Presidente do BC deve sair candidato ao Senado

Após reunião do Copom, no próximo dia 17, o presidente do Banco Central vai dedicar-se aos assuntos relacionados ao seu futuro político

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Após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês, que será encerrada na próxima quarta-feira, dia 17, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vai dedicar-se aos assuntos relacionados ao seu futuro político e decidir se vai ou não deixar o governo no dia 3 de abril para candidatar-se a um cargo eletivo neste pleito. "Depois do Copom, devo colocar a cabeça no travesseiro para pensar com mais profundidade sobre esta questão", afirmou Meirelles, em conversa recente com uma fonte do governo.

Em outubro do ano passado, Meirelles declarou que eram maiores as chances de ele permanecer à frente do Banco Central até o final de 2010. Hoje, contudo, ele não trata o assunto da mesma forma.

Segundo um interlocutor com acesso ao Palácio do Planalto, Meirelles lhe confidenciou que no final do ano passado havia uma avaliação diferente sobre as perspectivas de curto prazo da economia mundial, sobretudo em relação ao Brasil. E que agora a conjuntura mudou para melhor. "Com um cenário positivo para o crescimento do País, Meirelles avalia que há menores riscos de que, caso deixe o BC, tal decisão possa atingir seu legado de estabilidade macroeconômica", reitera a fonte.

Nos raros diálogos que mantém sobre sua eventual decisão de deixar o BC, Meirelles chega a mencionar a hipótese de concorrer ao Senado pelo PMDB de Goiás. Em conversa recente com outra autoridade do governo, ele destacou que tal candidatura pode ocorrer, inclusive porque o partido o apoia neste sentido. Já a respeito dos comentários de que poderia tentar se viabilizar como vice na chapa encabeçada pela ministra Dilma Rousseff (PT), Meirelles demonstra pragmatismo e diz que essa é uma questão que deve ser tratada pelo PMDB e não cabe a ele defini-la.

Essa fonte informou, ainda, à Agência Estado que já questionou o presidente do BC a respeito do propagado interesse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em ter uma chapa presidencial com Dilma e Meirelles, no intuito de agregar à petista o conhecimento da gestão da política monetária nos últimos sete anos. De acordo com essa autoridade, Meirelles lhe respondeu de forma direta, porém cortês: "O teor das conversas reservadas com o presidente Lula apenas deixo para mim e para ele."

"Vice ideal"

Fontes ouvidas pela Agência Estado em Brasília, São Paulo, Nova York, Washington e Londres apontam que é grande a chance de Henrique Meirelles deixar o Banco Central no início de abril para concorrer às eleições deste ano. "Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Meirelles seria o vice ideal da pré-candidata Dilma Rousseff, pois tornaria a chapa moderna e ponderada", afirmou o diretor do Eurásia Group, Christopher Garman. Tal movimento político seria semelhante ao que Lula realizou em 2002 quando escolheu o empresário José Alencar como seu vice.

Na opinião de investidores, empresários e economistas, Meirelles agregaria à candidata do governo a vasta experiência na condução da política monetária na era Lula. E isso poderia reduzir, junto ao eleitorado, a imagem de que ela poderia sofrer eventuais pressões de alas de esquerda do PT para adotar medidas econômicas radicais. "Muitas pessoas avaliam que a pré-candidata pode ficar suscetível às pressões de seu partido, além disso, ela é apontada como estatizante", afirmou Garman.

Para um ex-presidente do Banco Central, o presidente Lula poderá tentar convencer o PMDB de que Meirelles é o melhor nome para ser vice na chapa de Dilma. Essa tática levaria em consideração o avanço da ministra nas pesquisas de opinião, junto com um maior crescimento do País nos próximos meses. O BC estima que o Brasil deverá registrar uma expansão de 5,8% neste ano, resultado bem melhor que a projeção de incremento de 0,2% em 2009. "Quanto mais forte Dilma ficar junto ao eleitorado e a economia for bem, menor será a resistência peemedebista às posições do Palácio do Planalto", comentou.

Segundo um diretor da Fiesp, os empresários em geral não sabem o que Dilma Rousseff pensa sobre economia, "ao contrário de Meirelles, que defende metas de inflação, câmbio flutuante e austeridade fiscal", disse. Para a economista-chefe do banco ING, Zeina Latif, Henrique Meirelles também seria fundamental para um futuro governo Dilma, a fim de viabilizar mudanças estruturais na economia, junto com Luciano Coutinho, que é cotado para ser seu eventual ministro da Fazenda. Entre estes temas estão a melhora da gestão fiscal com a reforma da Previdência e avanço expressivo dos investimentos públicos e privados.

Campanha presidencial

Embora alguns analistas acreditem que é possível Henrique Meirelles deixar o BC no começo de abril para tentar ser o vice da chapa da pré-candidata ao Palácio do Planalto pelo PT, Dilma Rousseff, é pequena a probabilidade de o PMDB indicar hoje seu nome para o posto. A cúpula do partido defende que o cargo seja ocupado pelo deputado Michel Temer, presidente da legenda e da Câmara Federal. Nesse contexto, se Henrique Meirelles optar por seguir a carreira política, é mais provável que tente disputar o Senado Federal.

Os cientistas políticos Murilo Aragão, sócio-diretor da consultoria Arko Advice em Brasília, e Christopher Garman, diretor para América Latina do Eurásia Group em Washington, ressaltam que o PMDB é um partido grande e complexo e a cúpula da agremiação está cada vez mais unida para tornar o deputado Michel Temer vice de Dilma. "Meirelles chegou agora no PMDB e ainda não é um general no partido", comentou Aragão. Para ele, Temer é o único político do PMDB que conseguiria unir o partido em torno do nome da ministra.

Na avaliação de Garman, o presidente Lula deve ponderar que o apoio integral do PMDB à campanha de sua candidata à sucessão é vital para garantir um bom tempo no horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão. Essa propaganda, aliás, é considerada instrumento vital numa eleição que deverá se caracterizar pela polarização e acirramento.

Para uma fonte no Palácio do Planalto, faz sentido que o presidente Lula veja com entusiasmo o nome de Meirelles para compor a chapa com Dilma, sobretudo por causa de sua experiência na gestão da política monetária. "Mas o presidente não pode tudo", comentou. Para a fonte, o PMDB é uma agremiação política muito forte, inclusive no Congresso, e dificilmente será flexível para aceitar um nome para a chapa de Dilma que não atenda aos interesses de sua direção.

"Seria uma extraordinária surpresa ver na convenção do PMDB em junho líderes como Geddel Vieira Lima, José Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho e Orestes Quércia aplaudindo em pé a indicação de um novato no partido, Henrique Meirelles, como o companheiro de Dilma na campanha presidencial", disse essa autoridade.



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