Menina recebe ajuda após ser flagrada tomando banho em bueiro: “lá em casa não tem água”

Desde que a foto foi publicada e ganhou as redes sociais, Maria passou a ser procurada por assistentes sociais

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Escondida entre inúmeros dramas sociais do dia a dia, a história de vida de Maria, de 5 anos, começou a ser reescrita depois do flagrante da menina se banhando nas águas sujas de um bueiro no Centro da cidade, na última terça-feira. Desde que a foto foi publicada e ganhou as redes sociais, Maria passou a ser procurada por assistentes sociais, por agentes da prefeitura do Rio, de São João de Meriti e do Conselho Tutelar. Maria deixou de ser invisível como tantas crianças que fazem parte da população de rua da cidade, estimada em cerca de 5.580 pessoas. Algo que nunca experimentou em sua curta existência desde que nasceu em 2009, numa invasão conhecida como Marítima, no Porto. Nunca teve casa. Sem pai e mãe presentes, ela divide as dificuldades cotidianas com a avó Raimunda Fernandes, de 66 anos, num casebre na comunidade Jardim Íris, em São João de Meriti. E, apesar de já ter idade para estar na escola, frequenta uma creche — quando não está perambulando pelas ruas.

Depois de tantos percalços, ela foi encontrada nesta quinta-feira ao lado de Raimunda, vestida com uma roupa cor de rosa, limpa e aparentemente feliz. Parecia animada com o súbito interesse que passou a despertar nas pessoas. A ponto de fazer planos para o Natal.

— O que vai acontecer? Vou ganhar presente? Meu sonho é ganhar um tablet e uma bicicleta — disse a menina, que não parava quieta.

Maria passou a ser procurada por equipes da Secretaria municipal de Desenvolvimento Social, que também saíram às ruas em busca do pai dela. Ele começou a vagar pelo Centro do Rio desde que foi expulso do Jardim Íris pelo tráfico. Já está há dez anos na rua, e a avó Raimunda, que é mãe dele, conta que, pelo menos uma vez por mês, leva Maria para vê-lo. Ela aproveita a oportunidade quando vai receber o aluguel social da prefeitura, ao qual passou a ter direito quando a Marítima, que ocupava um galpão na Avenida Rodrigues Alves, foi removida. Desde então, foi cadastrada e aguarda com a neta um apartamento do programa Minha Casa Minha Vida, na Frei Caneca. Os agentes da prefeitura a procuravam para levá-la a um abrigo. Mas a casa tão sonhada está perto de virar realidade. Já o Conselho Tutelar pretendia encaminhar o pai e Maria para o Juizado da Infância, da Juventude e do Idoso, mas, até então, não sabiam da existência de Raimunda na vida da criança.

Nesta quinta-feira, após saber que a menina mora com a avó numa comunidade de São João de Meriti, o secretário de Promoção Social do município da Baixada Fluminense, Geraldo Luiz Brinate, disse que estava determinado a melhorar a vida da família. Ele enviou uma nota para o jornal: “A Secretaria de Promoção Social de São João de Meriti vem, por meio desta, solicitar os dados da família da menor (nome da sua avó, pai, endereço da família em SJM), para que possamos identificá-la e verificar se a família é usuária da assistência social do município, assim como se a mesma é acompanhada por alguma equipe técnica. Necessitamos em caráter de urgência de seu contato para a partir daí acompanhar suas necessidades e inseri-la em programas que forem cabíveis”.

Uma equipe de reportagem conversou na quinta-feira com a garota e sua avó, que é viúva e pensionista da prefeitura do Rio. O encontro aconteceu numa lanchonete aos pés do Morro do Jardim Íris, em Vilar dos Teles, distrito de São João de Meriti. Vestida com sua “roupa mais bonita” — uma camiseta com o desenho da Barbie, uma saia de babados e um par de sandálias, tudo rosa —, a criança contou que estava com muito calor quando decidiu mergulhar nas águas do bueiro, que fica atrás do Teatro João Caetano.

— Muita gente entra naquele buraco. Meu pai deixou. Eu enfiei a cabeça toda na água. que estava quente. Eu estava sentada numa pedra com as pernas na água. Mas ela estava me machucando. Então pulei. Aquela água é limpa. Todo mundo vai lá — contou Maria.

Segundo a avó da criança, no momento em que a neta foi fotografada no bueiro, ela estava cuidando da documentação de um apartamento no condomínio Ismael Silva, na Rua Frei Caneca, no Estácio, que receberá do programa em breve.

— Naquele dia, eu estava na Rua da Ajuda vendo os documentos. Ontem (quarta-feira), eu e ela fomos ver o apartamento. Gostamos muito. Moro numa casa que meu irmão me deu. Eu gosto daqui. Mas acho que ela viverá melhor lá no Rio — disse a avó.

Na quarta-feira, Maria e Raimunda foram até lá. A menina se deslumbrou, justamente, com a água, algo raro para as duas. Raimunda costuma buscar água numa torneira coletiva para abastecer seu barraco.

— Gostei muito. Tem água na privada, na pia, no chuveiro. Lá em casa não tem isso — enumera Maria, animada.

Às 13h de quinta, as duas não haviam almoçado. Em casa, havia uma panela com feijão e um pouco de macarrão instantâneo, o prato mais presente à mesa da família. Raimunda foi incluída pela prefeitura no Cadastro Único para transferência de renda e acesso a benefícios sociais, em julho de 2012. Desde então, recebe um salário mínimo de pensão. E também recebia R$ 400 de aluguel social.

— Meu sonho é que meu filho aceite ir morar com a gente. A mãe da minha neta vive na rua, é usuária de crack. Não posso contar com ela. Gostaria que minha neta tivesse um pai normal. Hoje, peço a Deus que me deixe viver até ela completar pelo menos 15 anos. Já vai poder andar com as próprias pernas — explicou a mulher, que nasceu em Macau, no Rio Grande de Norte, e veio para o Rio aos 8, junto com o pai e sete irmãos, todos já mortos.

A criança tem sonhos e o maior deles é ser professora. Na creche, ela aprendeu a respeitar as professoras:

— Gosto muito delas. Faço tudo que elas mandam. Quero ser como elas.

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