Jornalistas relatam agressões durante cobertura de vandalismo em Brasília

Uma repórter fotográfica do site Metrópoles foi derrubada e espancada por 10 homens.

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Pelo menos 10 profissionais de diferentes veículos de imprensa foram agredidos por extremistas que realizaram atos antidemocráticos na Praça dos Três Poderes, em Brasília, ontem (8). Os relatos, colhidos pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, envolvem roubos e danos a equipamentos, além de agressões físicas e verbais por parte dos vândalos.

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Um repórter do jornal O Tempo foi agredido por criminosos que chegaram a apontar uma arma de fogo para ele, no Congresso Nacional. Outro repórter, da Band TV, teve o celular destruído enquanto filmava o ato, mas não chegou a ser agredido. Uma repórter da Rádio Jovem Pan foi xingada e seguida enquanto deixava a Esplanada dos Ministérios. Um homem tentou abrir a porta do carro da jornalista e apontou uma arma para ela.

Policial é agredido por terroristas em Brasília (Foto: Sergio Lima)

Uma repórter fotográfica do site Metrópoles foi derrubada e espancada por 10 homens. Ela teve o equipamento danificado. "Eu tentei sair um pouco, e aí foi a hora em que vieram ao meu redor, fizeram um cercadinho. Eu, instintivamente, me agachei no chão e alguém me deu um murro na barriga, tiraram minha máquina do pescoço", relatou em vídeo ao Metrópoles.

Um repórter da Agência France Presse (AFP) teve o equipamento roubado e foi agredido. O mesmo ocorreu com um repórter fotográfico da Agência Reuters. Um repórter da Agência Brasil teve o crachá puxado pelas costas, enquanto registrava a destruição. Ele ficou com escoriações no pescoço.

Uma jornalista e veterana analista política que costuma colaborar para o portal Brasil 247 foi ameaçada pelos extremistas e teve de apagar os registros feitos no celular. E a reportagem do jornal O Globo testemunhou uma repórter da revista New Yorker ser agredida com chutes e derrubada no chão por um grupo de terroristas. Seus equipamentos foram tomados. Além da agressão física, a profissional foi hostilizada com gritos de "filha da puta" e "vagabunda". O repórter de O Globo recorreu aos seguranças do Ministério da Defesa, que ajudaram a jornalista.

Um fotógrafo da Folha de S.Paulo, também foi vítima da violência nas manifestações. O colaborador foi cercado e agredido por terroristas, que roubaram seu equipamento. À Folha, ele relatou que, enquanto era agredido, teve os equipamentos roubados — uma câmera Canon DX e uma lente.

Sindicatos e associações se manifestam

Em comunicado, o sindicato que representa a categoria no DF responsabilizou o que classificou de "inoperância do governo do Distrito Federal".

"Todos os acontecimentos em curso são resultado da inoperância do Governo do Distrito Federal, de setores da segurança pública e Forças Armadas, que permitiram a escalada da violência e se mostraram coniventes com os grupos bolsonaristas, golpistas, que não respeitam o resultado das eleições, a Constituição e a democracia", disse a entidade.

Os ataques foram condenados por associações de jornalismo, que cobraram um posicionamento das autoridades.

"A liberdade de imprensa é inerente ao Estado democrático de direito, que não pode tolerar ou conviver com a baderna e o vandalismo", disse a ANJ (Associação Nacional de Jornais).

"A ANJ condena ainda os ataques a jornalistas que fazem a cobertura das invasões em Brasília e exige uma posição firme das forças de segurança contra essas agressões e os atentados à liberdade de imprensa e à democracia".

A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) afirmou que "terroristas a serviço de uma força política fascista, que tem como principal líder o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)" promover ataques lamentáveis à democracia.

"A Fenaj e os sindicatos filiados denunciam firmemente esse agrupamento que insiste em desafiar a Constituição, mantendo acampamentos em frente a quartéis do Exército, promovendo ações terrorista em Brasília e pedindo intervenção militar".

"Os jornalistas brasileiros, no exercício de seu trabalho profissional, têm sido vítimas de intimidações e agressões por membros e apoiadores desse grupo político violento e antidemocrático. São centenas os casos registrados nos últimos anos, quase uma dezena apenas na primeira semana desse ano", disse.

A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e a Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação) manifestaram repúdio e destacaram que a escalada de violência dentro de grupos extremistas havia sido denunciada antes dos ataques.

No período de 30 de outubro a 6 de janeiro, levantamento feito pela a Abraji e a Fenaj registrou 77 ataques de violência política contra a imprensa. Em grupos bolsonaristas foram identificados ameaças de invasão a meios de comunicação "como forma de coagir, constranger e impedir o exercício do jornalismo."

"A Abraji e a Jeduca repudiam de forma veemente a invasão e os ataques aos poderes e à imprensa, e se solidariza com os jornalistas agredidos, seus familiares e colegas. E exortam as autoridades públicas a identificar e responsabilizar os culpados pelas tristes cenas registradas no coração político do Brasil".

A Aner (Associação Nacional dos Editores de Revistas) defendeu o trabalho da imprensa, condenou os ataques abusivos contra jornalistas e cobrou a identificação dos responsáveis.

"Defendemos que a imprensa seja livre, respeitada como um elemento essencial para a informação apurada e disseminada de forma responsável para toda a população brasileira", disse.

A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) classificou a invasão como cenas lamentáveis cometidas por "terroristas bolsonaristas, em atos golpistas que haviam sido previamente anunciados nas redes sociais".

"Trata-se de inédita agressão ao Estado Democrático de Direito, que tem de ser punida com os rigores da lei", escreveu.

"As autoridades do GDF foram ausentes, para não dizer coniventes. A ABI confia na firmeza do ministro da Justiça, Flávio Dino, e espera que a ordem seja restabelecida o mais rapidamente possível. Democracia para Sempre!".

A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) também condenou a omissão das autoridades diante dos ataques e da proteção dos profissionais da imprensa.

"É inconcebível a omissão do governo do Distrito Federal em proteger os Três Poderes da República e garantir a segurança da imprensa que está nas ruas da cidade em coberturas complexas. As invasões e atos de depredação a prédios públicos, assim como os ataques aos profissionais da comunicação são uma afronta à democracia e à Constituição Brasileira".



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