Educação transforma vidas e afasta jovens e adolescentes da criminalidade

Em 2024, o Proerd vai completar 20 anos de existência no Piauí, mas hoje atua em todos os Estados do Brasil, através da Polícia Militar

Instrutor policial repassa ensinamentos do curso do Proerd para crianças | Reprodução
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

“A criança aprende mais quando ela está brincando”. A afirmação é da major Márcia Jeane que assumiu o desafio de conduzir o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), por meio da Polícia Militar do Piauí, levando informação e educação, utilizando uma metodologia lúdica e uma linguagem bem acessível para quem não sabe ler, mas tem vontade de aprender por meio de brincadeiras, jogos e uma enriquecedora troca de experiências. E é justamente desde cedo que é possível aprender lições que transformam vidas através do ensino, tendo papel fundamental no amadurecimento pessoal e intelectual que serve de ferramenta para afastar a juventude da criminalidade.

O Proerd é um dos programas que está sendo executado em vários municípios do Piauí, e tendo sucesso por cumprir um papel social que ensina, desde cedo, o aprendizado para que crianças saibam dizer “Não” às drogas e despertem para um mundo com menos violência e longe da criminalidade. Seguindo a mesma linha, mas voltado para inclusão social, o Projeto Superação usa o esporte como ferramenta para proporcionar melhor qualidade de vida para jovens e adolescentes através do judô, boxe e capoeira.

Já o projeto Movimento pela Paz na Periferia (MP3) apostou numa filosofia de investir nos jovens em situação de risco pessoal e social, bem como a juventude preta das favelas de Teresina, oferecendo cursos profissionalizantes fazendo uso de material reciclável e até descartado como lixo, possibilitando ao final, o tão sonhado ingresso no mercado de trabalho.

Por sua vez, especialistas como assistente social, promotora e psicóloga avaliam este cenário que envolve o lado psicológico e emocional de milhares de jovens e adolescentes que estão suscetíveis na tomada de decisões que provocam uma verdadeira transformação em sua vida.

Com uma visão mais crítica e apurada sobre as consequências das escolhas dos jovens, o pesquisador e professor de Sociologia Marcondes Brito, fez um estudo aprofundado sobre “Identidades Juvenis em Situação de Tráfico de Drogas”, cujo levantamento aborda também a violência no Piauí, bem como os aspectos que propiciam o ingresso de jovens em facções criminosas, resultando muitas vezes no aumento dos homicídios.

Em 2024, o Proerd vai completar 20 anos de existência no Piauí, mas hoje atua em todos os Estados do Brasil, através da Polícia Militar. “No Piauí, nosso sonho é conseguir colocar o programa em todos os 224 municípios. Mas este ano, já temos 14 municípios firmados, mas tem uma lista de 25 cidades aguardando a implantação e com essa demanda que a gente está querendo atender, através desses cursos que vão ser viabilizados pela Secretaria de Segurança Pública, em parceria com a Polícia Militar, nosso secretário, Chico Lucas, já disse que o Proerd vai ter total apoio, mas quer saber dos resultados”, esclarece a major Márcia Jeane, responsável pela execução do projeto em escolas públicas e privadas no Piauí.

O Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) é originário do programa norte-americano Drug Abuse Resistance Education (D.A.R.E.), criado em 1983, por uma força-tarefa formada por policiais de Los Angeles, mas que contou com a participação de profissionais como, psicólogos, pedagogos, policiais e professores.

Eles fizeram um projeto-piloto, que tinha início e fim, “só que a coisa foi tão bem elaborada, com tanta dedicação, que conseguiram colocar nele tudo que é necessário para viabilizar essa passagem de conhecimento e entendimento por parte dos alunos, bem como o que é necessário para que eles não se envolvam com a questão da droga e violência”, diz Márcia Jeane, acrescentando que o projeto deu tão certo que passou a ser adotado por outros estados.

Os resultados foram mais que satisfatórios, tanto que foi criado o programa que passou a ser aceito e desenvolvido em outros países, inicialmente em 20 e, logo depois, atingiu 60. No Brasil, chegou em 1992, sendo o Estado do Rio de Janeiro o pioneiro a abraçar a ideia, através da Polícia Militar. “Foi lá onde começaram a ser feitos os primeiros ajustes e começando a ter o formado que usamos hoje em dia, passando por uma adaptação, já que a realidade do Rio de Janeiro, no Brasil, é bem diferente dos Estados Unidos, como por exemplo, o nome, tendo que colocar uma sigla que fosse fácil de ser pronunciada, principalmente por crianças”, observa, mencionando que logo em seguida foi a vez da Polícia Militar do Estado de São Paulo adotar o programa.

