciante Kleber Atalla, de 51 anos, que ganhou fãs no YouTube por postar vídeos nos quais comete infrações de trânsito em São Paulo dirigindo uma motocicleta, é investigado por atropelar e matar um pedestre que atravessava a rua no Centro utilizando a faixa. No dia do acidente, Atalla dirigia um carro (veja no vídeo ao lado).

De acordo com a Polícia Civil, Atalla também será investigado pelos vídeos postados na internet. A avaliação da polícia é que eles fazem apologia aos crimes de racha, dirigir sem habilitação e em velocidade acima da permitida.

Desde segunda-feira (11), nossa reportagem tenta contato com Atalla, mas não obteve retorno. Em um vídeo postado no domingo (10) no YouTube, ele se exime de culpa no acidente, afirma que não cometeu infração e que foi "atropelado" pelo pedestre. O advogado Luiz Carlos Aguiar, que representa Atalla, disse que só vai se pronunciar na sexta-feira.

Atropelamento

O acidente que deu origem às investigações ocorreu na tarde do dia 28 de janeiro. Atalla guiava um carro modelo Fiat Strada Adventure pela Avenida Duque de Caxias quando fez uma mudança de pista e atingiu o instalador Antonio Farias da Costa, de 53 anos.

O instalador não havia esperado o semáforo ficar vermelho para os veículos para poder atravessar. Ele teve traumatismo craniano, foi socorrido e internado no Santa Casa de Misericórdia, em Santa Cecília, no Centro, onde morreu em 5 de fevereiro.

O atropelamento foi gravado por câmeras de segurança de imóveis vizinhos à via. As imagens foram anexadas aos dois inquéritos policiais contra Kleber. Segundo o delegado Antonio Luis Tuckumantel, titular do 3º Distrito Policial, na Santa Ifigênia, Atalla foi "imprudente", apesar de as imagens mostrarem que ele fez uma conversão permitida, que parou o automóvel após o acidente e que ainda prestou socorro.

?Isso não serve de justificativa. Na faixa de pedestre a preferencial é do pedestre. O motorista estava errado. Foi imprudente e estava com uma velocidade que era muito rápida?, afirmou o delegado Tuckumantel, nesta quarta-feira (13). O laudo da Polícia Técnico-Científica sobre a velocidade do carro não foi finalizado.

Em sua defesa, Atalla registrou um vídeo de 13 minutos no qual tenta apresentar o cenário do acidente. Ele filma a placa de trânsito, que não mostra, naquele ponto da avenida, restrições à conversão da pista da esquerda para a pista da direita.

"Pelo fato de estar chovendo demais, demais, ele atravessou a rua no maior "pau". (...) A hora que eu percebi, ele tinha me atropelado", disse. "Acabou com a minha vida esse episódio. Acabou com a vida da família do senhor Antônio, só que eu não tive culpa. O meu remorso é muito grande", disse.

"A hora que eu percebi ele tinha me atropelado" diz Kleber Atalla, comerciante, investigado por atropelamento com morte.

Na filmagem, ele disse que vai prestar esclarecimentos pelos seus vídeos suspeitos de apologia a crimes de trânsito. "Em momento algum eu quis desrespeitar as autoridades", afirmou no vídeo.

Vídeos na web

Sob o apelido de Kle621, Atalla, que mantém um comércio de peças para motocicletas, já postou centenas de vídeos no site de compartilhamento YouTube. Em sua Hornet 600, ele trafega em alta velocidade, faz ultrapassagens proibidas, dirige na contramão, e avança o sinal vermelho.

Para gravar suas irregularidades, Atalla usa uma câmera presa no capacete. ?Sei que é ilegal o que faço. Não recomendo para quem me assiste?, afirmou o motocicista à equipe de reportagem naquela ocasião.

Atalla chegou a justificar os crimes de trânsito que cometia em nome da audiência. ?Estou fazendo assim porque é uma maneira de me comunicar com a molecada. Se fizer um vídeo a 30 km/h, atrás dos carros, ninguém vai querer assistir. Tem que ter um sensacionalismo.?

Como o comerciante explicou à época, os vídeos faziam parte de uma estratégida de marketing: neles ele indica seu site de venda de escapamentos e peças de moto. Procurada em 2012, a Polícia Militar havia informado que, apesar de as infrações estarem registradas em vídeo, o poder público nada pode fazer. As multas só seriam aplicadas se fossem flagradas por um agente ou radar.

Contravenção

A conduta nos vídeos foi analisada pela polícia. ?Ele tem um comportamento contraventor como forma de marketing pessoal e comercial de fazer propaganda da sua loja virtual?, escreveu o delegado assistente Arariboia Fusita Tavares na portaria de 8 de fevereiro deste ano, que determinou a instauração do inquérito de apologia ao crime por conta dos vídeos postados no YouTube.

?Utiliza-se das publicações para se auto promover, assim como alavancar as vendas em sua empresa, às custas de provocações contra a administração pública, cooptando fãs e seguidores de seu comportamento irresponsável, conforme se depreende de simples leitura de comentários realizados nos mais de 500 vídeos publicados no site YouTube, fomentando desta forma a anarquia e estimulando outros ao cometimento de infraçoes?.

De acordo com a investigação policial, Atalla ?regozijando-se de sua conduta criminosa, afrontando as normas legais vigentes, com manobras extremamente perigosas? coloca ?em risco desta forma a vida de pedestres e demais motoristas?.

No entendimento da autoridade policial e dos investigadores, o comerciante é suspeito de infringir três artigos do CTB nos vídeos que publicou na internet: 308 (participar de competição automobilística não autorizada que cause dano a outros), 309 (dirigir sem habilitação, gerando perigo) e 311 (trafegar com velocidade incompatível).

Somadas as penas dessas três infrações podem dar penas mínimas de um ano e meio a 4 anos de detenção, além do pagamento de multa e suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).



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