Eleições argentinas: As semelhanças e diferenças entre Milei, Bolsonaro e Trump

Todos eles se apresentam como “outsiders” e ganharam popularidade com discursos antissistema, antielite e uso intensivo das redes sociais para se conectar diretamente com suas bases.

Milei e ex-presidentes de extrema direita | Reprodução
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Desde que Javier Milei surpreendeu a Argentina ao vencer as eleições primárias de agosto, analistas e veículos de comunicação ao redor do mundo têm destacado as semelhanças entre a trajetória do economista, atual candidato no segundo turno das eleições presidenciais em 19/11, e dois outros políticos que também experimentaram ascensões surpreendentes: os ex-presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, do Brasil.

As comparações entre Milei, Bolsonaro e Trump, todos considerados líderes de um movimento global de "direita antipolítica" ou, para alguns, "direita radical", ganharam mais destaque desde 2021, quando Milei, autodeclarado libertário, foi eleito deputado, e sua coalizão, La Libertad Avanza, conquistou mais de 30% dos votos nas primárias.

Apesar das afinidades, há distinções importantes entre os três, conforme destacado por analistas ouvidos pela BBC News Brasil. Todos eles se apresentam como "outsiders" e ganharam popularidade com discursos antissistema, antielite e uso intensivo das redes sociais para se conectar diretamente com suas bases.

Milei, assim como Bolsonaro e Trump, cultiva a imagem de alguém fora do establishment político, utilizando frases como "A casta tem medo" durante a campanha. A narrativa "antissistema" inclui a mensagem de que são os "redentores" capazes de resolver os problemas do país, resgatando um suposto passado melhor.

Segundo Patricio Navia, professor da Universidade de Nova York, a principal semelhança entre os três é a apresentação como antissistema, embora conheçam bem o sistema e o explorem para construir a narrativa de corrupção e discriminação contra o povo.

A estratégia de usar as redes sociais para se comunicar diretamente com a base também é um ponto comum entre Milei, Bolsonaro e Trump. Todos começaram sendo subestimados por adversários e pela mídia tradicional, mas conseguiram criar momentos virais e atrair a atenção da imprensa.

No entanto, as trajetórias individuais dos três líderes são distintas. Milei, estreante na política em 2021, enfrentará o ministro da Economia, Sergio Massa, nas eleições, enquanto Bolsonaro acumulou três décadas de experiência parlamentar antes de se tornar presidente em 2018, e Trump ingressou na política após uma carreira de sucesso nos negócios.

Outro ponto de convergência é o discurso anticomunista e antiesquerdista. Milei, assim como Bolsonaro e Trump, critica a China e o Brasil, associando-os a regimes "comunistas e socialistas". A retórica anticomunista também foi utilizada por Trump em sua campanha para as eleições de 2024.

No entanto, os analistas ressaltam diferenças importantes nesse contexto. O discurso anti-China de Trump estava mais ligado a questões econômicas, enquanto Milei, no caso argentino, busca distância desses países como parte de sua plataforma política.

Quanto ao apoio religioso e à narrativa messiânica, Milei se destaca por estudar o Torá e citar frases bíblicas em sua campanha, embora não conte com apoio sólido dos evangélicos, ao contrário de Bolsonaro, que mobilizou expressivo apoio desse eleitorado no Brasil.

Em relação a temas conservadores, Milei e Bolsonaro compartilham críticas à ideologia de gênero e oposição à descriminalização do aborto, mas Milei se apresenta como ultraliberal, enquanto Bolsonaro adota uma postura mais conservadora. A postura de Trump em relação ao aborto, por sua vez, foi vista como mais pragmática e politicamente vantajosa.

Ambos Bolsonaro e Milei, no entanto, têm em comum a narrativa de fraude eleitoral, uma estratégia adotada também por Trump nos Estados Unidos. As alegações de fraude servem para manter a base mobilizada, reforçando a identidade de antissistema, mesmo que contrarie as normas democráticas.

No campo econômico, Milei defende fortemente o livre mercado e a quase ausência do Estado, diferenciando-se de Bolsonaro, que buscava um Estado poderoso para promover reformas conservadoras. Milei enfrenta resistência do empresariado argentino, que teme as propostas do candidato, mas analistas acreditam que essa resistência pode se acomodar em caso de vitória.

Ambos Milei e Bolsonaro têm em comum a abordagem em relação aos regimes militares do passado de seus países, embora de maneiras distintas. Bolsonaro fez da reivindicação da ditadura brasileira uma bandeira de campanha, enquanto Milei questionou o número de vítimas da ditadura argentina em debates, seguindo a pauta de sua candidata a vice-presidente, Victoria Villarruel, que pretende revisar indenizações às vítimas da ditadura.

Em resumo, as semelhanças entre Milei, Bolsonaro e Trump são notáveis, mas as diferenças em suas trajetórias, posturas políticas e abordagens em temas específicos também são evidentes. A análise dos especialistas destaca a importância de considerar o contexto político e social de cada país para compreender as particularidades de cada líder e movimento.



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