Hoje, o Proerd está presente em 15 municípios parceiros: Altos, Vera Mendes, Paulistana, Floriano, Boqueirão, Piripiri, Dirceu Arcoverde, Bom Jesus, Cristino Castro, Pedro II, Oeiras, Beneditinos, Arraial, Capitão de Campos e Teresina.

Os instrutores do programa, que trabalham de forma voluntária, são submetidos a uma série de exigências para fazerem o curso de formação, onde passam pela capacitação que os tornam aptos a levarem para a sala de aula os currículos que norteiam o Proerd, depois de aprovada a parceria entre a direção da escola e a Polícia Militar, através de um Termo de Cooperação Mútua.

Os instrutores policiais, de acordo com a major, vão ministrar as aulas na hora de intervalo do trabalho e colaboram com as demandas que existem, tanto nas prefeituras como nas escolas municipais e estaduais.

Ela lembra que o Proerd está previsto na Lei 7.341 de 17 de janeiro de 2020, que dispõe sobre o convênio entre o Estado do Piauí, através da Polícia Militar ou do Corpo de Bombeiros, e os municípios situados no território estadual visando à execução de serviços imprescindíveis à preservação da ordem, da segurança das pessoas e do patrimônio e de atividades de defesa civil, conforme especifica e dá outras providências.

Superação usa o esporte como ‘ferramenta social’ 

Com a proposta de usar o esporte como uma ferramenta de inclusão social e assim evitar que os jovens tenham acesso as drogas e a criminalidade, nasceu o projeto Superação, idealizado pelo professor de judô, Expedito Falcão, e que funciona em alguns polos. “Hoje, nós estamos funcionando em Amarante, em São João do Soter, no Maranhão; na Santa Marina Codipe, zona Norte; no Escolão Freitas Neto, ali no Satélite, estamos funcionando no Centro de Treinamento Sara Meneses, no Saci, zona Sul de Teresina, e no Centro Municipal de Educação Infantil Helena Medeiros, localizado no Parque Lagoas do Norte”, explica.

Com onze anos de existência, o Projeto Superação começou em 2012, mais precisamente em uma estrutura simples, localizada na Avenida Miguel Rosa, com 100 crianças. Hoje, são mais de mil pessoas, entre crianças, jovens e adultos, atendidos pelo projeto. São aceitas crianças a partir de 4 anos de idade, inclusive adultos e até mesmo idosos que têm acesso as atividades de boxe, capoeira, aikido e taekwondo, esses últimos praticados por pessoas mais velhas por não terem tanto contado físico Expedito Falcão ressalta que o projeto funciona hoje em dia através de emendas parlamentares, “temos algumas emendas parlamentares ou então parcerias com as prefeituras. Então, são as duas formas que nós estamos atendendo nesse momento”, frisa o professor, argumentando que o projeto é importante para a sociedade “porque é uma maneira de você dar um norte para essas crianças, para tirar da ociosidade, já que os esportes de luta, principalmente de luta, no caso do judô e outras modalidades que nós temos de luta, são bastante educacionais. A gente trabalha muito com a parte da educação, do respeito, do comprometimento da disciplina, então, isso faz com que o esporte seja cada vez mais bem aceito dentro da sociedade, os esportes de luta”, avalia.

Falcão revela que o projeto surgiu quando, em 2012, “nós recebemos o material do Comitê Olímpico Brasileiro quando a judoca Sarah Menezes estava treinando para a reta final das Olímpiadas de Londres, onde ela foi campeã. Conversei com ela e disse que nós tínhamos que devolver para a sociedade o que o judô tinha nos oferecido há tantos anos, até porque eu trabalho com o judô, minha vida toda eu fiz dentro do judô, então eu devolvi isso para a sociedade e para as crianças”, lembra.

Na época, Sarah concordou e os dois decidiram firmar essa parceria e montar esse projeto, nascendo o Superação. “E realmente o esporte é uma ferramenta que ajuda na formação desses jovens, dessas crianças, porque é uma maneira onde eles podem se espelhar e até mesmo criar uma fonte de geração de emprego e renda. Nós já temos jovens que trabalham conosco, que começaram o projeto e hoje já sustentam até a casa através do judô”, pontua o professor.

