Samdra Dee: arte e performance fluida

De dia ela é professora de inglês, mas a noite muda de cena e incorpora uma personagem alternativa de Teresina

Samdra Dee dispensa apresentações. A figura é, na prática, a personificação da noite alternativa de Teresina. Durante o dia ela é professora de inglês, mas é só cair a noite que se transforma em um dos maiores nomes da performance e da discotecagem piauiense. Samdra Dee está há 12 anos na cena mostrando quem acontece, além de acontecer muito.

As performances de Samdra Dee são inesquecíveis. Todo mundo lembra, todo mundo comenta. Como DJ, é sempre elogiadíssima pelos sets com misturas inusitadas e ineditismos que vêm da profunda pesquisa musical de Samdra. Ela e sua turma criam um movimento constante em torno da música eletrônica e da arte.

Defendendo o Prêmio Samdice há mais de uma década, ela mostra quem faz a noite alternativa em prêmios como "Face do Ano", "DJ do ano" e "bapho do ano". A premiação é aguardada com ansiedade por todos que fazem o underground de Teresina acontecer. Quem ganha leva para casa um troféu no formato de Samdra Dee, que ano após ano é modificado de forma criativa.

Samdra já tocou para mais de 100 mil pessoas na Parada da Diversidade de Teresina. Além disso, já fez performances com conexão com a natureza nas dunas da Lagoa do Portinho, em Luís Correia, e nas formações rochosas da Serra dos Matões, em Pedro II. No currículo, centenas de apresentações Piauí afora.

Paralelo a isso, a construção de uma carreira literária. Samdra, que é formada em Letras Inglês pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI) com Mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), planeja um livro de poemas e ilustrações.

Jornal Meio Norte: Como começou sua relação com a noite?

Samdra Dee: Eu nasci à meia noite e quinze, né? Isso diz muito... Desde cedo me apeguei aos felinos, caçadores noturnos e aliados das bruxas. Os filmes da filósofa Elvira e da Família Adams me fascinaram na Sessão da Tarde. Aquariana gigante como sou, sempre fui guiada por criaturas da noite, vampiros me hipnotizaram. Os mistérios, o proibido, eles se revelam na noite. Já tive várias fases mas a fase gótica não sai de mim. Me considero hoje uma gótica psicodélica.



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“Eu tenho amado fazer performances para os Desafios do Luciano Uchoa. Eu amei minha performance de "ETéia" nas dunas da Lagoa do Portinho no último Desafio do Delta. Estar na natureza performando ao som de música deslumbrante para um público com aquele gás não tem preço."
Samdra Dee

JMN: Seu carisma é algo que encanta muitas pessoas. A que você deve isso?


SD: Eu acho que está no DNA. Minha mãe é muito querida, carismática, bonita e bafo como eu! Assim também eram e são minhas avós, tias etc. Minha avó materna era porta-bandeira de escola de samba antes de casar e minha avó paterna com as irmãs dela comandavam bailes animadérrimos de réveillon. E um salve às minhas irmãs Andrade.

JMN: Quando você "se descobriu" como "Samdra Dee", essa persona fluida que domina a noite alternativa?


SD: Foi um processo longo. Dizem que nasci miando... Desde criança nunca me senti adequada aos padrões impostos pela sociedade. Pra me aceitar e me empoderar foi um processo longo. Até que conheci o lado b da vida ao estudar no Centro de Teresina no Ensino Médio. Descobri pessoas livres e maravilhosas que me inspiram até hoje. Salve Clube dos Diários! Salve as Bine Iubita (nota do editor: lendária festa do promoter Jorginho Medeiros)! Por isso que o centro de Teresina não pode morrer! A persona Sam Drade veio com minha carreira de DJ. Já a Samdra Dee veio mais recentemente com as demandas impostas pela militância LGBTQIA+ mais jovem. Sempre estarei de mãos dadas com a militância.

JMN: Como foi sua infância? Soube que você fazia charts de música...

SD: Sim, gravava mixtapes em fitas k7 e logo depois em cds. E essa maluquice de ser DJ, o barato é esse: descobrir músicas maravilhosas e apresentar para as pessoas. Me identifico mais em ser DJ de pesquisa que DJ de músicas que estão nas paradas de sucesso. Por isso desde criança fazia meus próprios charts e mixtapes. Sempre estarei na contra-mão. O caminho mais fácil é entediante. Aquariana gigante está voltando quando as outras estão indo.

JMN: Além de pessoa da noite, você também pretende lançar um livro. O que a poesia representa na sua vida?

SD: Tudo é poesia pra mim. Meu corpo é poesia. Minha performance... Mas desde criança escrevo e desenho e acho que já passou a hora de esconder esse meu talento. Em breve lançarei meu primeiro livro de poesias e ilustrações. Também penso em produzir música eletrônica a partir de minhas poesias. Minha cabeça não para.


JMN: Qual o saldo positivo de tantos 11 anos do Samdice?


SD: São 11 anos de premiação. Eu gostaria de fechar o ciclo com o décimo mas a Bruns, persona da noite, disse que o prêmio não poderia parar pois dá um "alívio cômico" na noite. A festa continua um sucesso surpreendentemente.

Noite alternativa

JMN: Como surgiu o prêmio Samdice?

SD: Eu comecei a sentir falta de uma cobertura da noite alternativa de Teresina. Daí comecei a coluna Samdice meionorte.com, tirando fotos e apresentando nomes de quem era destaque nesta cena. A coluna era um sucesso, eu era chamada para coberturas de eventos grandes até eventos mais underground, como as matinês do Bar Boemia. Fazia tudo com carinho e por isso era um sucesso, acho! O nome Samdice veio quando estava no Copacabana Palace esperando a Madonna, que estava em tour no Rio, aparecer na janela. Do nada ela surgiu e "a Sam disse: a Madonna é linda!" A Samdice em pessoa. A coluna tinha milhares de views por dia e logo veio a ideia da premiação de melhores da noite. O público acredita nisso até hoje e passam o ano sondando nomes para a premiação anual.

JMN: Qual a experiência mais marcante ao longo desses anos de noite?

SD: Muitas. Talvez tocar para um público de mais de 100 mil pessoas nas Paradas da Diversidade de Teresina. Agradar um público gigante desses não tem parelha.

JMN: Você lembra da primeira vez que atuou como DJ?

SD: Eu desde cedo pirava nas radiolas de familiares com aquelas capas absurdas dos vinis do Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Gal Costa, etc. Era louca por música, não desligava o microsystem, importava CDs na adolescência e, com a popularização dos CDs, comecei a fazer minhas mixtapes de electroclash, house e minimal e então fiz minha primeira festa em casa chamada Ladyflash, título de uma canção do Ladytron. Foi uma festa que fiz com meu irmão Fassminus e o hoje artista plástico Adler Murad. Deu uma galera indie bacanuda e o Adler então me apresentou para o Fabiano que começou a noite Hooligans nas quintas-feiras da finada boate Mercearia. Minha estréia foi um sucesso com Madonna, Gretchen e indies obscuros. Sou aclamada até hoje!

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