Feldman: Alckmin piorou briga de Serra e destrói PSDB

O diretório municipal do PSDB atravessa uma crise com reflexos na capacidade de articulação da legenda.

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A capital de São Paulo, o nascedouro do PSDB, tem sido tratada nos últimos anos com a barriga empurrando", resume Walter Feldman ao explicar seus motivos para sair do partido que ajudou a fundar. Secretário de Esportes da Prefeitura de São Paulo, ele atribui a atual crise tucana a um ressentimento do governador do Estado, Geraldo Alckmin.

O diretório municipal do PSDB atravessa uma crise com reflexos na capacidade de articulação da legenda. Um grupo de vereadores reclama que foi excluído, por Alckmin, da disputa pelo comando do diretório. Em represália, sete dos 13 vereadores tucanos deixaram a sigla. Feldman se juntou a eles na última segunda-feira (25).

Ele nega que esteja pensando em se filiar a outra legenda e diz que deve se manter distante da briga partidária até o fim de 2011. Feldman relaciona o embate atual do PSDB com uma rixa entre José Serra e Alckmin, surgida quando serristas apoiaram Gilberto Kassab numa eleição contra Alckmin para a prefeitura. "Nós superamos esse problema. Mas o que eles fizeram? Não superaram. E agora vêm num processo de destruição".

Leia a entrevista.

Terra Magazine - Gostaria que o senhor explicasse a decisão de deixar o partido.

Isso vem, infelizmente, já de longa data. O PSDB não vem resolvendo seus problemas aqui na capital. A capital de São Paulo, o nascedouro do PSDB, tem sido tratada nos últimos anos com a barriga empurrando. A escolha dos diretórios municipais, o tratamento dado aos vereadores, o tratamento dado àqueles que têm uma luta política real... Eu sou o deputado federal mais votado do PSDB em 2002 e 2006. E aí, vem gente do interior aqui, faz o que quer, manda, e tem o beneplácito do governo do Estado.

Isso atingiu seu ponto máximo quando, na última eleição do diretório municipal, cinco secretários de Estado articularam, com interesse do Palácio, uma chapa que excluísse os vereadores. É uma contradição insuperável e um tratamento indigno a um partido parlamentarista.

O senhor fala do secretário de Gestão Pública, Julio Semeghini, presidente do diretório municipal?

Cinco secretários participaram diretamente, mostrando, sem sombra de dúvidas, como o governo do Estado interferiu. Foi escolhido o Julio Semeghini, que tem uma participação discreta aqui na capital. A base política dele é no interior de São Paulo. Ele é secretário de Estado e, portanto, tem tarefas de governo que lhe tomam todo o tempo. Como é que ele vai cuidar do partido? E por que cuida do partido? Porque o partido tem que estar sob a sombra do Palácio.

Desde a eleição, quando não conseguiu eleger nomes importantes, o PSDB enfrentou muitas notícias ruins. Houve a criação do PSD, que deve abalar a oposição, o criticado artigo de Fernando Henrique e a saída dos vereadores de São Paulo. O que é que está acontecendo com o PSDB?

Eu acho que um partido político precisa, permanentemente, ser reciclado. Precisa fazer uma análise crítica e autocrítica. Precisa sair fortalecido dos processos eleitorais, mesmo que não tenha ganho. Ele precisa ver os erros e acertos e melhorar nas próximas. Precisa criar novos quadros e quem milita tem que ter a oportunidade de dizer o que pensa. O partido não pode deixar de fazer isso. O partido não tem dono! Não é porque ele é governador do Estado que manda no partido, manda no Estado e no município. Bota na direção do Estado e do município quem ele quer? E nós? Somos assistentes de um espetáculo de mau gosto?

A decisão do prefeito Kassab, de fundar um novo partido, tem alguma coisa a ver com essa crise?

Se você quiser, eu fico de joelhos para você acreditar. Zero! Nenhuma importância. Esse é um processo político próprio do prefeito e do DEM, partido do qual ele acabou de sair. O nosso processo é outro. Não fomos estimulados, constrangidos ou impedidos. O Gilberto Kassab não fez qualquer movimento para nos conduzir ou alterar nossa decisão. Nós não saímos para ir ao PSD. Nós não somos iguais ao (deputado federal Gabriel) Chalita, que sai de um partido e entra noutro o tempo todo procurando seu projeto pessoal.

O PSDB sempre teve uma base eleitoral muito grande no Estado de São Paulo. Ainda assim surge a crise, como o senhor disse, no nascedouro do partido.

O PSDB tem uma hegemonia no Estado, nos últimos 20 anos, praticamente absoluta. Mas isso não significou fortalecimento do partido. Nós perdemos a oportunidade para que o partido fosse cada vez mais soberano. Nesse período, ele se enfraqueceu, se reduziu e perdeu a autonomia. Então, essa é uma crítica que o PSDB tem que fazer porque tem, no cenário nacional, uma tarefa insubstituível. Estou saindo, mas eu digo que esse partido tem uma história importantíssima. E tem um projeto futuro, que não será realizado se o partido não fizer sua autocrítica.

Falando em autocrítica, o artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi justamente um apelo para repensar o partido e acabou mal com o trecho sobre o "povão". O que o senhor pensou disso?

Fernando Henrique é um sábio. E um sábio com a plena convicção de não fazer proselitismo político. Ele foi muito claro. Há uma capacidade de manipulação da sociedade e dos programas de distribuição de renda. Estamos vivendo um momento difícil. O que Fernando Henrique disse é que isso vai ter que mudar. Que há um setor da sociedade que é crítico e que temos que trabalhar isso. Se você quiser interpretar que isso é "abandonar o povão", você tem o direito. Mas o artigo é intelectual, não é político. Não discordo em ponto algum, só discordo das maldades que usaram para tratar dele.

E quanto do enfraquecimento do PSDB em São Paulo se deve à rixa entre José Serra e Geraldo Alckmin?

Também. Não tenho dúvida. O partido se enfraqueceu por uma disputa, na minha avaliação, muito mal trabalhada pelo Geraldo. O Serra tentou superar, mas não conseguiu. Ele, quando convida o Geraldo para ser secretário de Ciência e Tecnologia (em seu mandato como governador entre 2007 e 2010), estava querendo parar com essa briga. Mas o Geraldo assumiu e piorou a briga. Os vereadores que foram excluídos deram sustentação ao Serra. Jamais poderiam ter sido tratados dessa maneira. A generosidade que o Serra teve com Geraldo, o Geraldo não teve com Serra.

O senhor atribui isso ao apoio dessa ala serrista a Kassab na disputa pela prefeitura contra Alckmin?

Nós superamos esse problema. Mas o que eles fizeram? Não superaram. E agora vêm num processo de destruição. Nós superamos. Magina! Eu caí de cabeça na campanha do Geraldo em 2010! Que história é essa de se vingar? O Edson Aparecido (Secretário do Desenvolvimento Metropolitano) chegou a dizer que nós tínhamos que pedir perdão ao Geraldo.

Mas essa sensação de exclusão que o senhor e os vereadores que deixaram o partido têm não é, digamos, esquentada com a proximidade das eleições municipais de 2012?

Pra que? Está tão distante. Não tem nada em disputa. Eu cheguei a falar para o Edson. "Se você não quer permitir que os vereadores participem do diretório municipal como é de direito... você quer que eu assine um documento dizendo que não serei candidato à prefeito? Eu assino!". E ele disse que tínhamos que pedir perdão ao Geraldo. Bom, então... Saí do partido que ajudei a fundar!



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