O neofascismo alimenta o racismo, por José Osmando Araújo

Manifestações vergonhosas e tristes revelam onda de racismo no futebol espanhol, enquanto o país enfrenta ressurgimento de ideais neofascistas.

Racismo contra Vinícius Júnior expõe realidade neofascista na Espanha | div
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Por José Osmando Araújo

As tristes, vergonhosas e repugnantes manifestações de racismo contra o jogador brasileiro Vinícius Júnior, registradas nesse último domingo, em Valença, durante um jogo do seu time, o Real Madrid, contra o time da casa, expõe uma realidade que vai muito além dessa exteriorização de ódio ao jogador. A Espanha, infelizmente, torna-se a cada dia um país mais neofascista, realimentando-se do veneno que fez da ditadura de Francisco Franco, entre os anos 1939 a 1975, a etapa mais violenta e sangrenta da história do país.

Franco, um ditador cruel, chegou ao poder depois de uma guerra civil que culminou com um golpe militar, e recebeu o apoio armado dos outros três expoentes do totalitarismo da época, Adolf Hitler (Alemanha), Benito Mussolini(Itália) e Antonio Salazar (Portugal). A Espanha passaria 36 anos sob um regime ditatorial rigoroso, de extrema direita, que fez valer a supressão das liberdades e dos direitos civis, promoveu milhares de prisões ilegais e executou muitas centenas de assassinatos. 

GOLPE DE ESTADO

A ditadura de Franco nasceu de um golpe de Estado contra um governo democrático e republicano legalmente instituído, escolhido pelo povo, e teve o poder de dividir visceralmente na nação, impondo-se pelo domínio militar e as práticas fascistas, contra uma resistência corajosa e até suicida formada por grupos republicanos, socialistas, trabalhadores e núcleos internacionais vindos de países como União Soviética e França. Depois de quase quatro décadas dessa ditadura sanguinária, somente em 2006, é que as Cortes Espanholas e o Parlamento Europeu proibiriam qualquer manifestação pública de franquismo.

A Espanha jamais seria a mesma. O saudosismo enraizado na mente de extremistas nunca ficou adormecido, esperando o tempo propício do renascimento. E é isso que se vê de uns tempos para cá. Um estado autoritário e corporativo, que se vale de um discurso romântico de nacionalismo, anticomunismo, catolicismo/cristão e tradicionalista, com a falsa idealização de família, que sempre fundamentaram os totalitarismos de direita, estão mais presentes do que nunca e são princípios agora apregoados como pátria que desejam.  

PITO PÚBLICO

Basta atentar, nesse deplorável caso do ViniJr, para a reação abusada e descabida do presidente da La Liga, a instituição que organiza o campeonato espanhol de futebol. Javier Tebas,  à frente da Liga desde 2013, não gostou das reações e postagens do jogador ofendido, que exigiu providências e não desculpas. E passou um pito público no genial atacante brasileiro. Registre-se aqui que Javier tem seu nome em evidência devido a sua postura de negligência em relação aos casos recorrentes de racismo contra esse mesmo atacante, uma soma de 10 episódios dessa natureza contra o brasileiro, desde que chegou ao Real Madrid.

VOX – PARTIDO DE EXTREMA DIREITA

Tebas é filiado e apoiador do Vox, partido de extrema-direita na Espanha e já integrou a Fuerza Nova, uma agremiação partidária de fundamento fascista que existiu no país entre 1976 e 1982, com ligação direta ao franquismo e que atuou clandestinamente na reação à queda do ditador Francisco Franco. Em 2017, ele gerou polêmica ao defender o atacante Roman Zozulya, que foi chamado de nazista por torcedores do Rayo Vallecano. O jogador ucraniano era visto frequentemente posando com uniformes ao lado de paramilitares na Ucrânia, ligados à movimentos de neonazismo.

ONDA DE AGRESSÕES

No domingo, quando ocorreu a manifestação de racismo contra ViniJr, as manifestações começaram pela torcida organizada do grupo Yomus, considerada ideologicamente fascista, de convicções nacionalistas. Postados por trás do gol no Mestalla, foram eles que começaram toda a onda de agressões.

O grupo Yomus surgiu em 1983 em contexto político marcado por agitação e violência, mas somente 9 anos mais tarde começou a chamar atenção. Em 1992 o técnico do Valência, o holandês Guus Hiddink mandou paralisar uma partida contra o Albacete para que fosse retirada da arquibancada uma bandeira nazista colocada ali por esses fanáticos.

Foi a primeira vez na história que um treinador de um time de futebol tomou atitude contra ação antidemocrática em estádio. Mas, pelo que se vê hoje, não fez lição. Ao contrário, atitudes deploráveis  contam com simpatia e omissão do principal dirigente de liga espanhola. Uma lástima.



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