Desafio de conquistar confiança de alunos 

Uma das instrutoras do Proerd, cabo Jullyanna Amanda, diz que é um orgulho estar no projeto desde 2021 e, muito mais, é gratificante poder dedicar seu tempo aos alunos. “É uma experiência incrível trabalhar com crianças; é sensacional”, diz, mencionando que mesmo sendo uma aula por semana em cada turma, os alunos ficam ansiosos esperando pela presença dos policiais para dividir momentos de muita descontração e aprendizado. Jullyanna enfatiza que o projeto é importante, principalmente pelo desafio de conquistar a confiança dos alunos desde cedo. “Até porque trabalhamos com o tripé baseado na Família, Escola e Polícia Militar, sendo uma tarefa primordial aproximar a polícia e comunidade através da escola”, enfatiza. “Trabalhamos para que o aluno veja o policial como um amigo”.  

Ex-aluno de judô trabalha hoje como professor 

Aos 19 anos, Waldrian Cauã, é faixa preta em judô, e conta que começou no projeto Superação ainda criança, quando tinha 8 anos, em 2013. Ele lembra que já tinha tido contato com o judô, mas só iniciou a prática esportiva no Escolão do Parque Piauí, zona Sul da cidade, oportunidade que o projeto chegou até a unidade de ensino. “Junto com meus colegas e por influência, eu resolvi entrar e acabei gostando, adorei as aulas e a dinâmica, e aquilo me encantou”, recorda.

Ele confessa que encontrou no projeto uma válvula de escape para a vida que tinha fora da escola. “Eu só queria me divertir e foi incrível começar o judô. Não tem como falar de mim, sem falar do judô, sem falar do esporte”. Waldrian disse que sua primeira competição foi no final do ano seguinte, na Copa Superação, e ficou deslumbrado com a quantidade de pessoas que foi prestigiar o torneio.

Já em 2016, quando foi inaugurado o Centro de Artes Marciais próximo de sua casa, o jovem decidiu participar e dar continuidade aos treinos de judô. “Foi no final de 2016 que a professora e meu monitor da época me apresentaram a Sarah Meneses, campeã olímpica de Londres 2012, e ela me proporcionou coisas que eu jamais imaginei. Ela quis me conhecer um pouco mais e meus professores quiseram me conhecer um pouco mais porque sempre souberam que eu tive dificuldades financeiras, mas nunca tinham entrado de fato na minha casa e visto a situação que eu vivia”.

Waldrian relata que vem de uma família de baixíssima renda, de uma vulnerabilidade social que se encontra comumente no Brasil, e “aquelas pessoas ajudaram a erguer minha família; meus pais, infelizmente, não tinham renda fixa e viviam de dinheiro que recebiam em trabalhos isolados e programas sociais, como o Bolsa Família, mas não era uma renda fixa e não era algo que dava para sustentar de fato”, diz, acrescentando que as pessoas do judô, através projeto Superação fizeram a virada de chave em sua vida. Assim que terminou o ensino médio, passou para universidade e atualmente está no terceiro período do curso de Licenciatura Plena em Educação Física na Universidade Estadual do Piauí (Uespi). 

Pesquisador fala da relação entre jovens e o tráfico de drogas 

Dedicando seu tempo a tese de Mestrado para estudar o tema “Identidades Juvenis em Situação de Tráfico de Drogas” e, no Doutorado, “Cartografias do Tráfico: Uma análise do Narcotráfico nos Estados do Piauí, Ceará e na cidade de Juárez, no México”, o professor de Sociologia do Instituto Federal do Piauí (IFPI), Marcondes Brito, fez questão de frisar que estudou também a capilaridade desses grupos em outros países, como México e Estados Unidos, onde fez a cartografia desses grupos criminais de mudança de foco do Sul-Sudeste para Norte-Nordeste.

A escolha pelo tema, segundo ele, foi porque vive no Piauí e estuda a violência no Estado em todos os seus aspectos. “A chegada e a capilarização desses grupos vai elevar a violência no Estado de uma forma enorme porque o tráfico de drogas se massifica e se estrutura como controle territorial armado. Junto com o tráfico de drogas tem o tráfico de armas, as disputas de territórios por grupos rivais; o recrutamento de jovens e o aumento dos homicídios”, enfatiza.

O professor informa que o Piauí é um dos poucos estados do Brasil que tem elevado, ano após ano, a incidência de mortes de jovens e da população de uma forma geral. “No ano passado, a gente teve uma queda em 21 dos 27 estados e o Piauí um dos poucos estados que vem crescendo a incidência de homicídios de 2014 para cá, sem interrupções”, diz, esclarecendo que vem estudando esse tema desde 2005, mas o tempo dedicado ao Mestrado foram dois anos e no Doutorado, quatros anos e meio. “Mas continuo com a bolsa de pesquisa da Ford Foundation realizando pesquisas nessa área”.

