PGR denuncia 38 suspeitos envolvidos no mensalão do DEM

Entre os denunciados está o ex-governador do DF José Roberto Arruda

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O ex-governador José Roberto Arruda em foto de arquivo | Fabio Pozzebom/Agência Brasil
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O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, denunciou nesta sexta-feira (29) ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) 38 pessoas suspeitas de envolvimento no mensalão do DEM, suposto esquema de corrupção que teria desviado recursos do governo do Distrito Federal para pagamento de propinas para autoridades.

Gurgel deu a declaração após sessão da qual participou no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta manhã. Entre os denunciados estão o ex-governador do DF José Roberto Arruda (sem partido), apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como chefe da suposta organização criminosa.

O advogado de Arruda, Nélio Machado, disse que não havia sido notificado da denúncia. "Estou fora do escritório, assim que chegar vou tomar conhecimento do caso e a gente pode voltar a se falar", disse. No mês passado, ele havia dito que havia falta de conteúdo nas denúncias contra Arruda.

Também fazem parte do rol de denunciados o ex-vice-governador Paulo Octávio, o ex-secretário de Relações Institucionais e delator do esquema, Durval Barbosa, ex-secretários de Estado, deputados distritais e o conselheiro licenciado do Tribunal de Contas do DF Domingos Lamoglia.

Mesmo afastado do Tribunal de Contas desde dezembro de 2009, Lamoglia mantém o foro privilegiado. A prerrogativa do conselheiro é que levou a denúncia para o STJ, na medida em que os demais envolvidos que tinham foro perderam seus cargos por conta do escândalo.

Gurgel não adiantou os nomes dos ex-deputados distritais denunciados, entretanto, confirmou que todos os parlamentares flagrados nos vídeos de Barbosa, entre eles Leonardo Prudente, Júnior Brunelli e Eurides Brito, são alvo da denúncia.

Prudente ficou conhecido por aparecer em vídeo guardando dinheiro nas meias. Brunelli aparece em outra filmagem comandando a "oração da propina", em que ele faz oração logo após receber dinheiro de Durval Barbosa.

A assesoria do ex-vice-governador disse que não tinha conhecimento da denúncia e que só se manifestaria depois de falar com Paulo Octávio.

O G1 entreou em contato com Domingos Lamoglia e com a advogada de Durval Barbosa, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

Segundo Gurgel, os suspeitos foram enquadrados, basicamente, nos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Com 180 páginas, a denúncia relata com detalhes como operavam os integrantes da suposta organização criminosa. Segundo Gurgel, os operadores do esquema teriam ?inovado? ao introduzirem na administração pública o ?reconhecimento de dívida?.

Um decreto publicado por Arruda permitiu a realização de pagamentos pelo governo do DF mesmo sem que fosse comprovada a prestação de serviços. O método assegurou contratações com dispensa de licitação, principalmente de empresas do setor de informática.

?Por meio disso, generosíssimos pagamentos eram feitos a diversas empresas, e claro que, em retribuição, os empresários mantinham pagamentos regulares, mensais a diversas pessoas do governo do DF?, relatou Gurgel.

A denúncia da PGR também detalha como teria ocorrido a partilha do dinheiro desviado dos cofres públicos. Conforme o procurador-geral, Arruda recebia 30% da propina, Paulo Octávio 20%, e os secretários de Estado 10%. A fatia, porém, variava de acordo com cada contrato, enfatizou Gurgel.

O procurador-geral enviou para o STJ, junto com a denúncia, 70 caixas com documentos que demonstrariam como a quadrilha liderada por Arruda atuava. Caberá ao ministro Arnaldo Esteves Lima, relator do inquérito da Caixa de Pandora no STJ, analisar as alegações da Procuradoria-Geral.

Após averiguar a denúncia, Lima encaminhará seu relatório para apreciação da Corte Especial do tribunal. Caberá ao colegiado decidir se será aberta ação penal contra os 38 denunciados por Gurgel. Somente se a Corte acatar a denúncia, é que os suspeitos passam a ser réus.

Figura "central"

Na ótica dos procuradores, o ex-secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa teria sido uma ?figura absolutamente central? no esquema. Apesar de ter feito acordo de delação premiada com a Justiça, o delator do escândalo também foi denunciado pela PGR.

Gurgel afirmou que os acordos feitos em troca de informações ?não afastam a possibilidade de denúncia?.

?Nunca fazemos acordos de delação que impliquem em afastar as responsabilidades, sobretudo, quando a pessoa tem uma participação central?, ressaltou o procurador-geral.

Esquema

A operação Caixa de Pandora foi deflagrada pela Polícia Federal em novembro de 2009 e investigou o suposto esquema de pagamento de propina no governo do Distrito Federal.

Segundo a Justiça, Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do governo Arruda, disse em depoimento que parlamentares da base aliada ao ex-governador receberam R$ 420 mil para a aprovação do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT).

Arruda chegou a ser preso, deixou o DEM para não ser expulso e foi cassado pela Justiça Eleitoral. Paulo Octávio, então vice, renunciou ao cargo para defender-se das acusações.

Durante meses, o DF esteve ameaçado de intervenção federal, em razão do suposto envolvimento de deputados distritais, integrantes do Ministério Público e do Executivo com o esquema denunciado por Durval Barbosa.



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