Paulo Maluf pode se livrar de denúncia por lavagem de dinheiro e corrupção

Maluf é acusado de lavagem de dinheiro --por três vezes-- e de formação de quadrilha

Avalie a matéria:
Maluf | Arquivo
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

O tempo conta duplamente a favor do deputado federal Paulo Maluf (PP-SP): graças à idade avançada (recém completou 78 anos) e à tramitação prolongada de um inquérito criminal, ele poderá livrar-se, já neste ano, de eventualmente vir a ser punido por crimes de lavagem de dinheiro, delitos que lhe são atribuídos pelo Ministério Público Federal. Maluf conta com o benefício da dúvida --a presunção de inocência-- e com a certeza de que os processos costumam ser mais demorados no Supremo Tribunal Federal, em Brasília.

O inquérito subiu para o STF quando Maluf foi eleito, em 2006, pois ganhou direito a foro especial. A demora o favorece, pois aumenta a hipótese de prescrição. É quando se esgota o prazo previsto em lei para que o Estado possa exercer o direito de processar ou condenar alguém. Como tem mais de 70 anos, Maluf também é beneficiado por uma lei que reduz pela metade o tempo para a prescrição, cuja contagem começa da data do suposto crime. Pelos cálculos da Procuradoria, já neste ano ele não poderá ser condenado por eventual crime de lavagem de dinheiro na Inglaterra; a suposta prática do mesmo delito na Suíça prescreve em 2010, e, na ilha de Jersey, em 2014.

Um eventual crime de formação de quadrilha estará prescrito no próximo ano. O ex-prefeito nega as acusações. Segundo seu assessor de imprensa, Adilson Laranjeira, "Paulo Maluf não tem e nunca teve conta no exterior". Em agosto de 2007, o ministro Eros Grau, do STF, arquivou inquérito em que Maluf era investigado por crime de corrupção na construção do túnel Ayrton Senna, porque o prazo para responsabilizá-lo havia se esgotado em 2004.

Desde fevereiro de 2007, está com o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, o inquérito 2.471, em que Paulo Maluf e mais dez pessoas, entre elas sua mulher, Sylvia, os filhos Flávio, Lígia, Lina e Otavio e outros familiares foram acusados criminalmente pelos mesmos fatos que motivaram recente bloqueio de bens numa ação civil pública em São Paulo. Maluf responde a processos de natureza civil e criminal. Na área cível, o Ministério Público Estadual pretende trazer de volta para o país US$ 166 milhões. Esse dinheiro teria sido desviado de obras públicas superfaturadas quando Maluf foi prefeito (1993-1996), remetido ilegalmente ao exterior por doleiros e "laranjas", e "lavado" em investimentos na Eucatex, empresa da família. A lavagem é uma operação pela qual o dinheiro "sujo", obtido de forma ilícita (crime antecedente) retorna ao mercado como se fosse "limpo", dificultando a comprovação da origem ilícita.

Na esfera criminal, Maluf é acusado de lavagem de dinheiro --por três vezes-- e de formação de quadrilha. Segundo a Procuradoria, trata-se de lavagem do dinheiro proveniente dos crimes de corrupção passiva e de organização criminosa. Lewandowski ainda deverá submeter a denúncia aos demais ministros do STF, que decidirão pelo recebimento ou não da acusação (o recebimento interrompe a contagem do tempo para prescrição).

Lewandowski não atendeu ao pedido do então procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, para que o processo fosse desmembrado. Nessa hipótese, ficaria no STF só a denúncia contra Maluf; os demais acusados seriam julgados em São Paulo, na primeira instância da Justiça Federal. "Muito provavelmente o caso estaria em fase final na primeira instância", diz o procurador da República Rodrigo de Grandis, autor da denúncia.

Ele diz que a jurisprudência do STF tem sido favorável ao desmembramento. Processos com muitos denunciados tendem a ser demorados. Já foram juntados ao processo mais de 60 petições. De Grandis ofereceu a denúncia em 2006, na véspera da diplomação de Maluf. O advogado do ex-prefeito, José Roberto Leal, classificou a iniciativa de "um passa-moleque no Supremo" e a assessoria do prefeito ameaçou processar o procurador. O que não aconteceu.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES