Pesquisa Ipea: A cada três assassinados, dois são negros

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ipea, as chances de um indivíduo negro ser vítima de homicídio é 8 pontos percentuais maior que um branco

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A opressão à população negra ainda está longe de findar. Para ratificar isso, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou ontem (17), através do 4º Boletim de Análise Político-Institucional (Bapi), dados que apontam que as chances de um indivíduo negro ser vítima de homicídio é 8 pontos percentuais acima, mesmo comparando a um indivíduo com grau de escolaridade e características socioeconômicas similares.

O estudo mostra que mais de 60 mil pessoas são mortas a cada ano no Brasil, havendo um acentuado viés de cor/raça nessas mortes. Além disso, o negro é discriminado 2 vezes, uma pela condição social, outra pela cor da pele.

Para os autores do artigo intitulado de ?Segurança Pública e Racismo Institucional?, um dos que compõem a pesquisa, a exposição da população nagô como um todo às chances de morte violenta já é elevada, ser negro representa a fazer parte de um grupo de risco, pois a cada 3 assassinatos, 2 são de negros.

Para a representante do movimento de mulheres negras do Centro Afro-Cultural Coisa de Nêgo, Chiquinha Aguiar, esses dados são verídicos, mesmo com todos os avanços existentes, a população negra ainda é a mais hostilizada.

?Os avanços existem, mas sabemos que eles são muito lentos. Tem uma luta muito grande por trás de tudo. Mesmo que a sociedade insista em dizer que está tudo bem, não está, porque a população negra é a que mais sofre?, afirma.

O estudo revela que calculando-se a população residente nos 226 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, estima-se que a probabilidade de um adolescente negro ser vítima de assassinato é 3,7 vezes maior se comparado aos brancos.

A militante do Coisa de Nêgo frisa ainda que a população carcerária e de dependentes de drogas é composta majoritariamente por pessoas de pele negra. ?Hoje quem vai preso, quem vai morto, quem usa droga são os negros.

Sabemos também que existe muita gente que não está inclusa nisso, mas os números são bem menores?, ressalta.

Os dados associados à institucionalização do racismo existente na pesquisa mostram que uma população composta por 96.795.294 pessoas entre negras e pardas, a taxa de homicídio é de 36,5. Se comparado aos não-negros, o que equivale a 93.953.897, os índices de assassinato são de 15,5.

Essas vítimas de homicídio têm baixo nível de escolaridade e são em sua maioria homens pretos/pardos, mortos por armas de fogo. Sobre isso, a militante do Coisa de Nêgo lembra também que a população negra ainda tem grande dificuldade para ter acesso à educação de qualidade, o que interfere diretamente nesses números. ?Existem casos de pessoas negras que conseguiram alcançar grandes cargos, mas são poucos casos, e estes não devem ser usados de exemplo para dizer que a população negra tem as mesmas chances de quem não é, porque a maioria ainda vem de família com condições financeiras negativas?, destaca.

Negros são maiores vítimas de agressões de agentes da polícia

O estudo apresenta ainda dados sobre a grande desigualdade existente entre brancos e negros no que diz respeito à distribuição da segurança. Os negros são maiores vítimas de agressão por parte de policiais que brancos.

A Pesquisa Nacional de Vitimização mostra que 6,5% dos negros que sofreram uma agressão no ano anterior à coleta dos dados pelo IBGE, em 2010, tiveram como agressores policiais ou seguranças privados (que muitas vezes são policiais trabalhando nos horários de folga), contra 3,7% dos brancos.

Além disso, os indicadores sobre racismo institucionalizado no grupo de 96.795.294 pessoas entre negras e pardas, 60,70% das vítimas de agressão não procuraram a polícia por medo de represália. Se equiparado aos não-negros (93.953.897 pessoas), esse número cai para 39,30%.

Chiquinha acrescenta que essa pesquisa só demonstra o quanto se faz cada vez mais imprescindível a efetivação de políticas públicas voltadas para essa população, já que as que existem não estão contemplando efetivamente esse grupo. ?Não digo que não precisamos de mais políticas públicas, mas acredito que as que existem também precisam ser analisadas, acompanhadas, para saber se realmente elas estão atingindo as pessoas negras, a periferia?, disse a militante do movimento nagô.



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