Marcondes disse que o Brasil não tem feito políticas eficazes de enfrentamento ao tráfico e nem a mortalidade de jovens, apostando numa política de segurança muito frágil. Ele especifica que a criminalidade que mais tem absorvido os jovens é o tráfico de drogas, “mas a gente precisa entender o tráfico de drogas como um mercado; ele não é um crime que ocasiona mortes pois, em geral, você morre ao estar no tráfico porque vocês se envolve em toda a dinâmica: ou você vai assaltar bancos, que é uma das ramificações; ou vai roubar carro e morre na disputa de ações policiais, ou então você está na linha de ponta numa biqueira, numa boca de fumo, ou no sistema de distribuição e morre nos confrontos da polícia ou nos confrontos de grupos rivais”, esclarece o professor de Sociologia.

Teresina, especificamente, conforme levantamento feito por Marcondes, “tem um histórico de gangues imemoriais, desde a década de 70, que vai ser potencializado. Quando o tráfico começa a se intensificar depois de 2015 e vai dar um up great (atualizada) depois de 2018, a gente não tem sabido lhe dar, pois um dos elementos centrais para fazer o enfrentamento da criminalidade é o Plano de Segurança Pública, ou seja, uma política pública é gerida por um plano que tem programas e projetos, mas se você tem um plano equivocado ou não tem um plano, você não está fazendo enfrentamento, você está apagando incêndio – que é o que a gente está fazendo hoje”, relata, enfatizando que quando mais tempo demora para fazer esses enfrentamentos, mais eles se fortalecem.

O estudo mostra que o mercado ilegal continua absorvendo pessoas, na maioria, jovens, negros e moradores de periferia. “A gente reduziu a política de segurança a política de prisão, o que é de todos o maior equívoco”, pondera, mencionado que trabalhar com narcotraficantes e traficantes é o que tem gerado resultados. Como conclusão do seu trabalho, Marcondes Brito relata que existem vários problemas a serem enfrentados no Brasil e algumas concepções são problemáticas, “sem sombra nenhuma de dúvida, não se combate o mercado unicamente com repressão; não se combate o mercado, a gente combate as consequências dele”, finaliza, defendendo a elaboração de políticas públicas integradas para combater as consequências do tráfico de drogas.

Assistente social e psicóloga defendem maior vínculo familiar 

Para Valdenira Silva, assistente social no Centro de Convivência Novos Meninos (ASA), responsável por um trabalho de acolhimento e assistência para crianças, adolescentes e jovens, localizado no Centro Norte de Teresina, a carência de atividades desenvolvidas para este público e a dificuldade de acesso às escolas pode fortalecer o envolvimento com o mundo do crime. “Nós identificamos diversos fatores de risco que podem levar essas crianças, ou esses jovens ao mundo do crime. Mas aqui apontamos alguns, dentre eles: podemos citar a fragilidade dos vínculos familiares, a carência de equipamentos públicos, de cultura, lazer, esporte, saúde, escolas próximas das residências. A dificuldade de acesso à escola pode fortalecer o envolvimento com o crime”, destacou.

Ainda segundo Valdenira, todo o processo de prevenção que envolve famílias e comunidade é trabalhado através do ASA, por meio de atividades que possam fortalecer o vínculo entre os assistidos e a própria instituição. “E o processo de prevenção com as famílias e a comunidade, nós, enquanto centro de convivência, trabalhamos numa política pública que é a política de assistência social, através de um serviço de convivência e fortalecimento de vínculo, onde a oferta desse nosso trabalho está incluída em diversas atividades, como: o judô, onde já tivemos campeões brasileiros, e que é pouco divulgado; temos música, através do aprendizado do violão, teclado, guitarra e bateria, então temos também um acesso muito grande a parte da arte manual, que desperta a criatividade das crianças e adolescentes”, explica.

De acordo com a psicóloga Katyuscia Holanda, o que mais leva os jovens e adolescentes a buscarem as drogas e entrar no mundo da criminalidade, são fatores relacionados a “falta emprego, falta de estudos, ou seja, uma capacidade técnica, além de falta de orientação familiar, uma família estruturada - tanto emocional como financeira - orientação psicossocial, como também a índole”. E completa: “Também a necessidade de aceitação do grupo (amigos), procura de novas experiências, impulsividade, problemas com autoestima e como desafiar o meio social”, resume.

