Arraes: participação feminina na política é pouco expressiva

Piauí ainda “engatinha” em participação feminina nas esferas de poder, analisa cientista político

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Ricardo Arraes | Arquivo da web
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Os eleitores piauienses escolheram em 2010 a maior bancada feminina na história da Assembléia Legislativa do Piauí ? sete mulheres ? e uma representante na Câmara dos Deputados dominada por homens há várias legislaturas. No Dia Internacional do Mulher, comemorado hoje, o cientista político Ricardo Arraes fez uma análise da presença feminina nos espaços de poder e decisão política do Estado. Segundo ele, o maior número de mulheres eleitas é um dos pontos mais marcantes do último pleito.

"Isso mostra que estamos avançando nessa esfera. Mas ainda estamos engatinhado quando o assunto é mulher na política. Basta dizer que o Brasil foi um dos primeiros países a conceder direito de voto às mulheres, mas, mantém um dos piores níveis de representação feminina em cargos públicos. Enfim, a realidade que ainda impera no país é a da baixa representatividade feminina nos cargos eletivos", ressaltou.

De acordo com Arraes, dados de 2009 mostram que em média, em todo o mundo as legisladoras representavam menos de 20%. No Brasil, a proporção das parlamentares era de 9% na Câmara dos Deputados e 12% no Senado. Da mesma forma, levantamentos feitos nos estados, com base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), demonstram que, em geral, nenhum partido cumpre a cota mínima de 30% de mulheres no total de candidaturas. Seja qual for a disputa.

"As mulheres ainda lutam com dificuldades para ocuparem os espaços de poder e decisão, seja da iniciativa privada ou dos poderes públicos", destacou Arraes, que não concorda com a idéia de que a política só vai melhorar com a maior participação feminina. "Acredito que os esforços de homens e mulheres podem mudar a realidade de corrupção, falta de ética nos Parlamentos e reduzir a miséria e a opressão que ainda grassam grandes extratos de nossa população", completou.

Ele lembra que, se no legislativo estadual há um incremento na participação feminina, no municipal, o atual processo eleitoral registra baixos índices de participação de mulheres. "Ali, o número já foi mais expressivo", lembra. Segundo o cientista político, a realidade de distorção entre a quantidade de homens e mulheres na política não ocorre somente no Piauí. As candidaturas para as câmaras municipais do país - 348.564, em 2008 ? ainda são predominantemente masculinas, pois dos mais de 270 mil candidatos (77,95%), as femininas eram apenas de mais de 76 mil (22,05%).

"Embora os números mostrem o contrário, em tese, o eleitor brasileiro parece não apresentar dificuldades em votar em mulheres. É tanto que pesquisas no ano passado mostravam que nove em cada 10 brasileiros afirmaram que votariam em uma mulher. Destes, 83% acham que a presença de mulheres no poder melhora a atividade política", argumentou Ricardo Arraes.

Para o cientista político, o inédito cenário da Assembléia Legislativa vai tornar-se um campo de experimentação política para as sete mulheres eleitas. "Espera-se, entretanto, que suas bandeiras de luta não se assentem apenas nos elementos emblemáticos de gênero, de maior participação feminina na política ou de uma agenda predominantemente feminista. O Piauí espera muito delas", disse. (S.B.)

Nova bancada feminina tem missão simbólica, diz Arraes

O cientista político Ricardo Arraes acredita que a diversidade do número de deputadas é "extremamente positiva" pelo fator simbólico e pela possibilidade que isso possa representar uma maior participação no futuro e uma melhoria na esfera dos direitos e das garantias para as mulheres piauienses.

"A atual bancada tem uma missão simbólica importante que é a de garantir a ideia de que mais participação feminina na política traz mais honestidade, mais ética, compromisso com o eleitorado e maior capacidade administrativa. Isso não é pouca coisa. Por isso considero que a atual bancada tem esse encargo de experimentação", disse.

Ricardo destaca que outro ineditismo do pleito é que antes esposas, sobrinhas e filhas substituíam os homens quando estes saíam da política. Agora não. Elas foram eleitas no mesmo pleito ocupando espaços dos maridos que ascenderam em suas carreiras.

"Assim, o dado menos alvissareiro da presença ampliada das mulheres no legislativo estadual se dá pelo fato de que todas elas estão ancoradas nas carreiras de seus maridos. É claro, algumas delas eram mulheres ?competitivas? no panorama daquelas eleições. Elas pertenciam a partidos fortes e possuíam apoio econômico, tinham, portanto, alguma possibilidades de vitória", argumentou.

Ele ressalta que não basta apenas eleger mais mulheres, "especialmente quando elas vêm na garupa de seus esposos". "De nada adiantará mais mulheres se o atual quadro feminino não apresentar a eficiência, a coerência e, destaque-se, a consciência de gênero, que é a consciência de sua histórica situação de marginalidade e desigualdade frente ao mundo masculino", concluiu. (S.B.)

 



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