Bolsonaro acionou Forças Armadas para golpe, e Exército o repreendeu com prisão

Em reunião com as três esferas militares, o ex-presidente teve o apoio, de imediato, do comandante da Marinha

Mauro Cid e Jair Bolsonaro | Reprodução
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A recente delação do ex-tenente-coronel Mauro Cid trouxe à tona uma figura central que ilustra de forma vívida a cooptação política promovida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas Forças Armadas do Brasil. Trata-se do almirante Almir Garnier, que, ao ser nomeado para liderar a Marinha, nunca havia comandado nenhuma das duas principais esquadras da instituição, localizadas no Rio de Janeiro e na Bahia. Embora tenha passado pelo comando do Segundo Distrito Naval em Salvador, liderar uma das esquadras sempre foi uma espécie de pré-requisito informal, o qual ele não atendia.

No entanto, sua nomeação para o cargo de comando ocorreu sob a influência do presidente Bolsonaro, mesmo não estando no topo da lista de indicações. Para demonstrar sua lealdade ao governo, Garnier realizou um exercício extraordinário dos fuzileiros navais em Formosa, Goiás, em 2021. Mais tarde, em 2022, tornou-se conselheiro do ex-presidente, estando disponível para consultas frequentes em momentos críticos. Sua ascensão na hierarquia militar surpreendeu até mesmo a ele mesmo.

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Em uma noite memorável em 24 de novembro, durante uma reunião no Palácio do Alvorada com os comandantes das três Forças Armadas, Bolsonaro perguntou se eles estavam dispostos a apoiá-lo em uma possível contestação dos resultados eleitorais. Surpreendentemente, Garnier foi o único a responder afirmativamente de imediato. O brigadeiro Carlos Batista, da Aeronáutica, permaneceu em silêncio, enquanto o comandante do Exército, general Freire Gomes, confrontou o presidente, declarando que o Exército não apoiaria um golpe e chegando a dizer: "Se o senhor seguir adiante com isso, serei obrigado a prendê-lo".

É importante notar que as Forças Armadas não se opuseram ao golpe por falta de vontade, como sugeriu o então ministro da Defesa, José Múcio. A razão estava na impossibilidade de realizá-lo com sucesso. O general Freire Gomes sabia que os comandantes regionais não apoiariam a empreitada, e havia também a clara falta de apoio dos Estados Unidos, tanto civil quanto militar, como demonstrado por seis comitivas que visitaram o Brasil em 2022 com o objetivo de dissuadir qualquer intento golpista.

Algum tempo depois dessa reunião, um amigo de Garnier o encontrou em uma sala da Marinha, vestido casualmente, com barba por fazer e sem vontade de participar da cerimônia de transmissão de cargo. Esse amigo contatou o ministro José Múcio, que havia sido escolhido pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para assumir a pasta da Defesa, e relatou o que havia testemunhado.

Novo almirante

José Múcio convidou Garnier para um almoço na companhia do novo almirante, Marcos Olsen, e tentou persuadi-lo a participar da cerimônia de transmissão de cargo, argumentando que isso seria benéfico para a Marinha, o novo comandante e o próprio Garnier. No entanto, Garnier entregou uma carta explicando suas razões para não comparecer e recusou o convite.

A partir desse momento, Garnier enfrentou problemas de saúde e pediu a amigos que lhe indicassem um advogado. Caso a delação do coronel Cid seja confirmada, o almirante pode ser enquadrado em pelo menos dois crimes: abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado. A Justiça Militar poderia até mesmo retirar sua patente, embora qualquer recurso financeiro recebido como almirante da reserva possa ser destinado à sua esposa.

Enquanto a delação do coronel Cid pareceu direcionar seus holofotes a Garnier, vale a pena mencionar outro almirante quatro estrelas, Flavio Rocha, que ocupava um cargo de assessor direto no Palácio do Planalto sob o governo Bolsonaro, como titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Após o término do governo Bolsonaro, Rocha foi reintegrado ao Alto Comando da Marinha, mas até o momento não respondeu às tentativas de contato feitas por jornalistas.

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