Fides Angélica: a força da mulher advogada do Piauí

Primeira e única mulher a presidir a OAB-PI, a eterna professora de Direito ainda tem muito o que ensinar

Fides Angélica de Castro Veloso Mendes Ommati é o nome de uma das mais importantes figuras do direito piauiense e - por que não? - brasileiro. Nascida em 28 de novembro de 1945, ela celebra os 77 anos no auge da carreira. Foi a primeira e única mulher a presidir a OAB-PI.

Fides presidiu a OAB-PI durante os anos de 1987 a 1989, 1991 a 1993 e de 1993 a 1995. Em 1997, fundou a Escola Superior de Advocacia do Piauí. Já em 1999 fundou a Escola Nacional de Advocacia. A gestão da advogada surpreendeu e trouxe avanços importantes para os advogados.

No currículo, uma extensa formação acadêmica. Possui graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Piauí e graduação em Licenciatura Plena em Letras pela Universidade Federal do Piauí. Além disso, é especialista em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Federal do Ceará e mestre em Direito Público pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

E o tempo parece não passar para ela. "É que sou baixinha, aí o tempo passa por cima", brinca a sorridente jurista. A simpatia e o carisma fazem parte da personalidade de Fides Angélica, que soube impor a própria inteligência e competência fazendo algo que todos deveriam fazer: lidar com todo mundo igualmente.

Em 2023, ela planeja escrever livros, fazer palestras e aproveitar todo o conhecimento que adquiriu ao longo da vida. Atualmente, mantém, com muito carinho, a presidência da Academia Piauiense de Letras Jurídicas (APJL), além de ocupar uma cadeira na Academia Piauiense de Letras (APL).


ornal Meio Norte: Quando você decidiu que seria advogada?

Fides Angélica: Não decidi. Eu queria ser engenheira. Mas aqui não tinha. Tinha filosofia, odontologia e direito. Foi uma escolha em opções limitadas. No entanto, a gente só aprende e faz bem o que a gente ama. Sou vocacionada mesmo foi pelo magistério. Eu, com 15 anos, dava aula para o exame de admissão.



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“As mulheres estão menos submissas e mais ousadas. Eu sempre dizia para minhas colegas. A grande questão é que precisamos mostrar que temos nosso valor e assumir lideranças. Não podemos ser coadjuvantes. Vejo com alegria jovens advogadas com o próprio escritório"
Fides Angélica

JMN: Este ano você completa 53 anos de advocacia. O que mudou de meio século para cá?

FA: Mudou nosso estatuto que regulamenta a advocacia. Tivemos algumas mudanças, sendo que algumas não aprovei. Outra mudança grande é o número de profissionais e faculdades. Na década de 60 e 70, houve um trabalho para não criar mais cursos de Direito. Mas depois houve uma abertura muito grande. Em 1987, quando fui presidente da OAB, só havia o curso de Direito da UFPI com alunos egressos, na época já funcionava o curso da UESPI. No meu segundo mandato, criou-se a primeira faculdade de direito que era privada. Faz duas décadas e hoje temos mais de 20 cursos de Direito só em Teresina.



JMN: E quais seus planos futuros?

FA: Eu nunca disse um não para uma palestra e uma aula. Sinto-me honrada e útil. Eu trabalho na Academia que foi fundada em 1981, no dia primeiro de outubro. Éramos todos professores do curso de Direito. Todos foram para o céu, mas estou aqui na terra lutando por nossa Academia. Pelo Direito também! Faço eventos discutindo assuntos jurídicos e divulgando projetos. Continuo na luta, também na Academia de Letras. Faço o cerimonial… Gosto de cuidar de tudo pessoalmente!

JMN: Qual o maior desafio de um advogado hoje em dia?

FA: O número de advogados. A concorrência é muito grande. É preciso ser muito bom para se destacar. Além disso, o enfrentamento da máquina judicial tão emperrada e ruim. Muito burocrática. É um problema para o advogado e a sociedade inteira.



JMN: Hoje as mulheres ocupam cada vez mais cargos importantes, coisa que não era comum no início da sua carreira. Esse avanço é positivo para a advocacia?

FA: As mulheres estão menos submissas e mais ousadas. Eu sempre dizia para minhas colegas. A grande questão é que precisamos mostrar que temos nosso valor e assumir lideranças. Não podemos ser coadjuvantes. Vejo com alegria jovens advogadas com o próprio escritório. Isso é muito bonito. Hoje temos cinco seccionais presididas por mulheres. Inclusive a maior seccional do Brasil, que é São Paulo, com mais da metade dos advogados do Brasil.



JMN: Você foi a primeira mulher a presidir a OAB. Como você observa esse pioneirismo que faz parte da sua vida?

FA: Natural. Minha primeira eleição foi em 1976. À época, o estatuto exigia cinco anos de exercício profissional para participar do conselho. Então entrei como secretária em 1977. Passei 30 anos seguidos sendo eleita continuamente. Passei a ter uma liderança. Quem organizava as chapas era eu. Nunca ninguém me discriminou. Para a mulher não ser discriminada e se equiparar ao homem, ela tem que ser melhor. Na minha turma, fui a primeira colocada no vestibular. Na hora de eleger o orador, eu fui eleita na primeira votação. Mas um grupo de homens disse que a eleição não era válida. Ganhei de novo, com mais adesão de homens. Fui ainda mais votada. Armei minha pequena vingança. No meu discurso de formatura, abordei o tema da igualdade de sexos. Isso em 1969. Você pode vir brigando comigo, mas eu sei me defender. Quando fiz mestrado no Rio, eu peitei logo foi o diretor. Ele disse que eu tinha muita nota 10. Ele perguntou se iria considerar o 10 do Piauí com o 10 do Rio de Janeiro. Ele dizia: a senhora gosta de 10, né? E eu dizia: eu gosto é de estudar!

JMN: Por isso decidiu ser professora de direito?

FA: Sim. Fui trabalhar na área jurídica, no departamento jurídico do estado. Eu sou do primeiro concurso público para procurador. Então criaram a Universidade Federal, surgiu a oportunidade e fui para lá. Eu tive a honra de dar aula no mesmo prédio e sala onde eu havia estudado. Foi um privilégio. Comecei a dar aula em 1972, faz 50 anos no dia 4 de abril. E em 1973 nos mudamos para o campus da Ininga.

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