Marinheiros são julgados por lançar imigrante ilegal ao mar

Soldador desempregado em Camarões, Ondobo, 28 anos, admitiu aos jurados ter entrado clandestinamente no navio no porto de Douala, em junho.

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Teve início nesta segunda-feira, em Paranaguá, a 98 km de Curitiba (PR), o julgamento de cinco marinheiros acusados de tentar matar o clandestino camaronês Wilfred Happy Ondobo, supostamente lançado ao mar aberto, próximo ao litoral paranaense, após viajar no navio Seref Kuru, de bandeira maltesa. O Tribunal de Júri federal, que ocorre pela primeira vez na cidade e pela quinta vez no Paraná, deve se prolongar até quarta-feira, conforme a estimativa da Justiça Federal. Nesta primeira fase do julgamento, foram ouvidos os depoimentos do clandestino e de testemunhas arroladas no processo.

Soldador desempregado em Camarões, Ondobo, 28 anos, admitiu aos jurados ter entrado clandestinamente no navio no porto de Douala, em junho. Ele disse que não sabia o destino da embarcação, que veio a Paranaguá para carregamento de açúcar no porto paranaense. "No meu país tudo é péssimo, o governo é péssimo", disse ele. Ao responder uma pergunta da defesa dos tripulantes acusados, o clandestino afirmou ter descido do navio em escada formada por cordas. Ele teria se arrependido depois, mas os marinheiros não quiseram recolhê-lo ao interior da embarcação.

Ondobo também falou sobre a injúria racial de que teria sido vítima. Orhan Satilmis, um dos marinheiros que integra o grupo de réus, é acusado também pelo Ministério Público Federal pelos crimes de racismo e tortura. O clandestino disse não se lembrar do termo utilizado pelo marinheiro, mas se alguém falasse a palavra ele se recordaria. Ele também reconheceu fotos dos compartimentos da embarcação e afirmou ter recebido um soco no peito de Orhan Satilmis ao ser descoberto no interior do navio. O camaronês ainda confirmou ter deixado afixada uma foto sua na cabine onde ficou escondido, para provar que esteve no navio.

O júri prossegue com os depoimentos de testemunhas até o final da noite e deve ser retomado no inicio da tarde de amanhã. O armador turco responsável pelo navio enviou ao Brasil o advogado Andg Bilgew, de Istambul, que atua como auxiliar na defesa que está sendo realizada pelo criminalista Giordano Vilarinho Reinert. A acusação está cargo do procurador Alessandro José Fernandes de Oliveira.

Babel

O salão do júri da justiça estadual, onde ocorre o tribunal federal, se assemelha a passagem bíblica da "Torre de Babel", onde são falados vários idiomas. O clandestino está se expressando em francês, idioma principal de Camarões. Quatro marinheiros - Orhan Satilmis, Ramazan Ozdamar, Zafer Yildirim e Ihsan Sonmezocak - são turcos e serão inquiridos no idioma natal, através de um intérprete.

O quinto tripulante - Mamuka Kirkitadze - é natural da Geórgia, país do leste europeu. A embaixada do país em Brasília providenciou um intérprete que está na capital federal e acompanha o julgamento através do aplicativo Skype. Todas as falas são traduzidas em português, ocorrendo o inverso quando há manifestação dos integrantes da defesa, promotores e da Justiça. Em alguns casos, a comunicação também ocorre em inglês, após as traduções para os outros idiomas.

Entenda o caso

No final de junho, o navio Seref Kuru, administrado por um armador da Turquia, foi retido no porto de Paranaguá, após o MPF receber a denúncia de que um camaronês que viajava clandestinamente na embarcação teria sido lançado ao mar pelos tripulantes, a cerca de 15 km da costa brasileira. Todos os 19 integrantes da tripulação foram desembarcados e mantidos sob liberdade vigiada, proibidos de deixar a cidade de Paranaguá.

No inicio de agosto, o navio deixou o porto com nova tripulação, vinda da Turquia. No mesmo mês, a Justiça liberou 13 tripulantes e aceitou denúncia contra os marinheiros Ihsan Sonmezocak, Mamuka Kirkitadze, Zafer Yildirim e Ramzan Ozdamar por tentativa de homícidio. O imediato Satilmis também responde pelas acusações de prática de racismo e tortura.



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