Governo Lula negocia com STF a correção radical das regras do FGTS

A proposta em questão sugere que a correção das contas do FGTS seja feita pelo índice da poupança a partir de 2025

FGTS em jogo | Adobe Stock
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

O governo federal está empenhado em alcançar um acordo junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) no que diz respeito à ação que pode resultar na modificação do índice de correção aplicado nas contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A proposta em questão sugere que a correção das contas do FGTS seja feita pelo índice da poupança a partir de 2025. Nos anos de 2023 e 2024, os cotistas teriam direito à distribuição integral do lucro anual do Fundo, com a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, como piso de rendimento.

A proposta será apresentada aos ministros do STF, e a mudança na remuneração das contas do FGTS afetará apenas os novos depósitos após a publicação da ata do julgamento. Embora o julgamento deva prosseguir na próxima quarta-feira, as centrais sindicais solicitaram a retirada da pauta, buscando retomar o assunto em 30 dias. Essa prorrogação visa permitir negociações com representantes do Ministério do Trabalho, da Caixa Econômica Federal e da Advocacia-Geral da União (AGU).

O texto enviado à Corte pelas centrais sindicais argumenta que a busca é por uma solução que não prejudique o uso do Fundo para políticas públicas, como habitação e saneamento, e que também proteja o patrimônio dos trabalhadores.

Os termos do acordo foram apresentados ao presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, pelo ministro da AGU, Jorge Messias, que já expressou sua discordância em relação à atual fórmula de correção das contas do FGTS. Em abril, quando o julgamento teve início, Barroso votou a favor de que a rentabilidade dos saldos do FGTS seja, no mínimo, equivalente à remuneração da poupança.

Justificativa

Barroso justificou sua posição alegando que a poupança é uma aplicação conservadora em comparação a outros investimentos mais arriscados que oferecem retornos mais elevados. Destacou também que o FGTS é um direito social assegurado aos trabalhadores pela Constituição, funcionando como uma espécie de proteção em casos de perda do emprego. O julgamento foi interrompido após um pedido de vista do ministro Nunes Marques.

O governo argumenta que a correção das contas do FGTS pela remuneração da poupança encarecerá os financiamentos habitacionais, como o programa “Minha Casa, Minha Vida", que depende do Fundo do trabalhador como fonte principal de recursos. Atualmente, os saldos das contas vinculadas são corrigidos pela Taxa Referencial (TR), mais 3% ao ano. Caso as taxas dos empréstimos não sejam ajustadas, pode haver um descompasso no balanço do FGTS.

Críticas à baixa rentabilidade do FGTS já existem há algum tempo. Em 2016, em resposta a esse problema, o governo começou a distribuir o lucro anual do FGTS entre os cotistas que tinham saldo em dezembro do ano anterior. O lucro já foi distribuído integralmente pela metade, e hoje o montante é decidido pelo Conselho Curador do FGTS, sendo creditado nas contas proporcionalmente aos saldos pela Caixa Econômica Federal em agosto.

Membros do governo e da construção civil afirmam que a atual sistemática de divisão do lucro melhorou a remuneração para os trabalhadores e deve ser mantida. No entanto, Barroso discorda dessa posição. De acordo com técnicos envolvidos nas discussões, o Executivo chegou a propor ao ministro a divisão integral do lucro, com a inflação como piso. Contudo, Barroso insiste na remuneração da poupança.

Na visão de Barroso, a política habitacional não deve ser custeada pelos trabalhadores, e o Executivo deveria encontrar alternativas no Orçamento da União, especialmente para atender famílias de baixa renda. No entanto, há a preocupação de que não haja margem para isso, conforme relatado por um ministro do governo.

450 mil contratos para o Minha Casa, Minha Vida

Técnicos do Ministério das Cidades alegam que a mudança na correção das contas do FGTS pela poupança pode resultar em uma redução de 40% nos financiamentos, com aumento nas taxas de juros dos contratos. A meta para este ano é atingir 450 mil contratos do programa "Minha Casa, Minha Vida".

A revisão do FGTS chegou ao Supremo em 2014, após um estudo encomendado pelo partido Solidariedade e pela Força Sindical apontar perdas significativas para os trabalhadores. Na época, o levantamento indicou uma perda de 88,3% nos depósitos do FGTS de 1999 a 2013 com a correção da TR. O pedido busca substituir a taxa por um índice de inflação, argumentando que a TR não reflete o índice de preços, resultando em perdas para os trabalhadores.

Barroso, ao votar, sugere uma modificação na lei do FGTS, fixando como rendimento mínimo o equivalente à poupança. Ele indica que cabe ao Congresso e ao governo, em colaboração com entidades representativas dos trabalhadores, avaliar a possibilidade de recomposição retroativa dos depósitos do FGTS, considerando que "valores foram indevidamente apropriados pelo poder público em benefício da sociedade como um todo".

No entanto, o pagamento dessas perdas poderia criar um desafio para o FGTS e o próprio governo. A rentabilidade da poupança depende da taxa básica de juros definida pelo Banco Central. Se a Selic for menor ou igual a 8,5% ao ano, a poupança rende 70% da Selic mais TR. Se a Selic estiver acima de 8,5% ao ano, a poupança rende 6,17% ao ano mais a TR. Atualmente, a Selic está em 12,25% ao ano.

Para mais informações, acesse MeioNorte.com

Leia Mais


Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES