Unilever impõe posicionamento na empresa: “Neutro é o nosso detergente”

Suelma Rosa, nova head de sustentabilidade da empresa, afirma que as marcas devem falar sobre questões importantes para a sociedade, não para os consumidores

Unilever | Reprodução
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Toda empresa deseja conquistar uma base de clientes plural. Excluir consumidores nunca é uma boa ideia. Promover a inclusão, por sua vez, mostra-se uma estratégia lucrativa, como atestado pela gigante de bens de consumo Unilever, que há tempos trabalha o tema da diversidade dentro e fora da companhia. Mas, até que ponto uma empresa deve verbalizar suas posições, diante de temas polêmicos que polarizam a sociedade?

Para a diplomata corporativa Suelma Rosa, que acaba de assumir a diretoria de sustentabilidade da Unilever, a neutralidade não é possível. “Neutro é o nosso detergente, você precisa de empresas que se posicionem sobre questões importantes, não para os consumidores, para a sociedade”, afirma a executiva. “Não podemos nos calar sobre o racismo, por exemplo.”

Suelma Rosa, nova head de sustentabilidade da Unilever (Foto: divulgação)

A Unilever é conhecida por questionar valores e estereótipos. Somente em julho, ela lançou uma campanha para discutir a masculinidade, rechaçando a figura do “macho” e trazendo para a pauta o tema dos cuidados pessoais. A empresa também retirou de circulação os produtos Ben & Jerry’s, marca de sorvetes, dos territórios ocupados por Israel na Palestina. O governo israelense reagiu de maneira violenta, prometendo “graves consequências à empresa se não revisse o posicionamento.

Oposição, diz Rosa, sempre existirá. “Existem pessoas, não sei de onde tiram essas ideias, que acreditam na superioridade branca. Eu não posso concordar com elas”, afirma. “Quando a gente escolhe ser essa empresa sustentável, escolhemos também ser uma empresa com marcas com propósito. É preciso agir.”

O paradoxo da tolerância

Rosa cita o filósofo Karl Popper, um dos maiores pensadores do século 20, formulador do Método Hipotético Dedutivo, padrão utilizado pela ciência, e do Paradoxo da Tolerância. Nascido na Áustria e de origem judaica, Popper se naturalizou britânico. No livro “A Sociedade Aberta e seus Inimigos”, ele critica a filosofia que deu origem a movimentos fascistas na Europa, como o nazismo. Uma das discussões gira em torno da liberdade absoluta e se, em nome da tolerância, é preciso aceitar a intolerância.

Popper afirma que a tolerância ilimitada levará ao desaparecimento da tolerância. “Se estendemos tolerância ilimitada aos que são intolerantes, se não estamos preparados para defender a sociedade tolerante contra o ataque dos intolerantes, então os tolerantes serão destruídos, juntamente com a tolerância”, escreve.

Essa ideia foi erroneamente utilizada para defender a censura e a repressão em muitos memes de internet. Porém, Popper afirma que não se deve suprimir a verbalização de filosofias intolerantes, “conquanto que possamos contradizê-las através de discurso racional e combatê-las na opinião pública” e reservar o direito de suprimi-las por meio da força.

Para Rosa, a chave está nos valores e em entender que a conjuntura não deve mudar a trajetória de longo prazo. “O mais importante é manter os pilares da democracia intactos, ou seja, as instituições. A conjuntura, se aceita”, afirma.

Diversidade não funciona sem inclusão

Poucas empresas no mundo defendem com tanto ardor a diversidade quanto a Unilever. A head de sustentabilidade, no entanto, afirma que o momento é de dar um passo adiante. É preciso considerar não apenas mulheres e negros, mas as populações transgênero, indígena e refugiada. Ao mesmo tempo, de nada adianta contratar diversamente, sem incluir as pessoas.

“Eu já fui a única mulher em uma diretoria só de homens. Mas não tenho ideia de como é difícil para uma mulher negra. Precisamos fazer com que as pessoas se sintam seguras no ambiente de trabalho”, afirma.

Em abril do ano passado, a companhia anunciou que 50% dos cargos gerenciais nos negócios globais passaram a ser representados por mulheres, em 2010 a Unilever havia estabelecido a meta para ser cumprida até o final do ano passado.

Depois de bater a meta da equidade de gênero, a Unilever tem outros desafios como a representação negra e de pessoas com deficiência. Por conta disto, a companhia tem trabalhado em ações como as inscrições para o AfroCamp, desafio de inovação focado em estudantes de graduação autodeclarados pretos e pardos, em outubro do ano passado.

Parte das iniciativas de inclusão se dá em programas de entrada. No último recrutamento de estágio, 5% dos contratados são pessoas com deficiência, 76% são negros e há também LGBTI+. Pessoas com mais de 50 anos também pode entrar na companhia em um programa de estagiários sêniores.

A mudança no perfil dos funcionários acontece com uma série de medidas como seleção às cegas, parceria com consultorias e entidades, treinamento dos funcionários para quebra de vieses inconscientes, busca ativa de grupos específicos como transgêneros e mais.

Quem é Suelma Rosa, nova head de sustentabilidade da Unilever

Nascida no Maranhão, Suelma Rosa passou boa parte da vida em movimento. Ela morou em 11 países, incluindo Japão, China, Índia e Serra Leoa. Em seus 20 anos de carreira, a executiva já esteve no terceiro setor, no setor público e, mais recentemente, migrou para o setor privado. Sua atuação sempre foi ligada aos temas sustentabilidade, ambientalismo, direitos humanos e diversidade. Também é cantora, pianista e enxadrista.

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