Integração para evitar reincidência ao mundo marginalizado

A promotora e coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Infância e da Juventude (CAODIJ), do Ministério Público do Piauí (MPPI), Joselisse Carvalho, esclarece que os projetos de implementação de medidas socioeducativas são trabalhados por meio das diversas promotorias em todo o Estado do Piauí, destinado a crianças e jovens que de alguma forma estiveram ou poderão estar permeando pelo círculo da criminalidade. O objetivo do órgão é que todos os 224 municípios possam integrar o núcleo e assim contribuir de forma integral na prevenção e possível reincidência das crianças e jovens ao mundo marginalizado.

O Ministério Público trabalha ainda na fiscalização dos membros que integram o CAODIJ, regulamentado pelo Ato PGJ nº 454/2013, fundamentado no Artigo 55 da Lei Complementar Estadual nº 12/93, com o objetivo de sempre manter atualizada a lista dos municípios que possuem o Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo. “O nosso objetivo maior é que esses meninos não se envolvam em situações mais graves no futuro, porque quem começa no meio dos atos infracionais sempre começa por situações mais leves. E, gradualmente, ele vai agravando essas situações se não houver uma intervenção do Estado. No caso, Estado-município”, alerta a promotora.

Ela destaca, ainda, que as ações do MP são direcionadas de forma geral a todas as crianças e adolescentes, garantindo que este público possa ser assistido pela política nacional, Conselho Tutelar, e/ou possa receber a proteção e medidas socioeducativas em casos de atos infracionais.

MP3 é referência de inclusão social para jovens em situação de risco 

Idealizador do Movimento pela Paz na Periferia (MP3), cujo público alvo são jovens em situação de risco pessoal e social, juventude preta das favelas de Teresina, Francisco Júnior relata que no dia 1º de agosto o projeto completou 19 anos, pois foi fundado em 2004, “e lá pra cá nós fizemos inúmeros cursos, curso de costa e costura direcionados só para as meninas em situação de risco pessoal e social; fizemos curso de manutenção de calha de bicicleta, uma parceria com a Houston Bike; fizemos curso de mecânica de moto, mecânica de carro, já fizemos curso de pedreiro, e no final uma das pessoas que fazia o curso, que estava em situação habitacional muito ruim, o curso finalizou com a casa para ela,” relata, mencionando que o programa tem uma relação muito boa com o empresariado de Teresina e que absorve com maior facilidade a mão de obra do MP3.

Júnior MP3, como é mais conhecido por seu trabalho, falou que o projeto também trabalha com o lixo eletrônico, dispondo de uma estação de metareciclagem,”onde a gente faz a coleta do lixo eletrônico na residência das pessoas e leva para o nosso galpão. Lá, temos os funcionários que passaram pelo projeto e que catalogam aquilo que é servível eo que não é servível. O que é servível a gente manda para a nossa oficina e depois vai para a sala de capacitação, na área de montagem e manutenção de computadores para que os jovens possam ter uma profissão”, explica.

Isadora Tamires, 24 anos, disse que conheceu o projeto MP3 em 2016, “na época eu tinha 17 anos e iniciei com o curso de informática básica gratuita. Estava finalizando o ensino médio e, até então, nunca tinha tido a oportunidade de fazer nenhum curso, por conta que a minha família não tinha condições financeiras de bancar”, lembra.

Ela conta que finalizou o curso e, em 2019, retornou ao MP3 quando estava com 21 anos, começando como voluntária na loja do projeto, sendo uma oportunidade incrível por ter acrescentado muito em sua vida. “Porque, além do aprendizado, recebi o incentivo de cada um a crescer e ver o mundo de uma forma totalmente diferente.Eu, que era uma pessoa que não tinha nenhuma perspectiva, pois minha família é um pouco complicada, e aqui eles me deram essa oportunidade”.

Atualmente, Isadora trabalha na parte de mídias sociais do MP3, divulgando o projeto para que tenha visibilidade “para que outras pessoas também possam conhecer e ter a mesma oportunidade que eu tive. Com esforço, dedicação, a gente consegue tudo. E sou muito grata por todo o incentivo que eu recebi. Eu não sei o que eu seria se o MP3 não tivesse aparecido na minha vida, se eu não tivesse conhecido o projeto”, avalia, comentando que tenta levar a iniciativa para que outras pessoas possam conhecer e ter essa mesma oportunidade, sem mudar o foco para atividades como uso de drogas, por exemplo.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES