Levado para a Dinamarca no século 17, manto Tupinambá retornará ao Brasil

A peça indígena foi levada para fora do Brasil no período colonial, entre 1630 e 1654

Manto tupinambá do século XVI, feito de penas do pássaro guará | Reprodução - Foto: Divulgação
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O Museu Nacional da Dinamarca, localizado em Copenhague, informou na última terça-feira (27), que a instituição irá devolver para o Brasil um manto Tupinambá, artefato que foi levado do país no período colonial, durante a ocupação holandesa ocorrida no século 17. O manto está no acervo do museu desde pelo menos 1699.

A vestimenta era utilizada em rituais religiosos considerados importantes para a tribo Tupinambá e em outras cerimônias indígenas. A peça representa uma parte da cultura material, religiosa e das tradições artesanais do povo Tupinambá. O artefato é feito de penas vermelhas do pássaro chamado “Guará”, que foram costuradas em uma malha orgânica através de uma técnica de costura ancestral usada pelo povo Tupinambá. Medindo cerca de 1,80 metro de altura por 80 centímetros de largura, trata-se de um dos modelos mais conhecidos e que está mais bem preservado.

O processo de negociações para que ocorresse a devolução do manto ao Brasil, ficaram a cargo da embaixada brasileira em Copenhague, do Museu Nacional do Rio de Janeiro e do Museu Nacional da Dinamarca. De acordo com o museu dinamarquês, as expectativas para o retorno do manto Tupinambá ao Brasil estão previstas para maio de 2024.

“O patrimônio cultural desempenha um papel decisivo nas narrativas das nações sobre si mesmas e na auto compreensão das pessoas. É assim no mundo todo e por isso é importante para nós ajudar na reconstrução do Museu Nacional brasileiro após o incêndio devastador de alguns anos atrás”, explicou o diretor do Museu Nacional da Dinamarca, Rane Willerslev.

“A doação deste importantíssimo objeto cultural brasileiro, que significa tanto para tantas pessoas, é até agora a contribuição mais significativa para a nova exposição do primeiro museu do Brasil. Vamos homenageá-lo, valorizá-lo e torná-lo acessível aos povos indígenas”, afirma o diretor do Museu Nacional do RJ, Alexander Kellner.

Baseado em registros históricos dos europeus nos séculos 16 e 17, os mantos que eram usados pelos Tupinambás em importantes rituais, em sua maioria, foram roubados e enviados à Europa por missionários jesuítas. Em outras ocasiões foram simplesmente levados como espólio ao final de guerras ou trocados num comércio nada igualitário, onde apenas os colonizadores eram favorecidos com a troca.

A artista Glicéria Tupinambá, que está concluindo sua formação em antropologia no Museu Nacional, atualmente vem realizando um trabalho de encontro e de pesquisa dos mantos e outros artefatos indígenas de seus ancestrais, que estão juntos às instituições europeias. Em uma entrevista ao G1, ela fala sobre sua experiência durante a pesquisa, e como se sente sabendo que um artefato tão valioso para sua cultura está retornando ao país de origem.

Glicéria Tupinambá em encontro emocionante com manto indígena que retornará ao Brasil/Reprodução:Renata Cursio Valente/URFJ

"Eu vejo a nossa cultura como um pote que foi quebrado, espalhando vários caquinhos, vários fragmentos por todo o canto. Agora é o momento de a gente recolher esses fragmentos e recompor esse pote", afirma Glicéria. Para ela, poder encontrar os mantos e outros artefatos é uma oportunidade para que assim a cultura tupinambá como um todo seja vista de forma completa, e não somente dividida em partes.

Em uma nota conjunta postada pelos Ministérios das Relações Exteriores, da Cultura, da Educação e dos Povos Indígenas, as organizações agradeceram a empatia do governo dinamarquês em devolver o item.

“O Governo brasileiro felicita e agradece o Governo dinamarquês e o Museu Nacional da Dinamarca pela aprovação da doação, que tem grande valor físico, cultural e espiritual para os povos originários brasileiros e, especialmente, para os Tupinambá e contribuirá para o resgate da história e da cultura dos povos indígenas nacionais”, consta em nota.



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